Crítica: Maxxxine

Quando, em 2022, o diretor Ti West apresentou para o mundo a personagem Maxine Minx, num slasher com todas as referências dos filmes do gênero, que nascia de vez no fim dos 1970, mostrando muito sangue, sexo e violência, parecia que o diretor dava uma sobrevida a esse estilo tão infestado de porcarias chamadas de filmes. O barulho do primeiro X (idem, 2022) foi maior que o merecido e a continuação, Pearl, com as origens da velhota matadora, foi em exercício de pretensão cinematográfica que mais aborrece e deixa arestas soltas que propriamente agradam. Mas, num daqueles fenômenos do cinema, a série de filmes estrelados pela limitada Mia Goth viraram cult e o diretor West pretendia fechar a trilogia com um filme para Mia, ou Maxine chamar de seu. E nessa semana atraca nos cinemas o terceiro filme da saga da atriz pornô sobrevivente do massacre do primeiro filme, falo de Maxxxine (idem, 2024), mais uma vez dirigido por Ti West.

Los Angeles, 1985, uma era em que Prince era rei, O Primeiro Ano do Resto de Nossas Vidas fazia sucesso nos cinemas, e uma onda de conservadorismo nos Estados Unidos queria proibir desde discos de metal até filmes terror, uma coqueluche da época (termo dos 1980) é o sexo nos filmes. Nesse contexto, temos Maxine, aquela atriz pornô que sobreviveu a um massacre no fim da década passada e que quer vencer como atriz, deixando os filmes pornôs para fazer uma carreira no cinema, estrelando uma sequência de um filme de terror de sucesso. Mas pelas ruas de Los Angeles um misterioso assassino anda causando terror na cidade e passa a ser uma ameaça a Maxine, quando pessoas próximas a ela são assassinadas e cartas e vídeos de seu passado passam a atormentar a ascendente e ambiciosa atriz.

Enfim, chega aos cinemas a terceira parte da saga de Ti West e Mia Goth sobre o universo dos filmes hardcore e de matança dos anos 1970 e 1980. Como falei na introdução, nunca entendi essa devoção por esses filmes do Ti. O primeiro é um filme comum mas que ganhou um hype que não merecia, o segundo é muito chato, e é um exercício de narcisismo de Mia Goth, que acha que é uma atriz muito melhor do que realmente é. E quando, ao meu ver, a dupla tinha tudo para tentar dar dignidade ao fim da série (ou não, já se fala num quarto…) o diretor bem que tenta, mas acaba estragando tudo na terceira parte do filme.

Usando um balaio de referências, uma trilha sonora oitentista irresistível, uma recriação digna de L.A. dos anos Reagan, e uma mais inspirada Mia Goth, o filme até que embala bem no seu início. Vemos Maxine querendo seguir uma carreira diferente, alçar o estrelato a qualquer custo e mantendo ainda seus impulsos violentos. Referências ao clássico Psicose, que é lembrado nos cenários do estúdio de gravação, aos deliciosos filmes descartáveis de horror em VHS em empoeiradas locadoras, os filmes X-rated que eram uma explosão na época, até o filme clássico Hardcore (idem, 1979), servem como inspiração para a película. E pitadas de giallo italiano com o assassino misterioso e seus sádicos e satanistas rituais também compõem a gororoba de Ti West, que se foi bem chacoalhada no início, tem um dos finais mais decepcionantes do ano.

A tal empolgação inicial do filme, em que traz uma das melhores atuações de Mia na série, acaba se esvaindo na conclusão. O que parece ser é que o diretor simplesmente não soube acabar seu emaranhado de referências, que funcionavam tão bem, para concluir num apressado, sem graça e mal conduzido desfecho, o que acaba descambando numa terrível decepção.

Mia Goth mais uma vez é a estrela do filme, talvez na sua melhor atuação na série, com sua caracterização fidedigna como atriz pornô dos anos 1980, e sempre mantendo sua ambição, coragem e sabendo se defender muito bem. Elizabeth Debicki também está bem como a diretora blasé e exigente Elisabeth Bender, conduzindo a sequência do filme Puritana, tendo Maxine como estrela. Michelle Monaghan e Bobby Cannavale representam aquelas duplas de policiais patetas dos filmes dos anos 1980, mas não passam de piadas mal formuladas na trama, o mesmo valendo para Kevin Bacon, pavoroso como o detetive John Labatt, que persegue Maxine para entregar ao assassino, em um papel beirando ao constrangedor e o grande Giancarlo Esposito, também não fede e não cheira como o agente de filmes Z e braço direito de Maxine.

Maxxxine tinha todas as ferramentas possíveis para fazer um filme marcante que poderia ser um marco dos anos 2020, mas acaba literalmente se afundando em uma falta de originalidade e preguiça, estragando a ideia. Talvez Ti West queria isso mesmo, ao embaralhar tanto suas fixações oitentistas, quis acabar o filme com aqueles finais típicos de filmes b ou z da época, que brilhavam nossos olhos nas prateleiras das videolocadoras, e que abusavam do nonsense, exagero e tosquice, muito justificado pela falta de grana, mas que aqui no caso não era problema. E ainda peca pela falta de explosão sexual dos primeiros filmes, talvez homenageando os censores moralistas da época, tolhendo as cenas mais eróticas que povoavam os filmes anteriores, o que para um filme que tratará de slasher oitentista e filmes pornôs, é um erro crasso. Enfim, um possível desfecho decepcionante de uma hiper estimada série, que só serviu para idolatrar uma atriz mediana e um diretor competente, mas que vai do excesso de pretensão como Pearl até a tosqueira sem pé nem cabeça de Maxxxine, e isso que de cabeça a nossa personagem conhece bem, ou melhor amassa bem…

 

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