Crítica: Do Jeito que Elas Querem – o Próximo Capítulo

Em 2018, o diretor Bill Holderman, com roteiro seu e de Erin Simms, juntou quatro atrizes experientes e criou uma agradável história, sobre quatro amigas de décadas que se reúnem esporadicamente para debater um livro que as quatro escolheram previamente. Esse clube do livro era composto por uma recém-viúva, sempre alvo de preocupações das filhas; uma dona de restaurante e com um casamento sólido, mas que se sente por vezes abandonada pelo marido; uma ricaça dona de si que nunca casou e viveu a vida que quis e uma juíza divorciada fechada para novas aventuras amorosas. O filme era Do Jeito que Elas Querem, uma agradável surpresa, por mostrar o cotidiano amoroso de quatro mulheres com mais de 65 anos. Cinco anos depois, Bill junta o mesmo elenco e faz a continuação do charmoso filme, Do Jeito que Elas Querem – o Próximo Capítulo (Book Club 2 – the Next Chapter), uma das estreias de cinema dessa quinta-feira.

Alguns anos depois, as quatro amigas continuam se reunindo, só que online, em vídeo chamadas e continuam debatendo os livros. Sharon se aposenta da magistratura, Carol devido à pandemia, ao infarto do marido e ao cansaço, fecha o restaurante, Diane mora sozinha, mesmo contrariando as filhas e mantém o romance com Mitchell e Vívian surpreende a todas dizendo que vai se casar com Arthur, paixão reacendida. Passado o isolamento, as quatro se reúnem novamente e decidem fazer uma despedida de solteira para Vivian e realizar o sonho de irem todas juntas para a Itália e comemorar os 50 anos de amizade.

Time que está ganhando não se mexe e depois do sucesso do primeiro filme, Bill Holderman junta o quarteto fantástico, Diane Keaton, Jane Fonda, Candice Bergen e Mary Steenburgen, dessa vez tendo como cenário as belezas das paisagens italianas. Roma, Veneza, Toscana são personagens da história, que deixa de lado um pouco o clube do livro, pra mostrar que para se divertir não existe idade e que amizades douradoras são um tesouro sem preço. No caso, até o livro que inspirou as meninas a fazer a viagem foi O Alquimista, do Paulo Coelho, que é esporadicamente citado no filme de forma irônica, às vezes, mas serve como inspiração para uma busca das quatro amigas pelo autoconhecimento na Europa. O que vemos são situações hilárias, humor elegante, mulheres bem resolvidas e vividas vivenciando o sonho de aproveitarem a vida juntas. Claro que não faltarão situações como malas roubadas, encontros com amores do passado, aventuras românticas, transgressões, e foco principal em Vívian, aquela mulher decidida que jamais iria se entregar a um casamento, finalmente está se entregando às convenções.

O quarteto, como sempre repetindo com maestria seus bons papeis do primeiro filme, mas destacaria Candice Bergen, como Sharon, a juíza aposentada, cada vez mais solta no papel, fazendo as melhores piadas, realistas e divertidas. Diane Keaton sempre a simpatia em pessoa, como Diane, dessa vez querendo soltar as cinzas do marido, já que ainda as tinha guardado. Mary Steenburguen, doce como sempre, dessa vez de bem com o marido, baqueada pela condição de saúde dele, mas sempre mostrando otimismo, com direito a uma hilaria competição de quem faz melhor pasta com um ex-affair italiano em Veneza. Jane Fonda confesso que é a mais fraca do elenco, tanto no primeiro filme quanto nesse, nos passa um papel um pouco vazio e mesmo empoderada não transmite o poder todo que a personagem de Vivian parece possuir, não justificando tanta importância na trama. Completando o elenco, os homens coadjuvantes de luxo, como Andy Garcia, o piloto e novo amor de Diane, Mitchell. Don Johnson, como Arthur, eterno apaixonado por Vívian, Craig T. Nelson, como Bruce, o marido de Carol. A lenda italiana Giancarlo Giannini faz um divertido policial que sempre acode o quarteto nos apuros que elas passam e tem um grande duelo verbal, com tiradas ótimas, com Candice Bergen.

Claro que a continuação, como falei no início, não foge do padrão do primeiro filme, só muda o cenário, acaba fortalecendo mais ainda a amizade do grupo, mostra os problemas mundanos de mulheres maduras e bem sucedidas, mas encanta pela trama suave e elegante, com um humor com tiradas sutis, sem forçar a barra, sem apelar, além de mostrar uma bela química entre as quatro experientes atrizes. Um ponto marcante do filme, que ao menos para mim, parece ser um dos primeiros a tratar sobre a pandemia. No início da trama os encontros por vídeo chamadas, as dúvidas, o isolamento, restaurante sendo obrigado a fechar, saúde mental em frangalhos, confesso que esse retrato trouxe amargas lembranças daqueles anos abomináveis e muito bem retratados na película.

Do Jeito que Elas Querem – O Próximo Capitulo é um filme agradabilíssimo, que joga na defensiva, não inventa no que deu certo e fala sobre valores essenciais ainda na sociedade: a força de amizades longevas e o quanto elas são importantes para nos mantermos felizes e dispostos, o quanto o amor não tem idade e para conquistá-lo basta querer e se entregar. Enfim, um excelente passatempo com a Bella Italia de cenário, lindamente fotografada, muita música italiana, ótimas atuações, leveza e bom humor, uma certeira pedida para pegar a próxima sessão de cinema sem medo.

 

 

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