Tom Cruise in Mission: Impossible Dead Reckoning Part One from Paramount Pictures and Skydance.

Crítica: Missão Impossível: Acerto de Contas Parte Um

Existe aquela piada que Tom Cruise só irá parar de trabalhar em filmes de ação quando acabar morrendo em um. Conhecido por sua destreza e dispensa de dublês em cenas de alto risco de periculosidade, o velho Tom já tinha voltado com tudo no excelente Maverick no ano passado, provando que ainda é um ás indomável. E um ano depois, temos o privilégio de termos ele de volta no sétimo filme da franquia Missão Impossível. Como a previsão é que a franquia acabe num oitavo, esse sétimo foi dividido em duas partes e uma delas estreia essa semana nos cinemas, falo de Missão Impossível – Acerto de Contas Parte Um (Mission Impossible – Dead Reckoning Part One, 2023), mais uma vez dirigido por Christopher McQuarrie. 

O mundo mais uma vez está em perigo, desta vez por causa de uma estranha força chamada entidade, que pode ser acionada pela junção de duas chaves e tem o poder de bagunçar todo o sistema de informação do planeta, como um hacker impossível de se rastrear. É claro que a equipe IMF, comandado por Ethan Hunt, que está acima de qualquer governo ou organização, tem a espinhosa missão de encontrar as tais chaves para evitar que elas caiam em mãos erradas e o planeta sofra um bug sem precedentes nos seus sistemas. Mas para isso, Ethan tem que ir para o deserto, dá uma parada na Itália e precisa travar uma grande missão no expresso do oriente. E vários inimigos, antigos e novos, o governo e muita gente vai fazer de tudo para deter nosso herói.

O sétimo filme da franquia de sucesso pode ser considerado já de antemão um dos melhores filmes de ação do ano. Com uma repaginada na história, o diretor McQuarrie, nos apresenta exuberantes cenas de ação, suspense à flor da pele, perseguições impactantes, destruição de praxe, mas tudo filmado com uma adrenalina e perfeição, que faz o espectador ficar as quase três horas de duração sem piscar. E o que poderia ser um filme que apenas ficasse no exagero visual, ajudado se assistido em uma sala IMAX, o diretor que assina o roteiro, nos apresenta uma bela trama, inspirada em muita coisa que já vimos, logicamente, mas ele consegue criar momentos de tensão e atmosferas de suspense, lembrando os velhos filmes de ação do passado, não desperdiçando momentos com enrolação que o público-alvo não tem interesse. É o típico filme que o que mais importa mesmo não é nem tanto o artefato, a chave que pode esculhambar a Terra com sua inteligência artificial, mas sim como os personagens vão chegando até ela, todos com grande importância para a trama, tendo a tal chave passando de mão em mão como uma batata quente que todos querem pegar, mas poucos conseguem manter. Ethan Hunt é quase um anti herói, por  mais que tenha seus princípios sagrados, é um pária de todos os lados, acumulando inimigos do bem ou do mal. Lembrando às vezes até o clássico de John  Huston, Falcão Maltês, de 1941, onde ninguém realmente é confiável.

Hunt é Tom Cruise, e Tom Cruise é a alma do filme. Com seu charme indefectível e suas proezas atléticas conquista a plateia. Ele corre pra tudo que é lado, anda a cavalo, dá tiros, luta com espadas, pula de penhascos de paraquedas com sua moto, luta em trens em movimento, dá uma de velozes e furiosos nas ruas de Roma e ainda assim tem tempo para ter sentimentos, um grande personagem, em forma, é essencial pra trama. Seus fiéis escudeiros também estão lá, Luther, interpretado por Ving Rhames e Benji por Simon Pegg, são a retaguarda perfeita para as peripécias de Cruise. O temível vilão, Gabriel, também está muito bem caracterizado por Esai Morales, além do time feminino do elenco, a conhecida ex-agente do MI6, Ilsa (Rebecca Ferguson), a traficante de armas Alana (Vanessa Kirby), a capanga e lutadora Paris (Pom Klementieff), e é claro, Hayley Atwell como Grace, a ladra internacional que acaba parando no caminho sem volta da missão secreta e atua brilhantemente. Ainda vemos novamente Eugene Kittridge (Henry Czerny), misterioso agente da CIA. Uma legião de personagens essenciais na intrincada trama, mas que se resolve facilmente devido às saídas do roteiro, sempre explicativas e eletrizantes.

Cenas como a da perseguição do aeroporto já podem ser consideradas umas de maior tensão e reviravoltas  do cinema moderno, aula de suspense e filmagem, quase um jogo de caça de gato ao rato. As cenas de perseguição de Roma são um tanto forçadas, mas lutas de espadas em Veneza compensam a passagem pela Itália com brilhantismo. E o que falar do lendário trem “O expresso do oriente”, que nunca mais vai ser o mesmo despois que Hunt passou por lá, com cenas fantásticas de lutas, troca de papéis, revelações e um desfecho literalmente explosivo, com direito a homenagem ao clássico A General, de Buster Keaton?

Missão Impossível – Acerto de Contas Parte Um (ano que vem teremos esse esperado desfecho) é cinema atual de primeira, sabe utilizar os efeitos exuberantes que temos nos dias de hoje, tem uma montagem frenética mas não cansativa, uma fotografia de tirar o fôlego, efeitos sonoros desconcertantes, uma trama recheada de referências dos bons filmes de espiões e, por mais que a pirotecnia seja o mote da película, ainda sabe usar muito bem os atores, que ao contrário de outros filmes do gênero ainda são mais importantes que os efeitos especiais. Para encerrar, um conselho: assista preferencialmente em IMAX, que com certeza essa imersão cinematográfica vai ser uma das maiores que o cinema pipoca atual vai te proporcionar e ninguém sairá decepcionado da sessão de cinema.

 

Mais do NoSet