Crítica: Os Croods 2 – Uma Nova Era

Como falar sobre o amanhã? Na música popular brasileira ao menos dois hinos tentam entender os mistérios sobre o que reserva o futuro. No samba O Amanhã, que fez sucesso no desfile da escola de samba da União da Ilha no carnaval de 1978 e se popularizou no Brasil com a voz de Simone, os poetas e compositores, Paulo Amargoso e Mestre Didi, questionavam o futuro perguntando quem poderia responder sobre ele, mas mesmo preocupados, deixavam o destino nas misteriosas mãos de Deus. Já Guilherme Arantes, no seu clássico Amanhã, se enchia de certeza e otimismo, prevendo que ele seria lindo e de uma apoteótica alegria. Já o adolescente da pré-história Guy, também tinha esperanças de seguir e encontrar o amanhã, que no seu caso, seria um local de tranquilidade e segurança em uma era tão inóspita como no tempo das pedras. E em busca desse tão sonhado amanhã, Guy e a família mais divertida da idade da pedra, os Croods, estreiam nos cinemas (com bastante atraso devido à pandemia de coronavírus) nesta semana, Os Croods 2 – uma Nova Era (The Croods: a New Age, 2020), animação dirigida por Joel Crawford.

Nessa continuação, a família Crood e o garoto Guy, depois de terem coragem e abandonarem a escuridão e os riscos das cavernas, se deparam com um local que é um verdadeiro paraíso. Uma fortaleza exuberante, natural e evoluída, onde vivem os Bem-Melhores, uma família alto astral que resolve acolher a selvagem família. Os anfitriões eram conhecidos da família de Guy e tem uma filha, e fazem votos para o rapaz ficar com a menina. As diferenças entre os dois clãs familiares são enormes e o convívio entre eles é bem complicado, mas isso é fichinha perto da enorme ameaça que fará todos eles se unirem numa aventura e tanto.

The Croods, o primeiro filme, animação da Dreamworks e distribuída pela Universal, foi uma das gratíssimas surpresas do ano de 2013, chegando a concorrer como melhor animação pelo Oscar. A estúpida, mas encantadora e unida família Crood, no seu primeiro filme, passava uma mensagem clara de que, para evoluirmos, temos que sair da zona de conforto. O filme fez uma bela bilheteria e obviamente iria pintar uma continuação. Sete anos depois, agora sobre a batuta na direção de Joel Crawford, ela surge melhorando o que já era muito bom no primeiro filme. Com imagens deslumbrantes, uma fauna diversa de criaturas fantásticas, cores vivas e uma fotografia vivíssima, o filme tem tudo para encantar todas as idades com uma animação primorosa.

O roteiro escrito a oito mãos mostra uma bela evolução dos personagens, todos eles têm mais participação na trama, com destaque para a jovem Eep, que se descobre mais madura e independente, desafiando mais as certezas do patriarca Grug. Desde o menino Thunk, Sandy, a irmãzinha e tanto a vovó Gran também tem mais destaques na trama. Um ponto negativo é que Guy, que rouba o primeiro filme, nesse é mais escanteado na trama e se resume a um tolinho apaixonado, apesar de não perder seu carisma e bom humor. Os Bem-Melhores estão ótimos, como o protótipo da família do “bem”, com uma aura neo-hippie (na pré-história…), querendo acolher, mas não conseguindo disfarçar a arrogância o e ar de superioridade sobre os, às vezes, toscos Croods. O embate entre as diferenças dos clãs é mostrado de forma muito inteligente com excelentes e sutis piadas dando um tom mais leve à história do que no primeiro filme. Mas aventura também não falta. A parte final é uma homenagem a grandes filmes épicos do gênero e quase uma ode ao Indiana Jones e o Templo da Perdição. Outro mérito do filme é fugir do clichê de triângulo amoroso que poderia ter entre Eep, Guy e Aurora. O que poderia ser uma briga entre as duas por Guy, se transforma numa marcante amizade entre as meninas. Aliás, o filme é delas, das mulheres. Elas conduzem as cenas de ação e são o fio condutor da trama, além de protagonizarem uma hilariante e poderosa cena final de resgate. Enfim, elas já estavam milhares de anos à frente do seu tempo.

Os Croods 2 – uma Nova Era é uma brilhante animação, onde mostra um embate de diferenças culturais e de costumes, amadurecimento pessoal e familiar com muita cor, estranhos animais, uma trilha sonora no ponto certo, muita aventura sem o frenetismo de produções recentes, mas que não decepciona, além de um humor inteligente para agradar toda a família. É a prova que o que será do amanhã que Guy e os Croods tanto procuram é mais ou menos como as duas canções citadas no início, uma imensa interrogação, mas que também pode se transformar num lindo dia, basta tentar, ceder e evoluir.

 

 

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