Crítica: Moonfall – Ameaça Lunar

Uma coisa não podemos negar: Rolland Emerich desde os anos 1990 tenta de todas as maneiras destruir a Terra. Já tentou com invasão de alienígenas de poucos amigos; com um monstrão radioativo japonês que fez um belo estrago em Nova York; inundou e congelou parte da Terra com mudanças climáticas; fez o mundo virar de cabeça pra baixo com catastróficas profecias Maias em 2012 e, não se dando por vencido, usa nosso até então pacífico satélite amigo, a Lua, como uma ameaça. Ameaça que nem São Jorge e sua espada dão conta. Falo, é claro, de Moonfall – Ameaça Lunar (Moonfall, 2022), novo filme do diretor alemão rei da tragédia que estreia essa semana nos cinemas.

A trama começa quando K. C Houseman, um típico nerd, vidrado em astronomia, mas com quedas por ufologia e teorias da conspiração, descobre que a Lua está se desprendendo de sua órbita, movida por uma estranha energia, e em breve se chocará com a Terra, criando uma destruição eminente. Claro que ninguém dá ouvidos a ele, porém depois da descoberta pelas autoridades, que falham em missões de destruição da Lua, apenas Brian Harper, um ex-astronauta traumatizado por um acidente no espaço e sua antiga colega de expedições, Jo Fowler, podem tentar enfrentar a queda do satélite, mas mal sabem o que realmente está por trás (na verdade por dentro) da Lua .

Às vezes me pergunto porquê ainda existem filmes desse tipo no cinema. Será que as pessoas ainda precisam ou gostam de ver tragédias épicas nas telonas num mundo recheado de problemas? A resposta para Emmerich pode ser simples: o espectador gosta, e muito ainda, de destruição – e com efeitos cada vez mais impressionantes e salas de cinema IMAX, assistir um filme como Moonfall com uma bela pipoca e um refrigerante gelado é um deleite visual. Mas claro, apenas isso. Uma divertida experiência para relaxar o cérebro e rir do absurdo das situações que o diretor nos proporciona. Um mérito do roteiro dele, de Harald Kloser e de Spenser Cohen é realmente não se levar a sério. O filme é um festival de clichês que ele já utilizou em todos os outros filmes. Famílias rompidas, fracassados tendo a chance de mostrar suas virtudes, a luta individual do ser humano mesmo que o mundo inteiro esteja se acabando, o cientista que não é ouvido (nesse caso um divertido nerd cheio de teorias de conspiração, tendo seus seguidores e fãs), autoridades pamonhas. Enfim, o mais do mesmo de sempre, mas nesse caso Rolland ainda chuta o balde com um final que beira a um devaneio, no entanto o que importa mesmo são as fantásticas cenas de destruição. Temos inundações incríveis, fragmentos da Lua virando pequenos mísseis ao cair na Terra, terremotos arrasadores, cidades submersas, prédio da Chrsyler sendo avariado e, o mais incrível, mesmo com esses catastróficos eventos sempre os personagens principais tiram de letra tudo isso saindo quase ilesos. Não podendo faltar a clássica trilha sonora cheia de emoção rasa e momentos épicos para dramatizar as cenas e ainda não podemos deixar de citar o climão meio Star Wars no centro da Lua, com naves, inteligência artificial, raios e uma entidade sinistra.

O elenco ao menos parece se divertir com tudo isso. Patrick Wilson está bem como o calejado astronauta que precisa, além de salvar a Terra, provar que tem suas virtudes, pode ser um bom astronauta e um bom pai. Halle Barry, como Jo Fowler, está num piloto automático incrível, mas tenta se soltar no meio do filme. John Bradley também está bem como o gênio desconhecido K. C. Houseman, dando um tom cômico ao filme, além de enfrentar uma expedição lunar sem um mínimo de treinamento, simples assim. O resto do elenco, com bons atores, como Erne Ikwuako, Donald Sutherland e até Micheal Peña, serve apenas como estepe para os momentos de destruição, superação e heroísmo dos devaneios incríveis de Emmerich.

Moonfall – Ameaça Lunar é um divertido passatempo. Além de brincar com nossa simpática Lua e as teorias de conspiração acerca dela (seria a Lua uma estrutura feita por alienígenas?), tem boas pitadas de humor, uma previsibilidade gritante, as doses de emoção e sentimentalismo, marcas do diretor e, é claro, muita ação, destruição, catástrofe, imagens de tirar o fôlego e de uma perfeição ímpar, só que com um roteiro propositalmente raso, muita pseudociência e situações inverossímeis. Claro que estou falando de um filme de puro entretenimento, um tipo de cinema que deixou Rolland milionário e provavelmente vai deixar sua conta cada vez mais gorda em sua nova empreitada.

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