Crítica: Mafia Mamma: De Repente Criminosa

O que poderia ser mais revolucionário na vida de uma mulher suburbana, mãe de família, casamento em ruínas e desprezada no emprego do que herdar os negócios da mafiosa famiglia italiana do avô na Itália? Esse é a premissa do filme de Catherine Hardwicke, Mafia Mamma – De Repente Criminosa, que tem estreia marcada para essa semana nos cinemas nacionais.

O filme tem início na Itália, e entre queijos e tomates, um rastro de corpos de mafiosos no chão. Surge então Bianca, uma sobrevivente do massacre que jura vingança. No outro lado do mundo, nos Estados Unidos vemos Kirstin, uma estadunidense típica, que sofre com a ida do filho à faculdade, é traída pelo marido parasita, tem um emprego com colegas machistas e uma amiga advogada que é a única que lhe dá uma força. Até que Kirstin recebe uma ligação da Itália, de Bianca, descobre que seu avô foi morto e ela é a única herdeira das vinícolas dele. Convidada para o enterro, resolver encarar a empreitada, achando que vai para a terra da bota a turismo e em busca de homens bonitos, lazer e gastronomia, mas descobre, aos poucos, que de vinho seu avô pouco entendia, e sim ele era um mafioso que vivia em batalha com os Romano, uma famiglia rival. Kirstin então simplesmente precisa assumir atabalhoadamente e de imediato a nova vida como mafiosa.

Infelizmente, Mafia Mamma – De Repente Criminosa tinha tudo para ser uma comédia agradável, que poderia atingir todas as faixas etárias, em mais uma enésima brincadeira do cinema com a máfia, mas já começa errando no péssimo nome traduzido, que parece saído dos VHS encalhados de comédias pavorosas dos anos 1980. E isso que a experiente Hardwicke ainda se mune de uma história de Amanda Sthers, com roteiro adaptado por J. Michael Feldman e Debbie Jhoon, tentando dar contornos à história da Mamma, em uma trama de comédia de empoderamento feminino. Mas erra feio em quase toda a concepção. Um roteiro óbvio, piadas escatológicas, lutas que beiram um gore de péssimo gosto, violência gratuita e muito pouco bom humor. Literalmente, utilizando trocadilhos pífios, um tiro que saiu pela culatra. Um filme tomado por clichês de sempre como italianos galãs, estereótipos de mafiosos, capangas atrapalhados, aquela visão da Itália como um covil de delinquentes, tradições imutáveis, como famiglia, pasta, mammas e vinho. O mais do mesmo de sempre, só que mal executado.

Costumo dizer que Toni Collette, devido ao seu talento, consegue salvar qualquer filme, nessa sua nova empreitada, mais uma vez, talvez seja a única coisa que valha a pena, mas mesmo assim tem uma atuação desconfortável e distante do seu melhor, divertindo muito pouco como a mãe submissa estadunidense que vira a chefe da máfia.  Monica Bellucci, sempre reluzente nas telas, infelizmente mais uma vez fazendo o papel estereotipada do qual não consegue se livrar nas suas produções estadunidenses, como a típica italiana. Aliás, deve ter sido convidada para o filme apenas por ser oriundi. O restante do elenco é tão descartável, com papeis como capangas trapalhões, assassinos sanguinários (nem tanto…), italianos sedutores, policiais caricatos, que nem merece citação.

Mais uma bola fora da película é que filmes com locações italianas costumam ser um deleite para a fotografia e enquadramentos, mas nem isso Mafia Mamma soube aproveitar. Algumas piadas sobre clássicos de cinema de libertação feminina como Comer, Rezar e Amar provocam certas risadas, algumas citações mal colocadas ao Poderoso Chefão, tem uma piada com a balada do Aerosmith que é razoável, mas o que vemos são situações forçadas e muitas de péssimo gosto, ação confusa e atuações esquecíveis. Além de começar errando até no subtítulo dispensável e equivocado, De Repente Criminosa, já que Kirstin não tem como se tornar uma mafiosa da noite pro dia e sim se esforça, e muito, para pacificar as centenárias guerras de famílias e quer realmente dar vida lícita às vinícolas, herdadas pelo avô.

Mafia Mamma – De Repente Criminosa fica difícil de indicar como boa sugestão de filme. Falha como comédia, como filme de máfia, nos apresenta um empoderamento caricato, ação de péssima qualidade, piadas escatológicas e obscenas que vão influenciar na classificação etária e levar menos bilheteria. E simplificando: uma sátira mal realizada com uma história batida e que me faz questionar: como ainda fazem filmes assim? Desperdício de talentos, de dinheiro, de profissionais e o pior: o tempo precioso perdido de quem vai ao cinema assistir esse grande abacaxi.

 

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