Crítica: Era uma Vez um Gênio

“Hey gênio, só você pode dizer que sim, hey gênio, faz ela voltar pra mim”. Com essas frases que Sylvinho Blau cantava na canção Palavra Mágica, do grupo Absyntho, nos anos 1980, começo a falar sobre o novo filme de George Miller, responsável por nos dar Mad Max para o mundo, mas que derrapa feio quebrando sua lâmpada mágica com seu Era uma Vez um Gênio (Three Thousand Years of Longing, 2022).

Alithea Binnie é uma professora e pesquisadora de lendas e histórias, constantemente assombrada por alucinações e demônios. Viaja o mundo dando palestras, contando suas teorias e teses, até que em uma viagem a Istambul, na Turquia, compra um artefato em uma das milhares lojas de antiguidade da região. Resolve limpar o frasco na pia do banheiro com uma escova de dentes elétrica e quebra o recipiente. Para sua surpresa um enorme ser surge no meio da fumaça e se apresenta como Djinn, um gênio cheio de histórias, que se oferece a ofertar três desejos. Alithea fica um pouco chocada com a situação, mas acaba levando na razão, fica em dúvida no que pedir de desejo e acaba resolvendo ouvir as histórias do Gênio, histórias de tempos idos incluindo a Rainha de Sabá, reis otomanos e guerreiros turcos e como ele sempre acaba aprisionado. Enfim, eles vão criando um laço forte e um ajuda o outro, de uma maneira mais humana, com muita cumplicidade e amor.

Tédio e decepção. Essas são as duas palavras que me veem à cabeça quando penso no novo filme de Miller. Uma adaptação dele e de Augusta Gore para um conto de A. S. Byatt, chamado The Djinn in the Nightingale’s Eye. Uma história caprichada de efeitos especiais, mas peca pelo ritmo lento e perde muito tempo com uma trama que pretende ser profunda e adulta, mas não leva a lugar nenhum, beirando o tedioso. Chega a ser estranho George Miller, sempre com aquele ritmo alucinante de seu Mad Max, apesar de apresentar uma película que tem uma edição impecável e belas imagens, principalmente nas aventuras vivenciadas pelo Gênio, nos tenha dado um filme tão monótono. Um conto de fadas sem graça que desperdiça um interessante enredo.

O casal de atores Tilda Swinton, como a aborrecida e atormentada Alithea, atua com a segurança e classe de sempre e, ao invés de se deslumbrar com o gênio, resolve enfrentar de maneira realista e adulta a inusitada situação e Idris Elba, como o Djinn, gênio mais traumatizado que poderoso, cumpre bem seu papel, fugindo um pouco do  perfil chavão dos gênios do cinema, mas apesar de dois bons atores e atuações corretas, não encontrei uma química tão forte no casal, faltou alguma coisa a mais na relação entre os dois, atrapalhando mais ainda o desenvolvimento da pouco agradável trama.

Pra não dizer que não falei de coisas boas, as reconstituições das histórias do Gênio desde o reino da Rainha de Sabá, até os sultanatos e o império otomano são de uma beleza e requinte visual brilhante, palácios imponentes, reconstituições perfeitas, tomadas aéreas de extremo bom gosto, mas quando volta para os dias atuais, o filme se perde em diálogos insossos que pouco acrescentam ao tal ar de profundidade que o filme tinha como intenção passar. E a conclusão do filme coroa com êxito o péssimo acabamento da história, uma relação entre gênio e amo que descamba para o amor espiritual, carnal, mas que é concluída apressadamente, além de ser decepcionante.

Era uma Vez um Gênio é um pretensioso filme, que peca em não saber aproveitar uma história que com um roteiro menos lento, uma direção mais ágil e digo, um casal de atores menos blasé, tinha tudo para dar certo, mas como George Miller parece que gastou toda a gasolina nos Mad Max, nos apresenta um filme devagar, quase parando, que pode provocar muito sono em quem tentar, nas quase duas horas de exibição, adentrar na pitoresca relação de Alitheia e Djinn. E citando mais uma vez o clássico do Absyntho: “Eu sou um gênio, tu és o meu senhor”, se ao menos Tilda brincasse de gênio e senhor, o filme poderia ter um ritmo que agradasse ao público. Uma pena.

 

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