Crítica: Ghostbusters – Mais Além

No ano de 1984, no cinema, vivíamos uma enxurrada de slashers movies, um monstro com camisa cor sim cor não que invadia os sonhos de adolescentes, um serial killer com máscara de hockey e comédias com teenagers (apesar de atores não tão teen assim) que lotavam os cinemas. Mas nesse ano cinematográfico, onde tivemos ainda um Eddie Murphy que era um verdadeiro “tira da pesada”, Indiana Jones passando poucas e boas num templo da perdição, um sarcástico Mozart e um ressentido Salieri no filme Amadeus (que abocanharia vários prêmios do Oscar no ano seguinte), um filme de assombração diferente entrou para a história e coração dos espectadores. Usando muito nonsense, pseudociência, sobrenatural e humor, Harold Ramis e Dan Aykroyd criaram um roteiro em que um grupo de cientistas despejados da academia tradicional, resolve caçar fantasmas e assombrações na Nova York de 1984. Falo, é claro, de Caça-Fantasmas (Ghostbusters, 1984), filme que teve mérito de tornar um grupo de quase anti-heróis a salvadores da Terra. A franquia gerou uma continuação razoável em 1989, e uma espécie de refilmagem em 2016, usando caça-fantasmas mulheres. O sucesso estrondoso do filme gerou desenhos animados, brinquedos, souvenirs, uma música deliciosamente chiclete e uma legião de saudosos fãs, que agora em 2021, têm a oportunidade de matar um pouco sua nostalgia com o lançamento de Caça-Fantasmas – Mais Além (Ghostbusters – Afterlife, 2021), dirigido por Jason Reitman, filho de Ivan, que dirigiu o primeiro filme.

Callie é uma mãe solo quebrada financeiramente, que se vê obrigada a sair de sua cidade e levar os dois filhos para morar na fazenda de seu recém-falecido e ausente pai, na cidade Summerville, em Oklahoma. Lá, a jovem Phoebe e seu irmão mais velho, Trevor, se veem obrigados a entrar no ritmo da pacata cidade. Phoebe é uma gênio prodígio fascinada por ciência e acaba descobrindo que seu avó (considerado um lunático e antissocial na cidade) era um grande cientista e que foi um caça-fantasmas nos anos 1980. Em paralelo, alguns estranhos acontecimentos começam a acontecer na cidade, como terremotos, aparições de fantasmas e uma estranha energia de uma mina abandonada e podem estar por trás disso tudo. Phoebe então resolve juntar seu irmão e uns novos amigos para, com os equipamentos que seu avô deixou, salvar a cidade e, por que não? – o mundo da mesma ameaça que quase destruiu Nova York em 1984.

É difícil assistir à terceira parte da franquia dos caça-fantasmas sem se emocionar um pouco (a filmagem com as mulheres no papel dos caçadores de ectoplasma não faz parte dessa sequência). Fica até difícil explicar para novas gerações a importância e a representatividade para a cultura pop dos anos 1980 que o filme de 1984 teve. Nessa nova história, Jason Reitman, talentoso diretor e filho de Ivan Reitman, responsável pelo original, nos dá praticamente uma emocionante e caprichada refilmagem, usando o primeiro filme como mote. Tendo como protagonistas os netos de Egon Spengler (saudoso Harold Ramis), é quase uma aula de bom cinema infanto-juvenil nos moldes antigos, mas com efeitos e tiradas modernas. A série Stranger Things teve como mérito resgatar o melhor dos mistérios e aventuras da garotada dos anos 1980, e aqui Jason com um roteiro dele e de Gil Kenan, usam e abusam de clichês divertidos do que de melhor as histórias envolvendo a garotada o cinema produziu. Cidade do interior, fazendas assombradas, maldições, minas abandonadas, descrença de autoridades, enfim, tudo bem roteirizado e bem realizado. Se os efeitos de 1984 já impressionavam e até hoje surpreendem, neste eles usam tudo o que de melhor o CGI pode nos dar em impressionantes tomadas, assombrações, raios antiectoplasmas coloridos, minimonstros de marshmallow, enfim, um show visual.

O elenco funciona muito bem, Mckenna Grace, como Phoebe, praticamente é uma cópia mirim do seu avô Egon, mostrando uma maturidade e talento no papel principal e uma personagem que traz um amor à ciência e suas maravilhas. Finn Wolfhardt (Stranger Things), como Trevor, também brilha como o oposto da irmã, ela uma genial e precoce cientista e ele um atrapalhado adolescente que apenas tenta se inserir na pequena cidade. Carrie Conn, como Callie, a mãe dos garotos, cumpre bem o papel da ressentida filha e Paul Rudd, como o professor Grooberson, é apenas Paul Rudd de sempre, o que é sempre divertido. A participação especial dos três caça-fantasmas Bill Murray, Dan Aykroyd e Ernie Hudson é quase como uma vibração de gol. Emociona o fã da série e mesmo com pouco tempo em cena, é suficiente para matarmos a saudade. E como sempre repito: um filme com Bill Murray nem que seja por 15 minutos (ou nem isso) já vale mais que uns noventa por cento de qualquer filme atual, e imagina juntar o Dan Aykroyd. Vira é gol de placa. E Jason não deixa de prestar uma bela homenagem ao falecido e talentoso Harold Ramis. O final da película é de uma sensibilidade e emoção que faz qualquer fã da franquia escorrer uma lágrima quente pelo olho, tamanho clímax. Assistir os velhos heróis de volta é uma experiência incrível.

Caça FantamasMais Além, é uma escancarada e bem realizada ode aos 1980.  Desde a escola de Phoebe, onde ainda se assistem filmes clássicos do horror daquela década em fitas VHS, até o visual retrô de alguns personagens é, acima de tudo, uma justa lembrança ao clássico de 1984. Bom acerto foi tirar a história de nova York e colocar numa pacata cidade interiorana, mas fora isso, vemos o que Caça-Fantasmas tinha de melhor, o carro equipado Ecto 1, um fantasma meio clone do Geleia, que come aço ao invés de se empanturrar com comida, os monstros guardiões, o gigante de marshmallow, a mesma inimiga do filme, a vilã Gozer, velhos equipamentos e armadilhas, enfim, o saudosismo repaginado, com uma boa história bem amarada ao estilo da década de 1980 e novos e bons personagens, tem tudo para dar uma continuação das boas. Além de enterrar de vez o fraco filme de 2016, que vai ficar apenas na história como mera curiosidade. Assista sem medo (até porque os fantasmas do filme não metem muito), leve a família, quem sabe reveja o primeiro filme antes, se desligue do mundo e entre numa máquina do tempo. E se precisar de ajuda, ligue para 555 2368, e saiba quem irá os defender.

Sinopse: Do diretor Jason Reitman e produtor Ivan Reitman, vem o próximo capítulo do universo original de Ghostbusters. Em Ghostbusters: Mais Além, quando uma mãe solteira e seus filhos se mudam para uma pequena cidade, eles começam a descobrir sua conexão com os caça fantasmas originais e o legado secreto que seu avô deixou para trás. O filme foi escrito por Jason Reitman & Gil Kenan.

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