Crítica: Maligno

De uma coisa todos temos certeza: James Wan já pode entrar para o panteão dos grandes diretores do cinema fantástico. Um cara que criou, deu início à franquia Jogos Mortais (2004), imortalizou Jigsaw no rol dos grandes vilões do gênero e abriu caminho para as telas para os fantasmagóricos e demoníacos casos investigados pelo casal Ed e Lorainne Warren, criando o universo de Invocação do Mal, ele com seus 45 anos, já podia se aposentar e viver dos louros da criatividade e dos dólares no banco. E fora o que fez no meio do caminho também, alguns bons filmes de terror, Velozes e Furiosos e Aquaman. Mas não, para nossa alegria, James não para, aliás, não para de nos surpreender e nesta semana estreia a mais nova invenção cinematográfica do malaio: Maligno (Malignant, 2021).

A trama é mais ou menos assim: Madison é uma perturbada enfermeira, traumatizada pelos abortos que sofreu, além de ser importunada por abusos constantes do marido, Derek. Uma relação tóxica que acaba de maneira trágica. Aos poucos, Madison começa a ter visões realistas de crimes horrendos cometidos por um assassino vingativo. E pra piorar, esses assassinatos são reais. Fato que a faz pedir ajuda a sua irmã Sidney e para a dupla de investigadores policiais Kekoa e Regina Moss. Tudo indica que o temível assassino é um amigo imaginário e manipulador, que desde a infância atormenta Madison, e o mais intrigante é que o rastro de assassinatos segue uma lógica, fazendo de vítimas uma equipe médica veterana que talvez sejam os únicos que saibam o porquê de tanta violência e os segredos do passado da enfermeira.

Maligno pode, com toda a certeza, já figurar nos maiores filmes de terror recentes. James Wan consegue mais uma vez nos surpreender com um filme diferente. Claro que só ele para fazer um mix natural de suas obras, pincelando uma tortura violenta, psicológica e física lembrado seus Jogos Mortais e construindo climas sombrios, principalmente em casas e subsolos tétricos, marca do Invocação do Mal. Mas Maligno consegue mudar, criar um tipo de horror, fugindo do seu convencional. Fica clara a influência do gênero Giallo, subgênero de terror que fez muito sucesso na Itália nos anos 1960 até meados dos 1980 e que consagrou nomes como Dario Argento, Mario Bava, Sergio Martino, Lucio Fulcci, entre outros, filmes com muito sangue, assassinos em série, mulheres perseguidas, segredos e motivações surpreendentes para os crimes e que abriu caminho para os slashers dos anos 1980. Wan sempre disse que era fã do gênero e queria fazer um Giallo a sua maneira. O próprio cartaz do filme é uma referência ao gênero, com Annabele Wallis avermelhada, com os olhos assustados e uma gota de sangue vindo do título do filme, quase encostando na atriz. A história é de Wan, Ingrid Bisu (que também atua no filme) e Akela Cooper. Mas quem transformou em roteiro foi Akela. Um roteiro extremamente original e intrigante, que procura dar pistas e caminhos o tempo todo, e quando achamos que chegamos à conclusão, o filme, no terceiro ato, muda tudo e por mais bizarro que possa parecer, essa virada é simplesmente incrível. O filme não abusa muito de clichês do gênero com poucos jump scares e temos sim, uma verdadeira saga policial em busca do cruel e poderoso assassino. Gabriel, o tinhoso matador, já pode entrar na galeria dos notáveis do cinema do horror, com sua aparência horrenda, longos cabelos no rosto, seu capote e seu punhal feito de um prêmio de medicina roubado de uma das suas vítimas. Se não temos o elemento sobrenatural, temos um poderoso assassino, que lembra um super vilão de quadrinhos, com extrema força, poderes de manipulação mental e de interferência em aparelhos como rádio, televisão e telefones… ah, e ele apaga algumas lâmpadas também…

