Crítica: Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio

É praticamente impossível mensurar a importância e a dimensão que tomou o filme Invocação do Mal, de 2013, na história recente do cinema de horror. O longa, dirigido por James Wan, além de ter oxigenado o gênero, conseguindo com sua atmosfera explorar o oculto, casas mal-assombradas e fantasmas do passado, trouxe para as telonas os casos sinistros dos demonólogos Ed e Lorraine Ward. O filme, devido ao sucesso, originou uma franquia e mais cinco filmes com ligação entre si, praticamente um universo estendido dos super-heróis combatentes dos perigos do além. E depois do sucesso do segundo filme da franquia original, logicamente um terceiro filme era clamado pelos fãs da série. Terceiro filme que, devido a pandemia de coronavírus, teve sua estreia, que seria em 2020, transferida para 2021, Invocação do Mal 3 – a Ordem do Demônio (The Conjuring – the Devil Made me Do It, 2021), dirigida dessa vez por Michael Chaves, estreia essa semana nos cinemas abertos desse Brasil.

O filme se passa em 1981, quando o casal Ed e Lorraine, após uma sessão de exorcismo se deparam com o sinistro caso de Arne Cheyenne Johnson, jovem pacato que cometeu um brutal assassinato, mas que segundo o casal, pode ter feito sob influência de uma possessão. Correndo contra o tempo e atrás de provas, a dupla tenta entender de onde surgiu essa influência e o mais complicado: tenta explicar para a justiça que Arne foi obrigado a fazer isso manipulado por forças do além.

Fica complicado acreditar que qualquer fantástica história do casal Warren, com o dedo de James Wan e um roteiro do fiel colaborador David Leslie, que assina juntamente com Johnson-McGoldrick, possa dar errado. Aliás, dá muito certo novamente. Chaves, que tinha dirigido o fraco A Maldição de Chorona (2019), cria da série, se redime aqui encorpando e empolgando cada vez mais a já clássica sequência. O roteiro prima por uma história um pouco mais elaborada. A dos dois filmes anteriores, lembrando às vezes as investigações do Arquivo X, mostra o casal, além de lidar com as habituais assombrações, suar a camisa, buscar pistas e descobrir o que está por trás da terrível possessão. Quase um thriller policial sobrenatural, mas nunca fugindo da premissa básica de desvendar o oculto. O filme já começa ao contrário dos outros, a toda, com uma violenta sessão de exorcismo em um menino (interpretado visceralmente pelo talentoso David Glatzel) com inúmeras referências ao clássico mor dos filmes de possessão (O Exorcista, 1973), porém nunca perdendo o vigor e a originalidade da série. Fora o casal, interpretados sempre brilhantemente por Vera Farmiga e Patrick Wilson, destaco a bela performance de Ruairi O’Connor, como o atormentado e condenado Arne, personagem histórico na justiça americana por ter tido a pena atenuada ao ter sido aceito na justiça que ele agiu sob efeito de forças digamos, ocultas.

Invocação do Mal 3 – A Ordem do Demônio (título infeliz em português, que poderia ter sido a tradução literal do caso ou algo parecido como O Demônio me Obrigou, no original e inglês), apesar da mudança de direção, mas sempre sob o crivo do produtor Wan, não erra o tom e mantém o que os fãs da série querem. Muitos sustos, jump scares óbvios, mas bem feitos, uma reconstituição de época primorosa, casas que assustam por si só, um vilão do mau, no caso uma satanista do mundo real, espécie de Lorainne do outro lado, interpretada por Eugenie Boundurant. Enfim, uma saborosa fórmula, misturada ao enredo policialesco e a cada vez mais explorada história de amor eterno da dupla. Sim, nossos heróis além de passarem a vida enfrentando fantasmas, demônios e casos paranormais, formam um dos casais mais apaixonados do cinema, e essa terceira parte explora bem esse lado romântico do casal Warren. O filme também abre uma questão escabrosa: como acreditar que um cara que comete um crime dando 22 facadas pode ter sua pena atenuada alegando não estar respondendo por forças terrenas? Não poderia abrir um estranho precedente? O caso ficou na história, mas não deixa de provocar curiosidade quando se pensa na frase “baseado em fatos reais”.

Concluindo: a terceira parte da série de terror mais impactante dos anos 2010, apesar de pequenas mudanças, não deve decepcionar os fãs de terror, que terão na sua frente mais um exemplar de como um roteiro com uma intrigante história, criatividade, uma atmosfera sombria, sustos na medida certa e uma impecável produção, ainda pode levar ao seu intuito que é assustar, e talvez, fazer o seu espectador dormir com uma luz ligada…

 

Invocação do Mal 3 – A Ordem do Demônio é o sétimo filme do universo Invocação do Mal, a maior franquia de terror da história, que arrecadou mais de US$ 1,8 bilhão em todo o mundo. Inclui os dois primeiros filmes de Invocação do Mal, bem como “Annabelle” e “Annabelle: A Criação do Mal”, “A Freira” e “Annabelle 3 – De Volta Para Casa”.

Sinopse: Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio revela uma história assustadora de terror, assassinato e um desconhecido mal que chocou até os experientes investigadores de atividades paranormais Ed e Lorraine Warren. Um dos casos mais sensacionais de seus arquivos, começa com uma luta pela alma de um garoto, depois os leva para além de tudo o que já haviam visto antes, para marcar a primeira vez na história dos Estados Unidos que um suspeito de assassinato alega ter tido uma possessão demoníaca como defesa.

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