Crítica: Os Aventureiros – A Origem

O Luccas Netto é o típico exemplo de personalidade que convenhamos, temos todo o direito de ignorar, mas não podemos tirar nada do mérito de sua carreira. Começando na sombra do irmão (Felippe Netto) com seus programas de YouTube com conteúdo voltado para as crianças, hoje pode-se dizer que tem um dos canais mais visualizados do Brasil e faz sucesso em vários países de língua portuguesa. Mas mais que um youtuber, hoje ele é uma marca que vende bonecos, livros, jogos, lancheiras e qualquer bugiganga que exponha sua cara. Faz shows em auditórios lotados pelo país inteiro e já tem diversos filmes lançados na internet ou em parceria com canais de streamings. Faltava uma grande empreitada nas telonas e como o rapaz não perde tempo, essa semana estreia Os Aventureiros – A Origem (2023), com direção de André Pellenz.

Luccas, sua irmã Gi, seus amigos Vitória e Pedro (os gêmeos) e Jessi começam o filme em uma visita da escola a um Instituto de Pesquisa Científica. Luccas, como sempre demonstrando pouco interesse pelo conteúdo escolar, está mais interessado na sua colega Jessi e, juntos, acabam indo para uma sala que está interditada desde que um cientista sumiu ao fazer experimentos por lá. Mas Gi e os irmãos gêmeos acabam indo para lá também e a turma ativa sem querer uma engenhoca que os transporta para uma outra dimensão, mais precisamente para a Cidade da Alegria. Uma cidade semelhante à Terra, mas eles sabem que estão presos por lá e descobrem que o pesquisador sumido Honório Flacksman também. Ao encontrarem o cientista, ele explica que precisam de um combustível especial para acionar a máquina e fazê-los voltar a sua dimensão. Essa energia se encontra nas pedras do poder, para isso contam com a ajuda de Megan, uma cientista local que tem o mapa de como chegar ao encontro delas. Para isso precisam adentrar uma floresta, vencer armadilhas, perigos e enfrentar a própria Megan, na verdade uma vilã, que apenas usa a patota para conseguir as pedras, já que ela tem planos de vingança e poder contra a cidade e precisa de Luccas e sua turma, já que eles são supostamente os “escolhidos” ou os únicos que podem achar os artefatos do poder.

Às vezes fazer uma crítica de um filme tão banal é mais difícil que de um, digamos, “cabeça” ou profundo e tamanha a superficialidade de Os Aventureiros – A Origem que fica complexo demais usar palavras pra definir o filme, que pouco parece um filme e sim um esquete longo de youtube com cara de produção televisiva da Globo. Mas o experiente Pellenz (dirigiu  Minha Mãe é uma Peça e Detetives do Prédio Azul) apresenta sem rodeios o que os fãs de Luccas querem: uma história simples, com efeitos modestos e até  interessantes, quase que um filme pra TV, e um roteiro que tenta mostrar a origem dos poderes dos Aventureiros, um dos quadros mais famosos de Luccas Netto. Na essência, o filme contém um monte de referências como A Caverna do Dragão, Power Rangers, Malhação, teatro infantil popular, multiversos e dimensões, aventuras medievais, e Luccas Netto, uma mistura de Didi Mocó com Ronald Golias quando fazia papel de aluno escolar. Chega a ser engraçado, mesmo tendo, no caso dele, mais de 30 anos, fazendo o papel de um  abestalhado adolescente. O roteiro é do próprio Luccas e Leandro Muniz apenas transporta as suas aventuras do YouTube para as telas grandes, sem um pingo de novidade, pouco humor e nada de ousadia, mas também em time que está ganhando não se mexe, não é?

O filme é aquele show de péssimas atuações, começando pelo próprio Luccas, que tem seu carisma que conquista a molecada, com um nível de atuação de peça escolar com crianças de 8 anos atuando, mas enfim, ele faz sucesso. O resto da turma, Giovanna Alparonne, Beatriz Couto, João Pessanha e Carol Alvez, os aventureiros, também não fogem à regra e nenhum se destaca. Juliana Didone como a vilã Megan, por mais que tente dar um ar de seriedade à malévola personagem, provoca sim gargalhadas com sua atuação de plástico. Uma nota negativa do filme é a ausência de músicas. Se o filme tivesse utilizado algumas canções grudentas como o Luccas faz em seus quadros de internet, poderia  ter dado uma incrementada legal na história, um lapso na produção que pode prejudicar o filme.

Em suma, Os Aventureiros – A Origem é apenas mais um quadro do Luccas Netto, dessa vez nas telonas e com uma hora e meia de duração. Vai agradar muito a criançada, causará cansaço nos papais que serão obrigados a levar seus filhos nas sessões nas férias de julho que se aproximam, mas nada muito diferente do que acontecia  nos nostálgicos anos 1980 (que hoje são lembrados com carinho), quando a molecada se grudava nos filmes da Xuxa e dos Trapalhões, alguns pavorosos e de roteiros tão esdrúxulos quanto os do Luccas, mas que parece que pra minha geração se tornaram vacas sagradas intocáveis. Enfim, a realidade é essa e Luccas Netto, com seu feijão e arroz básico, seu uniforme azul com uma foca no meio e seu humor que não faz rir, representa o que a gurizada de hoje consome, o produto Luccas Netto é seu  exemplo perfeito e seu filme tem tudo para fazer muita bilheteria.

 

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