Crítica: Meu amigo pinguim

Confesso que o cinema já nos apresentou histórias de fidelidade entre seres humanos e animais das mais diversas formas. Obviamente cachorros, o melhor amigo do homem, já nos fez cairmos em lágrimas com tramas de carinho e dedicação. Porquinhos, cavalos, coelhos, golfinhos, baleias, macacos (gatos, por incrível que pareça, nem tanto) e até ratos já protagonizaram inesquecíveis filmes com cara de sessão da tarde. Mas pinguim, pelo lado pitoresco da inusitada união, realmente me chamou muito a atenção nesse filme que estreia essa semana, com direção do brasileiro David Schuman, Meu Amigo Pinguim (My Penguin Friend, 2024).

No litoral paulista, em Ilha Grande, vivem João e sua esposa. Pescador veterano e com uma tragédia familiar que o transformou num homem recluso e triste, tem sua vida mudada quando, um dia, resgata um simpático pinguim coberto de óleo e com fome. Esse encontro acaba se tornando uma incrível amizade e devoção de João com o animal. Até porque todos os anos o animal nada da Patagônia até a costa de São Paulo para passar um tempo com seu amigo humano. Fato que faz João ter uma razão de viver novamente e provoca curiosidade da imprensa e de pesquisadores que não entendem bem como Dindin, o pinguim, consegue fazer essa epopeia toda para visitar seu grande amigo.

Baseado numa história real brasileira, em que João todo ano, ao menos uma vez por ano, num período de oito, recebe a visita do Pinguim Dindin. Essa surpreendente história merecia ser filmada e David resolve mostrar o Brasil caiçara para o mundo. Com um elenco de vários países, somos apresentados a uma Ilha Grande onde o povo fala inglês. Nada que apague o brilho do filme, que até poderia ter tido uma primeira versão nacional, mais uma vez o cinema brasileiro perdendo tempo de filmar histórias bem nossas… Mas voltando, Meu Amigo Pinguim é uma simpática película, com belas locações, tomadas marinhas fantásticas e quase um documentário sobre a vida dos pinguins. Desde sua saída da Patagônia, em bando, entrando na água, às peripécias que passam pelos oceanos, tudo é muito bem fotografado, com locações na Argentina e no litoral brasileiro. A trilha sonora é daquelas onipresentes, com melodias para emocionar o público quase que o tempo todo, mas mesmo piegas dá o toque sentimental à sensível história.

Jean Reno interpreta o sofrido João. O ator francês cumpre bem o papel e passa a maior parte do filme contracenando com diversos pinguins sem perder nunca a seriedade da fábula entre o homem e a ave. Destaque para Adriana Barraza, mexicana que interpreta Maria, esposa de João e mãe adotiva de Dindin, que tem bons momentos na trama, no início resistente, mas depois encantada com o animal. A brasileira Thalma de Freitas interpreta Calista, jovem amiga da família de João Souza.

Meu Amigo Pinguim é um filme honesto, tocante, que tem tudo para ser um sucesso de sessão da tarde. Faz feijão com arroz básico, tem um bom time de atores, música melodramática para derramarmos aquela lágrima quente, tomadas sensacionais da natureza e é acima de tudo uma história de fidelidade e superação de traumas. Às vezes um fato novo, um sopro de vida ou até mesmo um pinguim, podem ser a chave para recuperar um coração quebrado e uma vida vazia, no caso, João sente mais uma vez prazer de viver na companhia do animalzinho, provando que um simples encontro pode mudar uma vida. 

E o mais incrível é saber que essa história é verdadeira e aconteceu no Brasil. Às vezes o cinema não precisa ser uma super produção, ou inventar demais, ou é feito para intelectual vomitar teses vazias com seus chatérrimos realizadores, fazer filmes simples e tocantes também é uma arte, que se uns acham menores o problema é deles. Assista sem medo de ser feliz e se emocionar.

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