Crítica – Operação Vingança

Uma coisa que sempre tenho em mente quando clamamos por vingança, ou aquelas pessoas que acreditam no olho por olho, dente por dente, é aquela pergunta básica: quem seria o carrasco? Matar, mesmo com raiva e sede de revide para quem não é assassino é muito difícil, característica que, felizmente para 99 por cento da população predomina. Tendo como pano de fundo uma elaborada vendeta para amenizar a dor da perda da esposa assassinada, o diretor James Hawes nos apresenta Operação Vingança (The Amateur, 2025), um dos lançamentos mais aguardados da semana nas telonas.
Charles Heller é um criptógrafo da CIA, gênio de sistemas de seguranças, que nas horas vagas tenta montar aviões e sabe fazer bombas. Sua mulher, Sarah, reclama do marido, que trabalha demais e nunca a acompanha em suas viagens de trabalho. Um dia, ela vai a Londres, e num atentado terrorista em um hotel, acaba sendo assassinada a sangue frio por um dos criminosos. Charles se desespera, acaba investigando por conta própria e descobre quem são os quatro envolvidos. Ao apresentá-los aos seus superiores, eles tiram onda dele, dizendo que não é tão fácil caçar os terroristas. Nosso criptógrafo também descobre as falcatruas da CIA em ações que resultaram em mortes de inocentes e os chantageia, dizendo que vai caguetar a todos, se não o treinarem, um pacato nerd, para caçar os meliantes. Ele acaba sendo treinado por Henderson, um agente durão que não acredita que Charlie tenha coragem de matar, então nosso mocinho se manda e parte sozinho para a Europa para acabar um a um com os assassinos de sua amada.

O livro Amateur, de 1981, de Robert Littell, já tinha gerado um bom filme no mesmo ano chamado O Amador, com John Savage, em que a guerra fria e a cortina de ferro eram o pano de fundo da trama. James Hawes adapta a história para os dias de hoje, em que sistemas de segurança, câmeras com nitidez incrível, microfones com super captação e celulares podem rastrear com facilidade praticamente qualquer cidadão. Tendo esse aparato e tecnologia de ponta como recursos da construção da cega perseguição de Charlie aos assassinos, e da própria CIA, que o vê como um inimigo, temos um jogo de caça de gato e rato em diverso países da Europa como Espanha, França, Turquia e Rússia, ao melhor estilo 007, só que sem o glamour e destreza física do agente inglês. Charles é apenas imbuído de uma sede incontrolável de vingança para chegar ao seu intuito. Filmes com personagens tranquilos que despertaram para o ódio nunca foi novidade no cinema. Charles Bronson só começou a matar e ter o seu desejo depois que bandidos mataram sua esposa em Desejo de Matar (1974), no Brasil temos o filme Ódio (1977), de Carlos Mossy, em que um advogado idealista, depois de ver sua família ser destruída por invasores, resolve caçá-los. E em vinganças das boas, como não esquecer Dr. Phibes, em O Abominável Dr. Phibes (1971), que depois de sua esposa falecer por suposta negligência médica, acaba se vingando da equipe do hospital com criativas mortes.

No caso, Charles, por não conseguir aflorar sua violência, acaba usando a criatividade e sua inteligência para bolar armadilhas mortais para os seus perseguidos. Mas mesmo com muitas explosões, tiroteios, perseguições, bons efeitos e uma mistura de Missão Impossível e infindáveis filmes de ação e espionagem, praticamente não vemos nada de novo front. Não que Operação Vingança não seja um bom entretenimento, ele funciona como bom passatempo, mas acaba criando situações um tanto absurdas, como um cara que por mais que saiba tudo de seguranca atrás de monitores e sistemas incríveis, da noite para o dia conseguir burlar toda a CIA, pipocando de país a país, construindo bombas e arapucas pros terroristas em quartos de hoteis baratos e apenas usando um notebook e um celular, fugir do rastro de todo mundo, e isso com uma frieza incrível e invejável, de um cara que passou a vida atrás de um computador, mas enfim isso é cinema…

Eu gosto muito do Rami Malek, acho um bom ator, sensível e honesto nas atuações e aqui ele não compromete, com pitadas de seu personagem em Mr. Robot (como o gênio da informática) e realmente nos transmite a emoção de um homem apaixonado que teve sua amada tirada de sua vida estupidamente, mas ficam arestas difíceis de entender, como aquele amável homem da noite pro dia virou um terrorista sedento por sangue? Laurence Fishburne, um tanto caricato demais, como Henderson, o oficial que treina Charles, mesmo sabendo ser impossível tornar um gênio dos sistemas num matador. Rachel Brosnahan que faz Sara, a esposa que morre no atentado, tem uma boa atuação, inclusive quando é apenas fantasma da mente do nosso heroi, quase como um anjo, protegendo nosso Freddie Mercury vingativo.

Mas mesmo com vilões da CIA caricatos, terroristas malvados, artefatos que fariam MacGyver ficar com inveja e muitas situações absurdas, Operação Vingança é uma boa pedida pra quem gosta de espionagem e ação, além de ilustrar bem um mundo que é um Big Brother da vida real, que com a tecnologia, somos expostos praticamente o tempo todo e de trabalhar com a questão ética de o quanto, mesmo com muita raiva e desejo de acabar com quem acabou com nossa felicidade, apertar um gatilho e tirar uma vida, por mais desprezível que ela seja, não é nada fácil para quem não tem cacoete de matar.
