Crítica: Papai é Pop

Costumo falar, com a experiência própria, que sendo pai, tomamos um 7 x 1 diário, mas cada noite podemos comemorar uma Copa do Mundo diferente. Enfim, ser pai, mãe ou criar um filho é uma montanha russa de emoções sem fim. Marcos Piangers, notório cara do rádio aqui do Rio Grande do Sul, mesmo não sendo gaúcho, ultimamente tem se destacado dando conselhos ou pílulas homeopáticas de como ser ou tentar ser um bom pai. Tem dado certo, escreve colunas, livros e dá palestras contando suas aventuras de paternidade, seus erros, acertos e histórias e tem um sucesso grande com suas peripécias humanas de como enfrentar uma paternidade, até para ele, um cara que mudou muito com o tempo, e hoje pode se considerar um exemplo do bem, além de ser até divertido. Logicamente que com um filão desses, o cinema brasileiro aproveitou o sucesso das histórias do Piangers, e essa quinta, dias antes do Dia dos Pais, estreia nos cinemas Papai é Pop, inspirado na sua obra, com direção de Caíto Ortiz.

Tomás de Aquino, ou melhor Tom, é um cara bem casado, tem uma profissão dos sonhos e uma mãe solo que supriu quase todas as suas necessidades de vida. Só que ele e sua esposa, a Dra. Elisa, sua companheira e advogada, ficam grávidos e estão esperando Laura. Quando a tão esperada criança chega, ele principalmente, vê o quanto sua vida muda completamente, e o quanto suas atitudes e responsabilidades tem que se adaptar à nova realidade. Com muito amor, situações hilárias e dramas do cotidiano, o casal faz de tudo para criar a menina, senão da melhor maneira, segundo os julgamentos de outros, a da mais possível, e além de criar um senso de paternidade incrível, Tom precisa compartilhar com o mundo esse sentimento tão lindo.

Enfim, chega aos cinemas a adaptação das histórias de Marcos Piangers, que conta suas peripécias de amor, barras e criação de suas duas filhas. Com direção de Caíto Ortiz e roteiro de Ricardo Hofstetter, Papai é Pop, apesar dos altos e baixos tem tudo para agradar ao público. Uma história divertida, muito bem filmada, com um roteiro redondinho, com grandes tons de humanidade, mas que em contrapartida, carrega demais nos exageros e dramalhões. A história de um pai imaturo, literalmente perdido e pouco participativo, mas que aos poucos vai desenvolvendo um senso de paternidade presente, abdicando às vezes dele mesmo para o melhor da filhota. A situação é contada de maneira correta na tela, mas carrega demais nos tons de dramaticidade, com uma trilha sonora com um pianinho especialmente gravado para provocar emoções baratas, mesmo sendo pai ou não, mas que tem tudo para fazer a plateia sair chorando do cinema. Claro que temos bons momentos de comédia e leveza no filme, que a meu ver podiam ser mais bem exploradas e serem a tônica, mas tudo é um pouco forçado demais e as situações dramáticas às vezes extrapolam e ao invés de provocar emoções verdadeiras, cansam. Se posso dizer se funciona ou não? Logicamente funciona, muitas cenas qualquer pai de primeira, segunda, terceira ou nenhuma viagem vai se identificar e entender o drama de Tom e os perrengues que um homem enfrenta por ser pai, ainda mais quando esse quer ser mais que um pai de selfie, e sim um pai de verdade, presente e essencial.

Lázaro Ramos faz o Tom. Lázaro está soltinho no papel, explorando seu lado cômico e divertindo e emocionando como o paizão, no início mais perdido que minhoca em pedreira, mas que aos poucos vai desabrochando e entendendo o que ser pai realmente representa, até porque seu personagem nunca teve um pai (talvez um dos momentos mais marcantes da película é quando ele encontra seu pai de verdade e talvez vendo aquele exemplo de nulidade, pode ter sido a virada no disjuntor de sua vida e nascer de um pai). Paola Oliveira também está ótima como a mãe desesperada, confusa, descabelada e perdida, mais mãe impossível, que precisa se desdobrar e fazer que seu companheiro entenda seu lado e juntos criem Laurinha. Mas Elisa Lucinda como Gladys, a mãe de Tom, é que tem a melhor atuação do filme, contornando tanto as molecagens do filho, como a insegurança da nora, com uma personagem forte, uma mulher e avó impecável. Leandro Ramos, como o amigo fanfarrão de Tom, o Júlio, dá seu ar cômico ao filme. Até o Piangers tem uma ponta num jogo de futebol dos amigos.

Papai é Pop tem como mérito ser uma comédia com ares de humanidade e verossimilhança de uma vida de casal enfrentando a chegada de um filho, num gênero tão mal explorado no Brasil, e através de um tema espinhoso e de extrema relevância como a paternidade, consegue com uma boa trama, atuações convincentes e um toque de humor, provocar um divertido entretenimento, mesmo abusando nas tintas melodramáticas, com algumas situações um pouco forçadas demais, chegando a saturar e uma trilha sonora pronta pra usar o a camisa como lenço. Mas se vale a pena assistir o filme, vale e muito, é uma produção nacional feita com esmero, com um roteiro delicado contando uma história universal, de pais querendo aprender a ser pais, e como todo bom pai (ao menos na minha ótica, que na dos outros, sempre falta alguma coisa) vemos que esse treinamento é diário, mensal, anual…  enfim, ser pai é um aprendizado para a vida toda.

 

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