Crítica: Garfield – Fora de Casa

Existe uma coisa que posso afirmar com toda a autoridade na cultura pop: não tem como não gostar do Garfield. O gorducho, fofo, amarelo gato criado em 1978 por Jim Davies é o protótipo da boa vida. Gosta de conforto, televisão, comer lasanha, queijo, pizza e faz do cachorro Odie e seu dono Jon, seus semi escravos para servir a boa vida do felino folgado. Pena que nunca deu sorte em adaptações para o cinema. Live actions cretinas e animações ruins eram as tônicas dos filmes do guloso gato. Mas essa semana estreia uma nova tentativa de adaptar o rei das tirinhas e maior inimigo das segundas-feiras. Garfield – Fora de Casa (The Garfield Movie, 2024), com dedo da Sony e direção de Mark Dindal, aporta nos cinemas na quarta-feira, dia do trabalho.

Um Garfield que usa e abusa do cartão de crédito de Jon ao pedir comida por aplicativos, passa a maior parte do tempo descansando em poltronas confortáveis e incomodando Odie, conta uma triste história, de como quando era um filhote, foi abandonado pelo seu pai, o gato Vic. Sorte dele que encontrou um solitário Jon, que prontamente foi adotado por ele, sim pelo Garfield. Mas traumas passados pareciam estar enterrados na mente do felino, até que Odie e ele foram sequestrados por uma dupla de cães vira-latas, Ronald e Nolan, a mando da gata Jinx. Garfield então reencontra o pai, que é obrigado a se juntar a eles e roubar um caminhão de leite. O peludo laranja nunca esqueceu o que seu pai fez e os dois têm muita dificuldade de se entenderam, mas precisam se unir para enfrentar a vingativa Jinx.

Felizmente temos uma adaptação digna do nosso querido Garfield. Um traço simples, moderno e extremamente eficiente. E vamos combinar, quando somos apresentados ao pequeno Garfield e seu primeiro encontro com Jon, é difícil se controlar, de tamanha emoção das imagens de onde começou a relação entre os dois. E o filhote é de uma fofura contagiante, mas desde pequeno já tem uma predileção por comer bem e viver. A cena dele em cima de uma embalagem de isopor indo por uma correnteza de uma rua alagada é de partir o coração, até o resgate de Jon. Em suma, o filme já começa de uma forma muito bonita e cativante.

Mas o filme é mais que isso. Em uma animação simples e competente, cria uma história muito bem costurada, em que o mote é a relação pai e filho. Garfield tem dificuldades de superar os seus fantasmas, abomina seu pai, que tenta de todas maneiras, ao seu jeito, conquistar o filho. Ambos são muito diferentes, Vic é um esperto gato da rua, aplica golpes e tem a malandragem da vida na essência, já Garfield é um boa vida, caseiro, moderno, que tem além de dificuldade de perdoar, muita resistência em se adaptar à realidade que encontra junto ao pai, de realizar o tal assalto. E mesmo assim, Garfield, mimado como só ele, tenta no seu orgulho, provar para o pai que suas espertices de gato com dono, pode se equiparar à vivência do pai, um gato escaldado.

O filme também aposta em um time de coadjuvantes de respeito, desde a gata Jinx, que saliva vingança contra o malandrão Vic, aos seus capangas Roland e Nolan, um deles um cachorro enorme cheio de dobras e voz de maldoso e o outro, um cachorro eufórico e desastrado e, segundo ele, com déficit de atenção. Até um touro, o Otto, serve como guia para nossos heróis, responsáveis por grandes piadas e aventuras do filme. Jon, o dono, é bem escanteado na trama e Odie está gracioso como o melhor amigo ou escravo do Garfield.

Muitas piadas são rápidas, como tom de tirinhas de cartoon, outras mexem com a cultura pop, um trem em movimento em que até Tom Cruise é lembrado e o streaming preferido ser o Gatoflix, um humor leve, solto e de fácil assimilação, tanto para as crianças, como para os fãs do personagem e para quem é fascinado por gatos.

Garfield – Fora de Casa é uma pedida e tanto para os pequenos e para os grandes também. O carisma do gato amarelo finalmente é colocado na medida nas telonas.  Um filme que mantém a essência do personagem, é acessível, nos apresenta um Garfield encantadoramente irresistível como um filhote. Também tem seu momento de reflexão, em que a dificuldade de entender o abandono e o mais difícil, ter força para o reconciliamento, é um obstáculo e tanto na vida, tanto de qualquer ser humano, ou na de um personagem de quadrinhos apaixonado por lasanha. E se esse perdão tem que vir de alguém tão importante quanto o relacionamento de pais e filhos, às vezes precisamos dar o braço a torcer e ver o que é melhor para nós. Enfim, chega de vã filosofia, vá ao cinema, com um copo de refrigerante e pipoca e se delicie com o gato mais querido e genioso de todos. Diversão no ponto!

 

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