Crítica: Alien – Romulus

Uma das coisas que mais me irritam no cinema mainstream atual é o vazio de ideias. Vivemos uma era de superproduções que com zero criatividade ficam revisitando clássicos, usando velhas premissas, adaptando personagens já existentes, em uma total falta de ousadia que parece ser criar novas histórias. Quando vi que teríamos mais um filme da série Alien, todo esse discursinho acima me passou na cabeça: por que ainda insistir numa ideia de 1979 em um filme de 2024? Mas como bom crítico (modéstia é meu forte) ou masoquista insistente, resolvi conferir esse novo filme da franquia, Alien – Romulus (idem, 2024), com direção do uruguaio Fede Alvarez, e não é que o filme, apesar de usar a mesma receita de bolo de sempre, é bem interessante?

O filme se passa em algum ponto dos fatos do primeiro filme (Alien, 1979) e do segundo (Aliens – O Resgate, 1986). Um grupo de colonizadores espaciais pretende explorar uma abandonada estação espacial. Eles convidam Rain Carradine e seu irmão, androide sintético e sem graça Andy, porque sabem que o robozão pode ser útil para abrir alguns mecanismos da abandonada estação. Então os manos se juntam a uma desconfiada equipe formada por Taylor, Kai, Bjorn e Navarro. Mas dentro daquele sombrio escombro do espaço, são obrigados a enfrentar o inferno na imagem das criaturas mais perigosas do universo, bastando dentre corredores e portas automáticas fugirem para salvar suas vidas.

Alien – Romulus funciona muito bem. Mesmo usando como referências os clássicos de 1979, 1986, um pouco do Alien 3 e até algo do Prometheus, o diretor consegue, através de uma direção artística e efeitos caprichados, criar aquela atmosfera fantasmagórica e sombria das entranhas da estação abandonada. Mesmo com muito do Oitavo Passageiro, de Ridley Scott, Fede Alvarez capricha nos sustos e tomadas que causam claustrofobia e extrema tensão. Destaque para a perturbadora edição de som que literalmente prende o espectador na cadeira provocando uma imersão auditiva e sensorial na obra. Como ponto negativo, é arrastada a primeira parte do filme, que demora para engrenar com o roteiro do próprio Alvarez e de Rodo Sayagues. Mas quando engrena é um sensacional exemplo do melhor horror sci-fi em muitos anos. Mais uma vez os terríveis Xenomorfos são o destaque no filme, com suas aparições surpreendentes e rebuscado desenho visual, mostrando o porquê de os aliens serem uns dos grandes personagens de horror de todos os tempos.

Nas atuações, destaco os irmãos órfãos protagonistas. Rain interpretada por uma cada vez melhor Cailee Spaeny, mostrando toda a força para orgulhar qualquer Tenente Ripley e seu mano robô, David Johnson, sempre com piadas cretinas, mas mantendo uma atuação perfeita no papel do sintético humanoide. O resto do elenco serve como aquela eterna isca para o banquete dos aliens, cada vez mais ferozes e violentos. Outro ponto positivo é o eterno conflito da tripulação, que jamais entram em acordo e acabam se auto sabotando e se tornando presas fáceis para os gigantes Xenomorfos.

Alien – Romulus é uma gratíssima surpresa, filme bom de assistir no cinema e captar toda a essência da grandiosidade das imagens poderosas e aproveitar cada ruído ou silêncio característico da produção. E ele acerta em cheio no terror mesmo, uma volta às origens profundas do pior pesadelo que o grupo poderia enfrentar tendo em frente as poderosas criaturas. Ainda temos gratas surpresas no final, que ao contrário de muitas produções atuais do gênero, cresce muito no terceiro ato, com cenas impossível de piscar, mas não abusando de frenetismo visuais, e sim cores sombrias, ataques repentinos e soluções rápidas para enfrentar o abominável perigo. Enfim, nos remete ao melhor dos filmes Alien, numa justa homenagem à consagrada série, não comprometendo, ou melhor destruindo, o que de melhor ela nos apresentou.

Fede Alvarez faz o fácil e simples, tem um roteiro sem grande profundidade e reflexões filosóficas, o que é um grande acerto e aposta no que interessa: um terror dos bons, com grandes referências ao melhor que a série fez, aliando um dedo moderno com um impecável trabalho de som e efeitos especiais sufocantes, fazendo de Alien – Romulus um dos melhores filmes do gênero no ano. Um filme 6 estrelas perfeito, e olha que num Saara de grandes produções é um grande mérito.

 

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