As atuações são todas seguras, Anabelle Wallis consegue passar o estado meio catatônico e sonso da traumatizada personagem. A dupla de investigadores, se não são um casal Warren, fazem bem o lado antagônico de um e outro, se George Young faz um Kekoa Shaw que é mais aberto a acreditar que tem algo de terrível nessa história, Michole Briana Whitte, como Regina Moss, faz a tipo cética e que tem certeza de que Madison é quem está por trás de tudo. O destaque das atuações fica por conta de Maddie Hasson, como a irmã mais nova de Madison, com muito carisma e bom humor, faz a atriz frustrada, que tenta de tudo para entender o passado da irmã e o que ela realmente carrega. Fotografia esplêndida do filme, de Don Burguess, dando aquele climão nas cenas noturnas e internas nas casas quase assombradas, além de explorar o chuvoso clima de Seattle. O mesmo vale para a ótima trilha sonora de seu colaborador Joseph Bishara, responsável por todas as harmonias do universo de Invocação do Mal, e nessa consegue dar aquele cenário sinistro, repleto de instrumentos de cordas, além de usar órgãos sintetizadores, tentando dar aquele clima que a banda Goblin dava nos clássicos Giallo do Argento. E não decepciona.

É muito difícil falar do filme sem dar spoiler, mas posso afirmar com certeza, que será uma bela experiência assistir nos cinemas. Um filme criativo, suspense de primeira, que induz o espectador a pensar, se resvala um pouco nos poucos sustos típicos do universo Wan, a parte final é de uma violência sufocante (a sequência na delegacia é um balé violento, surreal e sanguinolento de dar inveja a Tarantino, Peckinpah, Peter Jackson na fase gore e outros reis do sangue). Wan nos surpreendendo novamente com uma surreal história que, mesmo prestando homenagens a um clássico gênero, consegue repaginá-lo e adaptá-lo aos frenéticos anos 2020, com um grande mérito, não abusando de efeitos em demasia, tentando dar uma crueza mais realista e sabendo abusar do absurdo, do humor e do melhor que o cinema trash pode nos apresentar.

Em sua divulgação o filme lançou um filtro para as redes sociais. O filtro já está disponível no Facebook e Instagram da Warner Bros. Pictures Brasil (@wbpictures_br) e também no site oficial do filme https://ingressos.malignofilme.com.br. Para acessar a novidade, basta usar o QR Code que aparece na aba “Filtro AR” do site ou buscar diretamente na aba “efeitos” do Instagram.

Sobre o filme: Maligno é a mais recente criação do arquiteto do universo “Invocação do Mal”, James Wan (“Aquaman”, “Velozes & Furiosos 7”). Com o novo thriller de terror original, o diretor Wan marca o retorno às suas raízes como cineasta.

No filme, Madison está paralisada por visões chocantes de assassinatos horríveis, e seu tormento piora quando ela descobre que esses verdadeiros pesadelos, sonhados à luz do dia, se tornam, de fato, realidades aterrorizantes.

Maligno é estrelado por Annabelle Wallis (“Annabelle”, “A Múmia”), Maddie Hasson (séries “Impulse”, do YouTube Originals, e “Mr. Mercedes”), George Young (série “Containment”), Michole Briana White (series “Black Mafia Family”, “Dead to Me”), Jacqueline McKenzie (“Palm Beach”, série “Reckoning”), Jake Abel (série “Supernatural”, a franquia “Percy Jackson”), e Ingrid Bisu (“Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio”, “A Freira”).

James Wan dirigiu o roteiro de Akela Cooper (“M3GAN”, o recentemente anunciado “A Freira 2”), escrito a partir do argumento original de Wan & Ingrid Bisu e Cooper. O filme foi produzido por Wan e Michael Clear, com Eric McLeod, Judson Scott, Ingrid Bisu, Peter Luo, Cheng Yang, Mandy Yu e Lei Han na produção executiva.

Para a sua equipe de produção, James Wan trouxe parceiros constantes de seus projetos, como o diretor de fotografia Don Burgess e o editor Kirk Morri (“Aquaman”, “Invocação do Mal 2”), a designer de produção Desma Murphy (direção de arte de “Aquaman”, “Velozes & Furiosos 7”), bem como a figurinista Lisa Norcia (“Sobrenatural: A Última Chave”). A música é de Joseph Bishara, compositor da trilha sonora de todos os sete filmes do Universo “Invocação do Mal”.

Mais do NoSet