Pela Janela conta a história de Rosália, uma operária de 65 anos que dedicou a vida ao trabalho em um fábrica de reatores da periferia de São Paulo. Ela é demitida, e, deprimida, é consolada pelo irmão José, que resolve levá-la a Buenos Aires em uma viagem de carro. Na viagem, Rosália vê pela primeira vez um mundo desconhecido e distante de sua vida cotidiana, iniciando uma jornada de libertação e transformação interior. É primeiro longa da cineasta Caroline Leone, protagonizado por Magali Biff e Cacá Amaral.
O início do filme é bem arrastado. Acompanhamos a protagonista trabalhando, indo do trabalho para casa, lavando roupa, arrumando a casa, cozinhando (com direito a um close dramático na cebola), jantando, dormindo, acordando, se trocando, lavando a louça, fazendo o café, indo para o trabalho… uma conversa rápida aqui, uma cantoria acompanhando o rádio ali… e vão se passando quase 20 minutos em que vamos espiando a sua rotina. É como se você escolhesse uma pessoa comum e resolvesse se sentar e acompanhar pela janela toda a rotina daquela pessoa.
O filme dá a entender que Rosália é muito competente em seu trabalho na fábrica como chefe de produção, atuando em praticamente todas as funções na montagem dos equipamentos, e que aparentemente não se casou nem teve filhos, então a vida dela se resume ao trabalho e a sua casa. Mas é uma senhora “de idade”, e mesmo os 30 anos de dedicação ao serviço não são suficientes para que ela seja demitida para dar lugar a um homem mais jovem após a fábrica passar por um processo de fusão e readequação. Nada diferente da atual situação brasileira…
Seu irmão José resolve levá-la com ele a uma viagem de trabalho na Argentina, pra ela se distrair um pouco e sair daquele ambiente deprimente em que se encontra. E vamos para a estrada junto com eles! No trajeto, asfalto … pedágio … silêncio … rompido pelo som dos demais carros e caminhões. Mas se nos primeiros 20 minutos acompanhamos o silêncio de uma vida automática, neste momento acompanhamos um outro tipo de silêncio, provocado pela tristeza, pela sensação de vazio, de perda daquilo que era a sua vida.
A chegada à Argentina começa a provocar em Rosália diferente sensações. Como conhecer as Cataratas do Iguaçu, uma das maravilhas da natureza. Particularmente, achei esse ponto de recomeço um acerto da diretora, pois – opinião pessoal – sou daqueles em que acredita que a água tem um enorme poder purificador, restaurador e energético. Estar de frente para as Cataratas, então, é como limpar a sua alma por completo.
E o filme segue, sutilmente, levando José e Rosália a conhecer novos lugares, novas pessoas, misturar novos hábitos aos seus habituais. E novamente o misto de sentimentos: se dar a oportunidade da alegria de conhecer o novo? Ou se fechar àquilo que parece tão efêmero, já que em algum momento será inevitável a volta para casa, para sua rotina, ou pior, para a falta dela frente a sua nova condição? Pela janela é um filme muito parado, lento e introspectivo, mas que ao fundo te passa uma mensagem de que, às vezes, é preciso algum acontecimento forte para te tirar da zona de conforto e te fazer ver que a vida pode ser mais do que você viveu até este momento. A cena final pode parecer batida e simples, como todo o filme, mas tem um certo detalhe em Rosália. Um detalhe de renascimento e de esperança.