Crítica: Mergulho Noturno

Certas coisas na vida sempre marcam nossas memórias e, às vezes, fazem de algo maravilhoso, principalmente nos escaldantes dias de verão, como uma piscina, tornarem-se uma ameaça. Quem não ficava com medo de dar um mergulho depois de almoço, já que  com estômago cheio a chance de afogamento era maior, segundo nossas mães e avós? Ou quem nunca ouviu uma história de alguém que teve os cabelos presos nos sugadores delas e ficou submerso, e sem falar é claro, no risco de afogamento, principal perigo das nossas queridas piscinas? Mas o cinema, logicamente, não ia perder a oportunidade e transformou os deliciosos reservatórios de água em um poço do mau, pronto para sugar ou matar incautos usuários da piscina. Falo da nova produção da BlumHouse, Mergulho Noturno (Night Swim, 2024), com direção de Bryce McGuire, primeira grande estreia de terror do ano, nos cinemas brasileiros.

O filme conta a história dos Wallers, típica família estadunidense, chefiados pelo casal Ray e Eve e com dois filhos, Izzy e Elliot. Ray era um grande jogador de beisebol profissional, mas sua carreira foi interrompida com um diagnóstico de uma esclerose múltipla. Por isso a família precisa se reinventar e decidem comprar uma casa nova. Escolhem uma bela casa que conta com uma enorme piscina, para a alegria da família. No início, como em qualquer filme do gênero, é só alegria, e a família aproveita as horas vagas se banhando e se divertindo na piscina, que milagrosamente, faz a doença de Ray reverter o quadro. Só que começando com o sumiço do gato, coisas muito estranhas começam a acontecer dentro e em volta da tal piscina e uma força incontrolável e que cobra favores, passa a atormentar os Wallers.

Com direção, roteiro e história do próprio Bryce McGuire, e inspirado num curta seu e de Rod Blackhurst, Mergulho Noturno, com perdão do trocadilho, se afoga em praticamente todos os quesitos. Usando o mais do mesmo que muitas produções do gênero já cansaram de abusar, como família querendo uma nova vida, casa perfeita com seus segredos malditos, adolescentes inseguros e namorados, um pai que não se conforma com sua doença e, é claro, uma história de possessão vinda de uma sinistra piscina, Mergulho Noturno não acrescenta em nada no gênero. Inclusive nem sustos provoca. Ficamos uma hora e meia assistindo uma família mergulhando em um piscinão sujo, que tenta de todas as maneiras dominar Ray e pedir algo em troca. O longa abusa de jump scares previsíveis e nem mesmo com criaturas amaldiçoadas e presas à piscina, consegue gerar desconforto.  Nem a produção de James Wan foi suficiente para criar uma atmosfera de medo, ficando limitado a um clímax de tensão a algumas cenas, como eu citei no início, corriqueiras piscinas, ficar preso a saídas de água ou ralos, no caso do filme, amaldiçoados.

Wyatt Russell, como o paizão Ray, tem uma atuação pífia e não consegue nos passar realismo, nem com seu drama pessoal, quanto como um ser dominado pela piscina. Kerry Condon, como a esposa Eve, ainda dá uma certa vida à personagem, sendo a única atuação decente da película. Gavin Warren, como o menino Izzy, sofre bastante no filme, mas não passa de mais um personagem genérico de filmes de terror como vemos toda a semana.

Nem a fotografia, com tomadas aquáticas apenas razoáveis, mas abusando do escuro, quase breu, tônica dos filmes de terror de hoje em dia, talvez para maquiar a falta de recheio de roteiro e muito menos a música cooperam, no caso essa, provocando mais desespero pela sua ruindade gerando zero clímax de tensão. E por mais que no último ato até tenta se explicar a origem da maldição da piscina, com fatos ocorridos 30 anos atrás, tudo fica desencontrado e uma história que poderia render um belo desfecho perde o fôlego e acaba se afundando de vez.

Com Mergulho Noturno a temporada de filmes de terror começa bem mal em filme decepcionante onde praticamente nada ajuda, desde um roteiro preguiçoso, atuações fracas, efeitos ruins e o mistério mais intrigante: um filme de terror que não provoca um pingo de medo. Ainda bem que estamos apenas na terceira semana do ano e a esperança de filmes de terror melhores estão por vir…

 

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