Crítica: Morbius

Às vezes me pergunto qual a moral da Sony tentar explorar esse tal universo de vilões do Homem Aranha e fazer essas séries de filmes com bandidos de segundo escalão, e o pior, realizar filmes ruins. Obviamente que é o dinheiro que deve ser a resposta, porque mesmo com os dois abacaxis que foram os filmes do Venom, a resposta das bilheterias foi excelente e a grana voltou bem fácil. E motivados por esse sucesso, resolveram explorar um terceiro filme desse tal universo vilanesco do soltador de teias, dessa vez com um personagem mais obscuro. Nessa semana estreia nos cinemas, com direção de Daniel Espinosa, Morbius (idem, 2022).

Michael Morbius sofre desde a infância com uma doença sanguínea que debilita seu corpo, necessitando de constantes transfusões para se manter vivo. Graças ao seu incrível intelecto passa a vida estudando hematologia, ganhando inclusive um prêmio Nobel, além de ser responsável por experiências com sangue sintético. Enfim, é um verdadeiro gênio. Mas o que Morbius quer mesmo é achar uma cura para o seu mal e resolve fazer experiências com morcegos hematófagos, porque ali pode estar a saída de sua moléstia. É claro que as coisas não correm tão bem quanto ele imaginava e ao aplicar em si mesmo a substância que criou, ele acaba virando um ser humano com vigor atlético, capacidade de voar e outras cositas mais, também vira uma aberração, um morcego humano, que necessita de sangue para sobreviver. As coisas complicam quando um amigo de infância, com a mesma moléstia de Morbius, aparece e crimes vampirescos assombram as noites de Nova York.

Daniel Espinosa tem a espinhosa missão de adaptar aos cinemas a história de mais um personagem da segunda divisão do universo do Homem Aranha. E, infelizmente, não consegue convencer. Digamos que a história do Dr. Morbius, por mais desconhecida que seja para um leigo no universo dos gibis, é até interessante. Nos seus primeiros 30, 40 minutos de filme apresenta uma digna explanação da origem, com algumas boas cenas, como a carnificina no barco e as cenas no corredor do hospital. Mas depois disso o filme se perde totalmente. Tudo fica óbvio demais, confuso demais e sem sentido. O roteiro fraco de Matt Sazama e Burk Sharpless transforma o que poderia ser uma simples história bem construída em soluções fáceis e rápidas. E até pelo sombrio do personagem, fica difícil simpatizar com ele, diferente do Venom, que por mais tosco que parecia ser, tinha um bom humor peculiar, coisa que Dr. Morbius não tem. Até como filme de terror ou de vampiros ele não funciona muito, por mais que tenha uma trilha sonora adequada e forte, de Jon Ekstrand, dando certo clima ao filme e à escuridão de Nova York, o que menos vemos é sangue. E filme de vampiro sem sangue não deveria ser filme de vampiro, né?

Jared Leto, como sempre (com aquela exceção do Coringa), é um bom ator e dá uma boa interpretação ao sofrido Dr. Morbius, mas erra ao dar muita humanidade a um vilão, porque vamos combinar, até o Venom, um anti-herói clássico, tinha suas maldades irresponsáveis e divertidas. Matt Smith, o amigo de Morbius, o “Milo”, está bem, até virar o fio e se transformar no vilão da jogada. Quando é apenas um cínico e amargurado amigo de infância do Doutor, está muito bem, mas como vilão soa caricato e inverossímil demais. Adria Arjoria, como a Dra. Bancroft, cumpre bem o papel de escada do Doutor, mas carece de grande destaque na mal explorada trama.

Na questão dos efeitos especiais e ação, talvez o que provoque a real vontade de assistir os filmes de heróis no caso vilões, mais uma vez Morbius decepciona. Como já falei, a cena no navio é o que de melhor tem de ação e efeitos no filme, o resto se perde muito em cenas em slow motion estilo Matrix, mas 20 anos depois, efeitos parecendo fumaça, e muito morcego batendo asa, uma poluição visual que deixa as cenas extremamente confusas. A cena do embate final entre o Dr. Morbius e Milo lembra muito os confrontos finais dos filmes do Venom, com ação limitada, rápidas soluções e criatividade zero.

Morbius chega para ser mais um filme desse tal leque de vilões, mas como cinema é um tiro no pé, tanto para o avesso a esse gigantesco universo, que não terá muita curiosidade de conhecer o exótico personagem, tanto aos fãs do gênero, que não irão se satisfazer com essa versão. Logicamente, tem tudo para faturar os caraminguás necessários para se pagar e sobrar um no bolso da Sony para realizar as intermináveis continuações, já que pelas cenas pós-créditos, teremos novos vilões de segunda linha “abrilhantando” as telas dos cinemas nos próximos anos.

 

 

 

 

 

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