Crítica: Hotel Transilvânia 4 – Transformonstrão

Não é que a pandemia de Covid-19 não poupou nem o Conde Drácula? Devido a inúmeros adiamentos, a conclusão da franquia de sucesso da animação Hotel Transilvânia quase ficou na saudade. O filme, que desde 2012 era garantia de bilheteria, estava programado para fins de 2020, teve adiamentos para meados de 2021, mas acabou sendo lançado diretamente em streaming na plataforma Amazon Prime. Depois de tanta espera a turma de monstros mais divertida das telonas estreia finalmente nas telinhas Hotel Transilvânia 4 – Transformonstrão (Hotel Transylvania 4  – Transformania, 2022), cabendo a Jennifer Kluska e Derek Drymon a direção da quarta e provavelmente última aventura da série.

Conde Drácula anda cansado e pretende se aposentar do centenário hotel e curtir sua nova paixão, passando a chave para sua filha e seu genro. Mas Drácula, sempre conservador, não acredita que seu genro Johnny, por não ser um monstro, possa ter capacidade de gerir o Hotel Transilvânia. Johnny fica frustrado e pede ao Dr. Van Helsing uma poção que o transforme em monstro e, na confusão, Drácula e seus amigos acabam virando humanos. Para piorar, o tal transformador de monstro se parte e o cristal que move essa geringonça só é encontrado em selvas inóspitas da América do Sul. Resta a Johnny, como um gigante e desengonçado monstro, e Drácula, como um indefeso humano, adentrar quase como pai e filho as selvas amazônicas atrás do cristal que possa inverter o tal estrago. Não demorando muito para sua filha Mavis e Ericka Van Helsing, junto com os monstros que não são mais monstros, ajudar a dupla.

A quarta saga da bem-sucedida série de animação que resgatou os clássicos personagens do horror de uma maneira divertida, finalmente sai do forno e mesmo que estreando em streaming merece ser conferida. Gendy Tartakovsky, que dirigiu os três anteriores é apenas duas mãos num roteiro com mais quatro. Coube a Kluska e Drymon dirigir o filme. E, infelizmente, podemos considerar que por mais que tenha seus bons momentos, é o mais fraco da série. Partindo da premissa que qualquer monstro pode ter seu lado de humanidade, e qualquer humano pode ser um terrível monstro, o filme peca ao explorar de maneira muito superficial quase tudo. Claro que o excesso de personagens faz com que muitos deles se percam na história, mas os coadjuvantes mal explorados fazem perder um pouco o charme e diversão dos filmes anteriores. E, logicamente, com Conde Drácula virando um vulnerável humano também perdemos o melhor do, ao mesmo tempo terrível, mas amável personagem, que aqui parece mais um atrapalhado explorador. Johnny é o personagem mais divertido do filme e demonstra que apenas assumindo seu papel de monstro tem coragem de enfrentar e tentar provar para seu egoísta e desconfiado sogro que faz parte da família. O questionamento familiar até funciona em certos momentos, mas a química entre sogro e genro quase nunca emplaca.

No geral o filme não consegue empolgar, mistura um pouco de aventuras do tipo Indiana Jones, um monstro sem noção, tudo feito de uma maneira discreta e apressada. Uma impressão de que queriam se livrar do filme e terminar de uma vez a franquia. Claro que temos cenas divertidas, aquela em que Drácula olha o sol pela primeira vez e se desnorteia numa avenida sendo salvo pelo monstro genro é um dos raros momentos de humor típico da série. Uma pena, por mais que Hotel Transilvânia não seja a animação perfeita de cair o queixo, sempre foi um filme divertido, que soube unir a sombria atmosfera gótica com muitas cores e personagens em situações surreais e divertidas, além é claro, de muita música, dança, festa… enfim, um final um pouco decepcionante. Além disso, teve o problema da saída de Adam Sandler na voz de Conde Drácula na versão original, que foi substituído Brian Hull, um imitador de vozes.

Hotel Transilvânia 4, depois de tanta batalha para ser lançado, quase digna das melhores entre Conde Drácula e Dr. Van Helsing, mesmo sendo mais fraca que suas antecessoras, ainda é uma boa pedida pra família no conforto do lar se divertir com o festival de monstros da película, mas infelizmente fica um ar de que pra fechar essa história, podíamos ter um filme com um roteiro mais divertido, deliciosamente non sense com suas belas tiradas e abusando mais da incrível fauna de personagens que compuseram a saga e fizeram dela tão famosa e lucrativa.

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