Crítica: Pluft – O Fantasminha

Quando, em 1955, Maria Clara Machado escreveu a peça infantil Pluft – O Fantasminha, talvez jamais passasse na cabeça da autora, uma das fundadoras do Teatro Tablado no Rio de Janeiro, que passados mais de 65 anos a bela fábula da menina Maribel, que é sequestrada por um Pirata da Perna de Pau, ainda fizesse sucesso hoje em dia. Com diversos prêmios, montagens teatrais, adaptações para TV e cinema, em 2022, chega aos cinemas mais um filme sobre a atemporal história, com destaque por ser o primeiro filme infantil brasileiro em 3D, com direção de Rosane Svartman, estreia essa semana nos cinemas, pegando as férias escolares, Pluft – O Fantasminha (2022).

A trama já é conhecida: a menina Maribel, neta do falecido capitão Bonança Arco Íris, que segundo a lenda deixou um tesouro, é sequestrada pelo Pirata da Perna de Pau, que está em busca dessa perdida fortuna e conta com o auxílio forçado da menina para achá-lo. Os dois vão até a casa abandonada do avô dela, e lá são surpreendidos por Pluft e sua mãe, dois fantasmas que habitam a casa e por ironia, Pluft morre de medo de gente. Enquanto isso, um trio de atrapalhados marujos, amigos do Capitão, Sebastião, João e Julião, partem em busca de salvar a menina das mãos do pirata.

Simpática adaptação de um clássico teatral infantil brasileiro. Rosane mantém a inocência da história mesmo em tempos tão frenéticos como hoje em dia e nos apresenta um belo espetáculo que terá como público-alvo crianças de 5 a 9 anos. Com uma notável fotografia, como cenário o belo litoral do Rio Grande do Norte, o filme tem caprichados efeitos visuais, principalmente nas aparições dos fantasmas, produção feita com esmero, com tomadas em piscinas dando efeitos verossímeis nos ectoplasmas, além uma direção de arte belíssima. O roteiro segue o padrão clássico da peça, com uma historinha que os pais podem levar os filhos sem medo (a não ser que eles ou os pais tenham medo de fantasmas), que terão uma hora e meia de diversão pura e cativante sobre como o afeto e a amizade podem vencer os medos. Mas, como cinema, cansa o estilo extremamente teatral das interpretações e tomadas de cena. E tirando os efeitos especiais, que como o 3D, deixam o filme mais belo, pouco acrescenta à adaptação, pois é quase uma peça filmada, com recursos visuais de tela. O que torna meio enfadonho às vezes.

O menino Nicolas Cruz, como Pluftt, e Lola Belli, como Maribel, atuam bem e cumprem bem a responsabilidade de serem os protagonistas principais, principalmente Nicolas com a árdua missão de ser um fantasminha. Fabíula Nascimento, ótima atriz, talvez tenha a melhor atuação dos adultos na trama, mas usa e abusa do tom teatral na interpretação da mãe de Pluft. Juliano Cazarré, como o Pirata da Perna de Pau, está engessado no papel, em uma atuação sem graça, e o trio dos marujos interpretados por Arthur Aguiar, Lucas Salles e Hugo Germano é quase um pastiche dos trapalhões, só que com pouquíssimos momentos realmente cômicos e Arthur realmente mostra por que é melhor em reality shows do que atuando. Como destaque do filme podemos citar a bela trilha sonora assinada por Tim Rescala e agradáveis canções na voz de Simone Mazzer, Thais Belchior, Ariane Souza e destaque pra parceria de Roberto Frejat com o coral infantil da UFRJ, na música tema Pluft e Maribel.

Simplificando, Pluft – O Fantasminha é uma corajosa adaptação de um clássico da dramaturgia dos pequenos do Brasil, com uma produção caprichada, atuações um tanto quanto exageradamente teatrais, outras bem fracas, um roteiro retinho, sem grandes novidades, de uma história atemporal, mas difícil de agradar às crianças, que cada vez mais cedo são menos crianças, mas cumpre seu papel com um incrível visual e efeitos de primeira, uma experiência sensorial, graças aos efeitos 3D. Espero que faça os pais levarem as crianças no cinema e aproveitarem um pouco da ingenuidade e inocência com uma produção nacional de qualidade e com caro orçamento. Um leve e tranquilo divertimento, às vezes cansativo, mas feito com muito esmero e capricho.

 

Mais do NoSet