Crítica: Tartarugas Ninja – Caos Mutante

Houve um tempo em que quatro tartarugas mutantes, especializadas em artes marciais, moravam nos esgotos e tinham como mestre um rato, também com suas moléculas modificadas. Enfrentavam perigos em Nova York e adoravam pizza. E uma vez posaram para uma foto com o presidente Fernando Collor de Mello (pena que não nos livraram antes desse malvado inimigo, mas como o Collor manjava de artes marciais, vai que seria um bom embate). Esses turbinados cascudos são as Tartarugas Ninja. Mega sucesso dos anos 1990, gerando desenhos, games, lancheiras, cadernos e alguns filmes de gosto duvidoso, mas que fizeram a cabeça da não tão mala molecada da década. E com um projeto que tem como mentores o onipresente Seth Rogen na produção e Jeff Rowe na direção, estreia nessas semanas a nova adaptação dos quelônios para os cinemas, a animação Tartarugas Ninja – Caos Mutante (Teenage Mutant Ninja Turtles – Mutant Mayhem, 2023).

Desde cedo somos apresentados a fatos de 15 anos atrás, quando um cientista fazia experiências com substâncias que provocavam mutações em animais, o exército de uma corporação o deteve, mas sem antes causar um estrago. Algumas dessas substâncias provocaram mutações genéticas em alguns animais, dentre elas um rato, chamado Splinter e em quatro filhotes de tartarugas. Splinter então passa a ser um meio humano meio rato, que sofre com o medo e preconceito dos homens, e um dia adota as tais tartarugas e os trata como se fossem filhos. Os cascudos crescem e aprendem artes marciais e devido a conselhos do pai, o Senhor Splinter, morrem de medo dos humanos, que segundo a ratazana, são o mal na Terra. Mas acontece que um super vilão mutante também surge, o Super Mosca, que com seu exército mutante de mais variadas criaturas, toca o terror em Nova York. E enquanto isso, os adolescentes tartarugas se juntam a uma estudante aspirante a repórter chamada April, que respeita os verdinhos e juntos querem acabar com o Moscão e assim conseguir sair dos esgotos e ganhar respeito dos humanos. Também têm que enfrentar Cynthia Utrom, chefona de uma organização que fazia experiências mutantes.

Simpática animação de um ícone dos anos 1990. Rafael, Leonardo, Donatello e Michelangelo, crias dos cartunistas Kevin Eastman e Peter Laird, têm uma digna adaptação para as telonas, que tem como mérito poder agradar tanto crianças quanto os nostálgicos adultos. Com um traço agradável, colorido, marcante, grafitado e com um ar noventista de cartoon, a experiência visual é extremamente agradável. Claro que estamos longe da qualidade de um Homem Aranha no Aranhaverso que inflacionou o nível das adaptações, mas o trabalho de animação funciona bem. O roteiro de Brendan O’Brien é a cereja do bolo do filme. Uma história sem firulas, curta e grossa, com piadas típicas de Seth Rogen só que com censura livre, referências aos anos 1990, com uma Nova York suja, violenta, onde os becos, latas de lixo e esgotos são referências, piadas ao 4 Non Blondes, filmes de luta de Hong Kong e a Ferris Bueller.

E, além de tudo, o filme tem como mensagens a luta por aceitação, preconceito com o diferente e o senso de equipe. Os quatro irmãos de personalidades totalmente diferentes precisam literalmente sair da casca de hiper proteção do pai, que sempre colocou medo neles e partir com tudo para terem uma vida independente, por mais que isso deixe o Senhor Splinter apavorado, mas ainda assim sente a necessidade dessa ruptura. Em suma, é um filme de busca por liberdade e vencer as inseguranças da vida. Tudo isso misturando um quarteto de tartarugas ases em ninjutsu que só gostariam de estudar em uma escola como qualquer adolescente, um ratão como mentor, uma cidade decadente, um bando de vilões mutantes esquisitos, um super vilão que odeia humanos e quer o fim deles e uma humana que só pensa na sua empresa e quer ir contra ambos. Enfim, uma aventura suave, com uma mensagem edificante, humor, música boa, oriundos da mente de Seth Rogen e seu escudeiro Evan Goldberg, dois amantes das Tartarugas.

Tartarugas Ninja – Caos Mutante é pedida certa, programa para todas as idades, desde a molecada que vai conhecer as simpáticas criaturas, aos eternos jovens que cresceram vendo o desenho e as esquisitas adaptações da época. E acho que se depender de Seth e Goldberg, teremos uma boa franquia por aí e, se fizer sucesso, a única certeza é que não teremos mais encontros inusitados de Collor de Mello e os quatro irmãos verdes adolescentes.

 

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