Crítica: Boneco de Neve (2017) | Um thriller assistível, mas descartável.

Olá, pessoal, tudo bem? Sentiram minha falta? Que saudades que eu estava de poder escrever e compartilhar meu conhecimento cinéfilo com vocês! Peço desculpas pelo sumiço repentino das últimas semanas, mas o mesmo é decorrente daquilo que inúmeras músicas e ditados populares nos ensinam há anos: “a vida é feita de mudanças, e habituar-se ao novo é preciso”. Por fim, mudando um pouco de lado (é, a minha rotina não vem ao caso), venho agora lhes contar sobre The Snowman, um thriller aterrorizante baseado no livro de Jo Nesbø, que chega aos cinemas brasileiros essa semana e, aparentemente, parecia ser uma das grandes surpresas que o restinho desse ano a nós reservava; pena que às vezes as aparências enganam. Então será que vale a pena conferi-lo no cinema, no conforto de sua casa ou em nenhum dos dois? Fique comigo e descubra a seguir a resposta!

Adaptações de livros para as telas tem sido bem decorrentes recentemente. É só parar pra olhar, que semanalmente (ou até mensalmente) surge aquele filme baseado no best-seller de fulano(a) tal, sucesso de vendas mundial, e que sofre de uma dose estratégica – e por que não, apelativa – falando nua e cruelmente da nossa realidade. Boneco de Neve é mesmo a prova viva de que o desperdício de potencial ocorre quando menos se espera, pois embora o elenco em questão esteja reforçado, houve falhas sim, e as coisas não saíram como planejado. Na história, quando uma mulher desaparece, a única pista deixada para trás é um cachecol rosa encontrado envolta de um estranho boneco de neve. Não demora muito pra que o detetive Harry Hole (Michael Fassbender, do ótimo Fome) comece suas investigações e perceba que o crime parece ser obra de um astuto serial killer.

Confesso que vi o trailer e a expectativa foi lá pra cima, visto que o mesmo reuniu as melhores cenas (estratégia típica dos trailers de hoje em dia) e fazia com que surgisse o interesse do público. Entretanto, ao ver a obra em si, me deparei com um ritmo à la A Garota no Trem (porém inferior), cuja sensação foi de imediato a pura admiração e, depois, uma sútil desilusão. O motivo? Explico. A começar pelo enredo arrastado (não que eu tenha problema com filmes parados, curto muitos deles), e em seguida, pelo fato do roteiro ter pecado (e oscilado repetidamente) entre seu 2º e 3º ato, no quesito envolvência. O início da película é bem escoltado, e a abertura já vai criando uma apreensão no público por um súbito momento de tensão que, não obstante, pode ao mesmo tempo confundir a cabeça dos que não leram o livro (vide a pessoa aqui).

O problema está justamente no desenrolar da trama, uma vez que os instantes posteriores além de parados, enchem os telespectadores de distrações, que nada mais querem do que embaralhar até a mente do ser mais concentrado na teia de eventos ocorridos em suas quase 2 horas. Em várias cenas um ponto positivo foi a questão do assassino em série estar sempre um passo à frente dos detetives, e fazendo joguinhos com eles, visando, sobretudo, a execução de um plano perfeito e comicamente planejado, no qual pequenas mensagens e conexões sinalizem a próxima vítima. Todavia, me pergunto: qual o verdadeiro nexo das dimensões que os bonecos de neve em si guardam? Ressalto que nunca li o livro pra desvendar tal dúvida, por isso não posso dizer que ele com certeza agradará todo mundo, mas enfim, é só um detalhe.

Inclusive, algo que me desapontou foi o desenvolvimento dos personagens num apanhado geral, especialmente o desfecho da Katrine Bratt, interpretada pela atriz Rebecca Ferguson (do excelente Vida). Entretanto, não afirmo que as atuações são ruins; longe disso. Tanto Michael Fassbender e Charlotte Gainsbourg (Melancolia) quanto J.K. Simmons (Whiplash – Em Busca da Perfeição) e Toby Jones (Atômica) são atores/atrizes incríveis, a questão é que a forma como cada personagem foi construído, suas motivações e atitudes perante o que acontece naquele ambiente, foi tudo deveras previsível, não transmitindo, por conseguinte, a emoção esperada. Óbvio que qualquer um que acompanha um caso investigativo não vê a hora do plot twist chegar, pra que quando a tão misteriosa revelação do assassino(a) se suceder, sejamos surpreendidos e pensemos: “puxa vida, que fim fantástico!”. É com grande desprazer que informo que nem isso o final se deu o mínimo de realizar. Não vou nem comentar sobre a performance do veterano Val Kilmer (Batman Eternamente), que independente de já ter brilhado bastante nas telonas, infelizmente incorporou um figurante sem sal e monótono, o policial Rafto. Além disso, após verificar que Tomas Alfredson – que já dirigiu sucessos como Deixa Ela Entrar e O Espião que Sabia Demais – é quem está no comando, notei que o produtor executivo do filme é ninguém mais, ninguém menos que o próprio Martin Scorsese. É mole?

Ademais, a trilha sonora está ok, porque pelo menos contamos com boas faixas do compositor Marco Beltrami (Pânico) e a fotografia é belíssima (amei as locações da Noruega), elementos estes que salvaram a fita de ser um desastre total, ou sem nada a apontar de positivo. Aliás, todos sabemos que nenhuma produção Hollywoodiana está imune. Afinal, até mesmo o blockbuster mais respeitado pelos brasileiros não deixa de ter seus aspectos negativos. Logo, se você, caro leitor do NoSet, curte o gênero policial e pretende ver algo do tipo que te faz roer as unhas, esqueça Boneco de Neve (apesar do marketing o vender como uma envolvente mistura de suspense e drama). Confira-o num sábado à noite, em casa, numa boa, e acompanhado ainda de pipoca e guaraná (vão por mim, ambos serão indispensáveis), porque este entretenimento pode até ser assistível. Contudo, ficou devendo no sentido mais básico; uma pena. Não deixemos de aguardar pelo o que está por vir, pois lhes garanto, ainda há inúmeras histórias engavetadas por aí, e que anseiam sair do papel, pra poder conquistar o coração de todos nós, os amantes da sétima arte!

Título Original: The Snowman
Direção: Tomas Alfredson
Duração: 119 minutos
Nota:

Trailer:

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