Crítica: Jurrasic World – Dominio

Às vezes me pergunto: será que o cinema precisa ainda de dinossauros? Ou melhor, de sequências do incrível filme O Parque dos Dinossauros (Jurassic Park, 1993), onde o mestre Steven Spielberg criou com os recursos da época o melhor filme do gênero, que com suas duas sequências fracas, foram mais que suficientes para extinguir a primeira trilogia? Mas aí vieram os anos 2010 e o próprio Spielberg, como produtor executivo e o diretor Clovin Trevorrow, aproveitando os recursos tecnológicos da época literalmente ressuscitaram os seres jurássicos e começaram uma nova trilogia. Podemos dizer que a primeira, de 2015, ainda é uma aventura divertida com efeitos incríveis, se tornando um sucesso arrebatador de bilheterias, mas sua sequência, um pseudo horror, com um roteiro fraquíssimo e dinos que mais aborreciam do que assustavam, respondendo minha pergunta, parecia que uma terceira parte seria desnecessária. Mas claro que, com o fim da pandemia e a crise dos cinemas, na ânsia em se faturar com bilheterias e merchandising, o próprio Trevorrow toma as rédeas novamente dos gigantescos seres e nos apresenta mais um filme da franquia (e espero que seja o último mesmo) o fraquinho Jurassic World – Dominio (Jurassic World – Dominion, 2022), estreia badalada dessa semana nos cinemas.

Quatro anos após os acontecimentos do último filme, os humanos são obrigados a conviver, não tão pacificamente, com dinossauros lado a lado. Logicamente que algumas pequenas tragédias acontecem devido a esse forçado convívio, mas governantes e certas empresas fazem de tudo para resgatar esses seres e isolá-los em locais de preservação, já que existem muitos caçadores ilegais sempre em embate com grupos que querem preservar a vida dos feiosos gigantes. Enquanto isso, duas histórias se ligam, uma envolvendo o sequestro de Maisie, adotada por Owen e Claire, por traficantes que acabam se ligando a Allan Grant e Ellie Sattler, veteranos do primeiro parque dos dinossauros, se juntando a uma investigação de uma mega empresa, que pode estar por trás, através de modificações genéticas em um desequilíbrio ecológico, que pode ter como consequências a fome mundial e o monopólio de grãos por essa indústria.

Confesso que nunca vi com bons olhos a essa infindável obsessão cinematográfica por transpor os dinossauros para a tela grande. Se o filme original tinha aquela magia incrível para sua época de dar uma verossimilhança às criaturas, tudo isso aliado a um roteiro interessante, divertido e com muito suspense, as suas continuações nunca tiveram o mesmo charme. Mas como a nova franquia, começada em 2015, foi um megassucesso, a produção de sequências foi uma inevitável consequência, da mesma maneira que os efeitos eram cada vez mais impressionantes, os roteiros e atuações eram cada vez mais decepcionantes. Com Jurassic World – Domínio a trilogia é fechada com um filme tedioso de mais de duas horas e meia. Tentando passar uma mensagem global positiva de harmonia entre espécies, desequilíbrio ecológico, preservação animal, limites da ética em modificações genéticas e outras bandeiras, o filme esquece o principal: relega os dinossauros a segundo plano. Inclusive com esse subtítulo Domínio, eu tinha na cabeça que esse convívio entre homens e dinos, fora do caráter de um parque ou ilha isolada, em grandes cidades, teria um tom de destruição e poder animal eloquente que, no filme, não passa de alguns lampejos. Claro que a questão visual e edição de som são incríveis. Cada filme que passa os dinossauros ficam uma perfeição nas telonas, com um uso super bem feito do melhor que os recursos cinematográficos de efeitos dos anos 2020 podem ter. Mas, como falei antes, os dinos são meio escanteados da trama. Uma trama que brinca com mega empresas capitalistas, com bilionários com segundas intenções (o vilão é um mistura de Jobs, Zuckerberg, Musk) e tem cenas de ações dignas do que melhor produziu a série 007, com passagens em outros países, perseguições frenéticas, cenas no ar, na terra, enfim, fugindo um pouco do padrão da série.

O ponto positivo é o tom de nostalgia que o filme nos apresenta ao trazer de volta o trio do primeiro filme. Laura Dern, Sam Neill e Jeff Goldblum, como Dra. Ellie, Alan Grant e Dr. Ian Malcolm, voltam afiados e dão ao filme os raros momentos de brilho com suas divertidas e seguras atuações. Jeff Goldblum é impagável como o filosófico e atrapalhado Dr. Malcolm. Bem diferente do carisma insonso de Chris Pratt, mais uma vez como o quase super-herói encantador de velociraptors e de Bryce Dallas Howard, como a hoje ativista pelos direitos dos dinos, Claire Dearing, que até mostra evolução, mas não consegue emplacar. Completam o elenco Dewanda Wise, como Kayla, a piloto de aluguel que serve mais para carregar o elenco nas aventuras, Bd Wong, Omar Sy e Isabella Sermon, a menina clonada. Uma das provas que até na escolha do elenco Spielberg foi extremamente feliz com seu filme original e que, comparada à turma de hoje, as atuações são um desleixado segundo plano.

Jurassic World – Dominio certamente vai faturar uma boa nota, vai fazer muita criança comprar lanches para ganhar brindes, os bonecos de dinossauros invadirão as lojas, mas infelizmente como essência e dignidade cinematográfica tem tudo para ser esquecido, fechando uma segunda trilogia ou sendo o sexto filme da trilogia, com uma história esquecível e pouco empolgante, que serve apenas como mero entretenimento visual. Usando o mais do mesmo dos seus antecessores e enchendo linguiça em um filme que até tenta juntar a mágica (no caso o elenco original) do início de tudo, mas não sabe explorar a magia que o Parque dos Dinossauros proporcionou a quem o assistiu no início da década de 1990, fechando a série em franca decadência, além de ter o azar de ser lançado quase simultaneamente com um filme com certos aviões e muita nostalgia também, que ao contrário desse, é literalmente top.

 

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