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    CINEMA Críticas

    Crítica: Golpe de Sorte em Paris

    Crítica: Golpe de Sorte em Paris
    • Publishedsetembro 17, 2024

    Suspeito de falar, como eu ainda defendo aquela máxima que qualquer filme do gênio Woody Allen, por menor que seja, ainda é maior que 90 por cento do cinema feito hoje em dia, então a expectativa de assistir um novo filme do Allen é sempre bem vinda, ainda mais quando, contrariando os canceladores, a idade, os estúdios grandes e o próprio país natal que o abandonou, ele resolveu gravar em Paris o seu filme de número 50. E em língua francesa. Com o nome de Golpe de Sorte em Paris (Coup de Chance, 2023), temos a oportunidade de conferir o que será o canto dos cisnes do diretor (será?).

    O filme conta a história do casal Fanny e Jean. Ele, um cara rico e fútil, que ganha dinheiro deixando as pessoas mais ricas, e ela, uma submissa esposa, que para fugir do tédio trabalha em uma casa de leilões. Um dia, naqueles encontros, que como diria o poeta Vinícius, é uma arte, se depara com o ex-colega Alain. Os dois estudaram juntos nos Estados Unidos e ele está em Paris para escrever seu novo livro. O rapaz confessa que é apaixonado por Fanny, que tendo em vista a arrogância e dominação do marido, acaba cedendo à paixão e acaba tendo um tórrido romance com o ex-colega. Mas Jean não mede esforços para ter tudo que quer na vida, um dia, um sócio seu sumiu, ele enriqueceu demais e agora contrata detetives que descobrem a traição da esposa, e com seus contatos do submundo, não poupará esforços para se livrar do amante da mulher.

    Voltando à máxima que qualquer filme de Allen com menos estofo é melhor que muita coisa em cartaz, infelizmente Golpe de Sorte em Paris quase contraria a regra. No rol dos seus 50 filmes, com certeza ficaria entre 44 para baixo. Mas digo quase, porque se faltou sal e tempero num cansado Allen, em uma história que tem tudo que ele já filmou, traição, mistério, sorte, destino e paixões avassaladoras, a fotografia de Vittorio Storaro é um show à parte, tendo o mérito de mostrar Paris, mas sem nos apresentar o óbvio da cidade. Temos a pitada classuda do jazz com doses generosas de Herbie Hancock em Cantaloupe Island. Receitas infalíveis para um agradável passatempo. Mas infelizmente, nem com o suco saboroso de Woody Allen, falta roteiro que prenda, química entre os atores e o mais trágico: o filme tem muito pouca graça. Longe da ironia ora fina e outras exageradas dos seus filmes, Golpe de Sorte carece de graça.

    A culpa não é dos atores, Lou de Laâge entrega bem como a dividida Fanny, que ao mesmo tempo queria ter uma vida melhor se entregando a uma nova paixão e que vive presa e dominada pelo desprezível Jean. Melvil Poupaud irrita o espectador com sua arrogância e poder de manipular todos a sua volta, mas com uma performance quase caricatural. Niels Schneider é o escritor apaixonado Alain, que aparece e some sem deixar muitas saudades. Quem seria o Woody Allen do filme é Valérie Lemercier, como Aline, mãe de Fanny, que dá o certo alívio cômico tentando investigar por si só as reviravoltas e mistérios da trama. Mas como já dito antes, tudo com muita pouca graça, fugindo muito das características do diretor.

    Com um pouco de Crimes e Pecados, algo de Match Point, Scoop, e com a paisagem charmosa dos filmes de Allen, com locações europeias, Golpe de Sorte em Paris, mesmo com essas características básicas romance proibido, morte, quase não engrena, faz rir muito pouco e nem tenta dar aquele ar de intelectualidade auto irônica dos seu filmes. Como quinquagésimo filme, e possivelmente último, lógico que para como eu, fã de carteirinha do gênio tem que ser conferido, mas infelizmente é aqueles filmes que serão facilmente esquecidos e ficará no fim da prateleira do melhor que ele já nos presenteou. Uma nota 2,5 de 5 e com muita generosidade, mas não esquecendo, é um filme do Woody Allen, apenas isso basta para termos respeito.

    Written By
    Lauro Roth