Crítica: Belo Desastre

A escritora Jamie McGuire ficou famosa mundialmente por dar ao mundo das letras uma das séries de livros mais vendidas da última década. Com o titulo de Belo Desastre, a história de Travis Maddox e Abby Abernathy, um casal que em nada combinam, mas acabam tendo um tórrido romance, rendeu diversas obras. Uns quatro romances, uns cinco spin-offs, em suma, uma mina de ouro do mercado literário. Logicamente que o cinema não ia deixar de transpor esse romance para as grandes telas, de olho nos fãs dos livros, e coube a Roger Kumble, que nos anos 1990 nos premiou com o já cult Segundas Intenções (Cruel Intentions, 1998), fazer essa adaptação, que estreia nessa quinta no Brasil, Belo Desastre (Beatiful Disaster, 2023).

Abby Abernath era uma prodígio do pôquer, vivendo em Las Vegas junto com seu pai, ganhava muito dinheiro com seu talento. Um dia, resolveu largar essa vida e partir para Sacramento a fim de estudar na faculdade. Lá encontra uma grande amiga, America, com quem divide o quarto, além de conhecer o valentão do campus, Travis Maddox. O rapaz ganha a vida com lutas clandestinas, é temido por todos os homens, admirado pelas garotas e faz o tipo cara chato e dominador clássico dos filmes estadunidenses. Seria o último cara por quem Abby iria se apaixonar, mas alguma coisa nele chama a atenção dela, e devido a uma aposta, os dois são obrigados a morarem juntos por 30 dias, mas sem contato físico. Enquanto isso, Travis pouco sabe do passado de Abby e nem imagina que esses 30 dias, além de provocar uma paixão entre os dois, esse passado tumultuado ainda vai balançar suas vidas.

Não consigo ser tão maldoso a ponto de fazer um trocadilho com o nome do filme e comparar a qualidade com o seu titulo. Mas infelizmente, Roger Kumble, que assina o roteiro com a própria Jamie McGuire, nos apresenta um filme apressado, sem graça, um casal sem química alguma, atores com atuações fracas, uma montagem confusa e uma história que não empolga. Chega ser clichê usar a palavra clichê, mas o filme é um amontoado deles. Aquela história de um casal em que um não tem nada que ver com o outro, se odeia e aos poucos vão se apaixonando, já foi filmada mil vezes, mas a diferença nesse é que os dois não tem praticamente nada que nos convença que possam ficar juntos. Aliás, o personagem Travis Mad Dod Maddox é um dos mais desprezíveis em tempos do cinema, e mesmo seu biotipo em nada nos faz entender como pode ser tão valentão, imbatível nas brigas e tão adorado pelas mulheres, forçação total de barra. E a maneira de como é contada a história, os 30 dias se passam em tão pouco tempo que fica praticamente impossível acreditar no romance dos dois. Difícil de simpatizar com o casal, e longe de querer uma relação profunda e madura entre os dois, mas ao menos poderiam ter explorado melhor as características dos personagens, que são detalhes na trama.

Abby é interpretada pela eficiente Virginia Gardner, que aqui é responsável pelos melhores momentos do filme, simpática e com um humor ácido, mas difícil acreditar que iria se apaixonar por Dylan Sprouse, que como falei antes, dá vida a um personagem desprezível, em uma atuação fraquíssima, extremamente sem sal e fisicamente pouco convincente, já que pelo livro, talvez um ator maior em todos os sentidos, faria um papel melhor. Os coadjuvantes são tão inexpressivos na história que só merecem ser citados por respeito, a amiga America é interpretada por Libe Barer e o namorado paspalho dela e primo de Travis, Sheppley, ganha vida com o ator Austin North. Brian Austin Green é Mick, pai da garota, jogador e apostador compulsivo e não fede nem cheira na trama.

O que começa com uma comédia romântica de erros, descamba para cenas que parecem mil episódios, temos clara a escatologia clássica, cenas de erotismo que beiram o pastelão, algumas outras de baixo nível, cenas de lutas muito mal coreografadas, pra não dizer que é uma desastre total, tem uma fotografia interessante, mas um final que descamba pra Vegas, cassinos, lutas, mafiosos, incêndios, uma miscelânea da pior qualidade.

Sem fugir da piada, o filme pode até não ser um belo desastre, mas é uma adaptação cansada e pouco inspirada de um grande best-seller recente. Acredito que para os fãs do livro funcione, dependendo do grau de amor à obra original e poderá abrir leque para uma série de cinema, com tanto material de livros, mas para o grande público é uma grande bobagem, filmada sem esmero, com um roteiro fraco e atuações irritantes.

 

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