Crítica: As Aventuras de Poliana – O Filme

Pode parecer incrível que uma história criada em 1913, sobre uma menina órfã de pai e mãe, que foi criada por uma tia rica, severa e sem coração, que via algo positivo em tudo, devido ao seu jogo do contente, ainda ter lugar para a cínica geração infantil e pré-adolescente de hoje em dia. O clássico livro Pollyana, que ajudou a criar até a expressão complexo de Pollyana, para pessoas que vêem qualquer coisa na vida, por pior que seja, como algo que deve ser comemorado porque poderia ser algo pior, ajudou a esposa do nosso eterno patrão Silvio Santos, Íris Abravanel, roteirista de sucesso no SBT, a em 2018, adaptar a história de Pollyana para uma novela da emissora. Depois de cinco anos de exibição, 800 capítulos, uma temporada que a menina cresceu e virou moça e um sucesso estrondoso, o folhetim acabou, mas deixou alguns órfãos, mas a espera dessa galera durou pouco, porque com direção de Cláudio Boeckel, o filme, As Aventuras de Poliana – O Filme (2023) tem data de estreia para essa quinta nas telonas desse Brasil varonil.

Poliana, já entrando na vida adulta, resolve pensar no futuro e se matricular numa faculdade fora do país. Mas devido a um atraso, não ganha a vaga e seu pai, Otto, acha que a menina ainda tem muito que amadurecer antes de soltar as asas de casa. Mas a guria então descobre que um resort com tendências ecológicas, num paraíso litorâneo, está dando vagas para jovens aprendizes. A menina então arrasta seu namorado João, sua melhor amiga Kessya e o amigo da turma Luigi para essa roubada de trabalhar no verão. Coisas de Poliana. Mas ao chegarem lá, veem que era cilada mesmo e a cínica dona do resort explora a meninada, dá pouca bola para uma comunidade ribeirinha que sofre com enchentes ao lado do resort e só pensa em ampliar a já monumental pousada. Então, Poliana e sua trupe descobrem que por trás das inundações constantes da vila de pescadores, a tal ampliação do resort pode ser responsável por essas tragédias que ameaçam o vilarejo.

Poliana do SBT talvez seja um dos maiores sucessos de novela no Brasil nos últimos 15 anos. Na época áurea, a adaptação de Íris Abravanel, a centenária história da menina de pensamento positivo, chegava a bater dois dígitos de audiência, mas foi perdendo a força com os mais de cinco anos de exibição. Mas é um produto que ainda pode dar um resultado e para isso esse filme surge no mercado.

Bom, sobre a película. Confesso que já vi coisas muito piores. O filme tem perfeitos 90 minutos (suficiente para não dormirmos ou nos aborrecermos) e conta uma história bem amarradinha, tem belas locações, e por mais clichês e estereótipos que nos apresenta, não incomoda. Tentando dar profundidade ao filme, posso dizer que é um filme de amadurecimento, fuga da zona de conforto, força da amizade e também – por que não?, denúncia. Foi meio sem querer, mas em uma época em que o Brasil, principalmente a região Sul é tomada por cheias e inundações de rios, o filme mostra um pouco esse drama e tenta explicar que a ação do homem pode estar por trás disso. No caso de um empreendimento e uma maléfica vilã, mas que no fundo, tudo que estamos passando pode ter uma causa na nossa falta de prevenção, invasões a áreas ambientais e descontrole ecológico. Enfim, parece que estamos vendo um filme aprovado pelo Greenpeace e com roteiro da Greta Thunberg, mas não, são apenas as aventuras da Poliana.

Direção do experiente em novelas Boeckel é correta, deixa o roteiro rolar, explora as belezas da região e usa os chavões de sempre, música alegre para momentos de euforia, triste para momentos tristonhos, redondinho, linear e agradável, como deve ser para o público-alvo, o infanto-juvenil, um capítulo caprichado de novela, só que nas telonas.

O quarteto principal tem uma química excelente, afinal os anos de televisão garantiram o entrosamento entre Sophia Valverde, a Poliana, Igor Janssen, como João, Duda Pimenta, como Kessya e Enzo Krieger, como Luigi. E mesmo com um roteiro engessado, cheio de frases prontas e previsíveis, a turma consegue prender a atenção na interessante narrativa e muitas vezes banca a turma do Scooby Doo para desmascarar o dono do parque, digo, a dona do resort. Dalton Vigh, o pai da Poliana, tem pouca participação, sendo que uma ainda é feita por holograma, já que é um grandão da tecnologia, e Bárbara França faz uma vilã com todos os clichês  e estereótipos, mas como é boa atriz, convence, o mesmo não posso falar de Larissa Bochino, outra boa atriz, mas num papel mal aproveitado e com falas e ações com uma falta de naturalidade constrangedora.

Dando meu veredito final sobre As Aventuras de Poliana. Um filme feito para os fãs, muito bem produzido, com uma trama acima da média para produções do tipo, uma turma afiada, trabalho visual interessante, obviamente apenas mais um capítulo caprichado da novela de sucesso, mas que vai fazer a cabeça de quem gosta de Poliana. E como diria a Poliana, mesmo se você assistir esse filme e se arrepender, saiba que temos que agradecer que ainda temos olhos para assistirmos coisas melhores. Enfim, filme SBT feito sob medida para os fãs da menina mais otimista do mundo.

 

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