Crítica: The Flash

Enfim chegou o filme solo do Flash. Anos depois da criação do universo DC nas telonas, chega aos cinemas uma aventura para chamar de sua do ligeirinho super-herói. Muitas críticas iniciais diziam que era o melhor filme de super-herói em muito tempo, outras que falha em arcos narrativos, algumas reclamaram do CGI. Como trato filmes de super-heróis como filmes de fantasia e apenas isso, deixarei minhas impressões nas próximas linhas sobre The Flash (Idem, 2023), de Andy Muschietti, estreia badalada nessa quinta nos cinemas.

A trama se passa na era Liga da Justiça e Barry Allen tem que se desdobrar como Flash salvando hospitais em queda livre, bebês despencando e terroristas roubando vírus mortais. Um dia calmo para a Liga da Justiça. Mas Barry ainda tem que lutar com seus traumas pessoais, pois nunca superou a ideia de a mãe ter sido assassinada e seu pai injustamente ter sido acusado, isso quando ele era criança. Na véspera do julgamento do pai, ele resolve chutar o balde e usar seus poderes para voltar no tempo e impedir o assassinato de sua mãe. Só que ele parece não ter visto De Volta para o Futuro, pois não sabe que mudar o passado cria outra realidade e o mundo ao qual volta, mesmo com a mãe viva e o pai solto, não é nada pacífico. Portanto, precisa ajudar ele mesmo alguns anos mais jovem, vivendo feliz com os pais, a assumir ser o Flash, além de não poder contar com a Liga da Justiça, que não existe nesse plano, apenas um decadente Batman e uma prima de um Super Man que nunca existiu podem ajudar Barry (os dois) a enfrentar a fúria do General Zod, que quer destruir a Terra (pela enésima vez…).

Polêmicas à parte e, tirando o excesso de expectativa no lançamento do filme, posso afirmar com autoridade que The Flash é uma grande diversão. O diretor Andy Muschietti nos apresenta nas telonas, com roteiro de Christina Hodson, que faz uma adaptação de uma bela trama dos quadrinhos inspirada no HQ Flashpoint, onde o Flash tenta mudar seu passado, com algumas claras adaptações, muita nostalgia e referências do passado, humor na medida certa e aqueles dramas sem graça da DC. Sim, o filme ainda abusa desses clichês traumáticos dos personagens, que preferem mudar a sua realidade a consultar um bom terapeuta. Mas, no geral, o filme engata muito bem. A cena inicial, em que Flash tem que salvar uma ala de um hospital onde tem uma maternidade, é de tirar o fôlego. Muito bem executada, já dá um cartão de visitas do que o filme irá nos oferecer.

E Barry Allen é um personagem divertido, atrapalhado e bem humano para ser super-herói, e nisso o filme desenvolve bem. Claro que a trama não foge dos tais multiversos, dimensões, fios rompidos e diversas realidades, aquela chatice de sempre, que parece ser a tônica do cinema moderno, a qual até o Oscar se rendeu. Mas no caso do Flash, está mais para De Volta para o Futuro, suas andanças, mudanças temporais e consequências delas, do que inúmeras dimensões sem sentido que o cinema de heróis moderno nos apresenta. Resumindo, segue um caminho mais óbvio e de fácil compreensão até para o leigo.

O polêmico Ezra Miller, cheio de problemas na sua vida pessoal, além de me provocar arrepios só de ver sua cara desde que interpretou o cruel Kevin, no apavorante, mas essencial, Precisamos Falar Sobre Kevin, está muito bem na pele do Barry Allen. Personagem ao mesmo tempo divertido, apesar de abalado psicologicamente, com seu drama pessoal, o ator nos apresenta um bom Flash, tendo que contracenar com ele mesmo em outra dimensão, sabendo dosar bem sua característica humana e agradável com o super-herói veloz e corajoso. Dá conta do recado e segura bem as 2h30min do longa (que em menos de duas poderia estar liquidado, né?). Michael Keaton, de volta como Batman, faz caras como eu vibrar. Só quem viveu o fim dos anos 1980 e o quanto os dois primeiros Batman marcaram sabe a grandiosidade do ator. E o melhor, ele larga aquela carapuça robótica da época e hoje, um consagrado nome do cinema, está leve demais conduzindo o arco da trama com excelência. Sasha Calle, como Supergirl, é um exemplo de como um personagem pode ser mal trabalhado. A atriz se esmera, mas a história explora muito pouco a nova heroína (nesse universo), muito mal aproveitada na trama, ofuscada por Ezra e Keaton. Uma lástima que pode ser corrigida em outros filmes.

No quesito ação, fora a já citada cena inicial que é apresentada de maneira incrível, temos grandes lutas, uma batalha final com o exército de Zod e companhia, que tem tomadas ótimas, tanto aéreas como de profundidade. As viagens temporais são muito bem recriadas, como as pausas dos humanos devido à velocidade do Flash, tudo muito bem desenvolvido. Claro, temos aqueles momentos sombrios da DC, na parte em que resgatam a Supergirl, que de tão escuro e monótono, devido à fotografia e falta de definição, provoca um sono básico. Mas, dentro do possível, os efeitos são de qualidade, apesar de que muitos chatos de plantão vão alegar que parecem cenas de games de Playstation ou coloridas demais, enfim, dentro do que propôs, os efeitos convencem e aos meus olhos agradaram. A parte séria da trama se perde em rasa profundidade, nunca convencendo direito, às vezes se apegando a pieguices, outras vezes à clichês de superação mais batidos que caipirinha na beira da praia. Enfim, como sempre cito: é um filme de super-herói, não precisamos pensar demais, por mais que tentem dar esse ar de obra-prima a produções do tipo.

Como veredito final, The Flash cumpre muito bem a que serve, uma diversão de primeira, com efeitos agradáveis e bem desenvolvidos, fugindo um pouco do frenetismo de algumas produções do gênero. Uma história que pode confundir um pouco, mas nada que possa embaralhar quem já assistiu De Volta para o Futuro 2, por exemplo (aliás, tem referências hilárias sobre o filme), um herói divertido que conduz bem a trama, com uma boa atuação de Ezra, um Michael Keaton esbanjando graça e talento, num exercício de nostalgia, e ainda temos de lambuja grandes surpresas no final do filme, umas emocionantes e outras hilariantes. Diversão e humor têm bastante, se reclamavam tanto que os filmes da DC eram uma chatice e exploravam demais o tom sério do “problema” de ser um super-herói, ao menos com The Flash, se rende e vê que filmes de super-heróis são apenas filmes de super-heróis, um passatempo visual e bem-humorado que merecer ser conferido.

 

Mais do NoSet