Em meio a franquias de multiverso onde heróis da Marvel e DC digladiam por bilheteria, na maioria das vezes em filmes terríveis, dois ícones do cinema também ganharam um multiverso para chamar de seu. O macaco gigante King Kong e o lagarto radioativo Godzilla, através da produtora Legendary, desde 2014 tentam inserir o universo de monstros gigantescos, destruição em massa e batalhas titânicas entre os grandalhões. Entre algumas boas surpresas e outros dispensáveis, eis que essa semana o quinto filme dessa junção, Godzilla e Kong – Um Novo Império (Godzilla x Kong – The New Empire, 2024), com direção do mesmo que dirigiu o quarto filme, Adam Wingard.
Em um planeta Terra calejado de tanto ser destruído por monstros gigantes, Kong está bem alojado na Terra Oca, um local no subterrâneo da Terra, onde um elo perdido de criaturas habita. O gorila passa o tempo fugindo das mais diversas espécies, tem dor de dente, caça e estraçalha suas presas, toma banho, enfim está de boa no seu novo habitat. Godzilla, às vezes coloca a cauda pra fora e tem que enfrentar perdidos monstros que atacam a Terra, mas nas horas de descanso escolheu o Coliseu romano como berço para suas sonecas. Enquanto isso, na mundana vida dos humanos, a menina Jia tem dificuldades de adaptação na sociedade, e recebe algumas mensagens do seu amigo Kong de que algo não está bem. Godzilla também anda meio cabreiro e começa a ficar incontrolável. Resta à Dra. Ile Andrews, agora acompanhada por um veterinário de monstros, Trapper, e o mala Bernie, que ainda continua com seu podcast sobre monstros, irem à Terra Oca e investigarem quem perturba a vida dos gigantes quase amestrados Kong e Godzilla.
O tal MonsterVerse, criado em 2014, tem alguns bons momentos, o primeiro filme funciona bem, o Kong, na Ilha da Caveira é muito bom, depois se perdeu na mão, e até a primeira junção dos dois no último filme, tirando as belas batalhas, carece de um roteiro que prenda atenção. E Godzilla e Kong – Um Novo Império carece desse mesmo problema. O filme é uma beleza visual incrível. As cenas na Terra Oca, onde é mostrado o cotidiano de Kong e a origem das espécies, são de um esplendor de CGI fantástico. O mesmo vale para as aparições de Godzilla em Roma que são de tirar o fôlego.
Tem que ter muito talento para fazer cenas de lutas corporais de monstros em paisagens diurnas, e isso quando o filme faz, é um brilhante passatempo. Mas o grande problema do filme não são as titânicas criaturas e sim o vazio roteiro e as pífias atuações dos humanos. O filme tenta dar aquele tom de aventura oitentista, com muita música boa, quebra de ritmo com piadas, heróis improváveis, enrascadas e uma salvadora da pátria. Mas se perde num roteiro sem sentido com explicações longas e desnecessárias sobre a Terra Oca, inclui uma tribo perdida (olha os anos 1980 aí), em suma, muita ladainha pra pouca pancadaria que é o que queremos. No caso dos atores, Dan Stevens totalmente sem graça como um Dr. Dolittle de monstrengos, Trapper, Brian Tyree Henry, mais uma vez como o chato conspiracionista Bernie e nem Rebecca Hall salva, mais uma vez como a Dra. Andrews, num papel sem sal.
Porém, o filme acerta menos quando dispensa os atores e o pau come entre as criaturas. O momento em que Kong encontra seus semelhantes, com direito até a uma citação à 2001 – Uma Odisseia no Espaço (ao menos eu vi isso), é muito bem feito, mas o que poderia ser um acolhimento, se torna uma guerra primata, num local cheio de fendas dimensionais, gravidade invertida e o principal, pancadaria de primeira. Quando o papo furado abre espaço pras batalhas dos monstrengos a coisa começa a esquentar e esse espaço que o diretor e o roteiro deu, de proporcionar mais protagonismo aos monstros que os humanos (até porque quando deu chance aos humanos foi de uma chatice sem tamanho) é o grande acerto do filme, o que é uma pena, pois demorou pra chegar nesse ponto. Skar King, o macacão laranja, é um vilão perfeito que junto com Shimo, um quase clone do Godzilla, só que um pouco gelado, provocam a junção dos dois herois, que parecem como aquelas duplas de policiais que se odeiam, mas tem que unir forças pra se salvar e salvar a Terra.
As pirâmides do Egito também sofrem nas mãos dos grandalhões e infelizmente sobra até pro Rio de Janeiro, em um dos grandes pontos altos no quesito ação do filme. A cidade maravilhosa literalmente para e assiste os gigantes se engalfinharam, sem antes causarem bons estragos. Espero que tenham seguro as edificações, porque as vidas que ali devem ter se ido, não tem preço… e ainda querem que tenhamos dó dos gigantes… enfim.
Godzilla e Kong – Um Novo Império é daqueles besterois com roteiro zero, mas que tenta dar ares de profundidade a um vazio de história. Acerta mesmo e é um gigante como um mero passatempo, bom para se assistir no cinema, com a tela grande, o festival de berros, socos, raios e confusão das duas prediletas criaturas do cinema, tudo isso com efeitos fantásticos, uma música que não pára um instante, tentando dar emoção até para uma extração de dente do Kong e onde os humanos são coadjuvantes de mais uma sessão de luta livre de outro mundo. Se gostas de tudo isso é o filme perfeito, se procura algo mais profundo que uma piscina infantil, nem olhe o cartaz…