Crítica: Tempo (Old, 2021)

E se nossas vidas inteiras fossem resumidas em apenas algumas horas. Se todo um ciclo vital de crescimento, infância, adolescência e envelhecimento acontecesse em apenas um dia. O que faríamos se virássemos literalmente pó em questões de horas, que representariam anos e décadas nos nossos corpos? Esse incrível e assustador quadro é o mote do novo e aguardado filme de M. Night Shyamalan, Tempo (Old, 2021) que estreia nos cinemas nessa semana.

Um casal e seus dois filhos resolvem aproveitar uns dias de férias em um resort na América Central. O paradisíaco lugar parece o local perfeito para a família se reunir e desopilar. Até que eles são convidados juntamente com outros hóspedes para passar o dia numa isolada e linda praia. Só que o que parecia ser um belo dia de sol e diversão acaba se tornando um pesadelo porque, misteriosamente, todos que estão naquele local começam a envelhecer abruptamente em questão de horas e é apenas questão de tempo para perderem suas vidas.

Que M. Night Shyamalan é um diretor surpreendente ninguém pode negar. Ele pode nos apresentar desde grandes filmes como O Sexto Sentido, Corpo Fechado, Fragmentado e Sinais, mas também nos proporciona grandes decepções como A Dama na Água, Vidro e Fim dos Tempos. Enfim, sempre nos surpreende, tanto pelos acertos como pelos deslizes. Mas assistir a um filme dele sempre gera uma expectativa de um cara que no início da carreira já foi apontado como o novo Alfred Hitchcock. Tempo é M. Night mais uma vez dirigindo, produzindo e escrevendo o roteiro (dessa vez adaptando uma graphic novel, Sandcastle, de Pierre Oscar Levy e Frederik Peeters) e até atuando, um filme todo seu. E dessa vez ele acerta muito mais que erra. A história fantástica da enseada misteriosa que envelhece seus visitantes é perturbadora. E esse clima é muito bem construído em um ritmo angustiante mostrando a cada momento as incríveis mudanças nos corpos dos pobres confinados a esse martírio. O diretor não poupa bons efeitos para fazer essas mudanças constantes, pois é quase piscar os olhos e praticamente tudo acaba mudando. O mais incrível mesmo são as crianças, é arrepiante a ideia de elas, em apenas algumas horas, passarem da tenra infância para se tornarem adultos de meia idade e sem nada que possam fazer para evitar. O trabalho de câmeras perfeitos e ousados tempera esse clima todo quase claustrofóbico, já que ninguém consegue sair do local. Prisão forçada que acaba provocando conflitos intensos entre os companheiros da praia muito bem conduzidos pelo roteiro, com diálogos fortes e de extrema tensão.

Tempo tem todos os grandes clichês do diretor: um local misterioso, elementos sobrenaturais, conflitos pessoais e uma reviravolta. Sim, aí que o filme, a meu ver, perdeu o rumo, que por sorte, é só no finalzinho. Claro que não serei eu que direi que reviravolta aconteceu, mas ela é mal resolvida, preguiçosa e dispensável. O filme poderia acabar na praia, mas ele tem um final, sem dar muito spoiler, a la Scooby Doo e seus garotos xeretas, só faltando ter um parque de diversões para o dono ser o vilão, enfim, todo aquele ritmo desconcertante acaba tendo seu clímax murchado pelo desfecho. O time de atores está bem colocado na trama, mas não destaco individualmente nenhuma atuação. Gael García Bernal, como Guy Cappa, não se destaca, trabalha quase em piloto automático, sem brilho; Rufus Sewell como o perturbado médico, é muito caricato como o esquizofrênico Charles; Vicky Krieps, como a esposa de Guy, Prisca, talvez é a que melhor trabalhe no filme, enfrentando tanto seu drama pessoal, o familiar com as crianças e seu casamento e a situação bizarra que enfrentam. Mas o filme realmente não é de atores, e sim do que acontece com eles e como as inevitáveis transformações e senso de finitude acabam mudando suas vidas.

Tempo pode não entrar no rol das obras primas de M. Night, mas vale pela brilhante história, que lembra um pouco aqueles clássicos esquetes de Além da Imaginação ou Histórias Extraordinárias, muito bem conduzida e requentada pelo melhor do diretor, com eletrizante suspense, efeitos visuais, sobrenatural, sustos e imprevisibilidade. Infelizmente peca um pouco nas preguiçosas e insonsas atuações e no forçado e fraco desfecho, mas com certeza já pode ser considerado um dos melhores trilhers do diretor em muitos anos. Aliás, como o clássico Tubarão, fez muita gente ter medo de entrar no mar, talvez Tempo até nos faça ficar com receio de explorar alguns lugares paradisíacos com o medo de nos tornarmos avós em questão de horas…

O visionário cineasta M. Night Shyamalan revela um novo thriller misterioso e arrepiante sobre uma família em um feriado tropical que descobre que a praia isolada onde eles estão relaxando por algumas horas está de alguma forma os fazendo envelhecer rapidamente… reduzindo suas vidas inteiras em um único dia.

O filme é estrelado por um elenco internacional impressionante, incluindo o vencedor do Globo de Ouro Gael García Bernal (Mozart in the Jungle da Amazon), Vicky Krieps (Trama Fantasma), Rufus Sewell (The Man in the High Castle da Amazon), Ken Leung (Star Wars: Episódio VII— O Despertar da Força), Nikki Amuka-Bird (O Destino de Júpiter), Abbey Lee (Lovecraft Country da HBO), Aaron Pierre (Krypton da Syfy), Alex Wolff (Hereditário), Embeth Davidtz (Millennium: Os Homens que Não Amavam as Mulheres), Eliza Scanlen (Adoráveis Mulheres), Emun Elliott (Star Wars: Episódio VII – O Despertar da Força), Kathleen Chalfant (The Affair da Showtime) e Thomasin McKenzie (Jojo Rabbit).

Tempo é uma produção da Blinding Edge Pictures, dirigida e produzida por M. Night Shyamalan, a partir de seu roteiro baseado na história em quadrinhos Castelo de Areia de Pierre Oscar Lévy e Frederik Peeters. O filme também foi produzido por Ashwin Rajan (Vidro, Servant da Apple TV) e Marc Bienstock (Vidro, Fragmentado). O produtor executivo do filme é Steven Schneider.

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