Crítica: Ainbo – A Guerreira da Amazônia

Fico extremamente feliz que produções nos últimos tempos tentem explorar culturas diferentes do mais do mesmo no meio cinematográfico. E principalmente em animações. Obras como A Caminho da Lua, belíssimo filme que explora o folclore chinês e que foi um grande sucesso é um caso desses. Fugir um pouco do padrão ocidental de animação é um grande alento em busca da diversidade cultural. Nessa semana estreia nos cinemas uma ótima animação, que se passa na Amazônia peruana, com três bandeiras como produção, peruana, holandesa e norte-americana. Falo de Ainbo – a Guerreira da Amazônia (Ainbo – Spirit of the Amazon, 2021), com direção de José Zelada e Richard Claus.

O filme conta a história de Ainbo, uma jovem aventureira da floresta amazônica, órfã de pai e mãe, que tem como objetivo com seu intenso treinamento, se tornar uma hábil guerreira. Mas a sua aldeia e tribo vive na sombra de uma maldição, na forma do espírito do mal Yakuruna. Um dia sua mãe de criação morre, provavelmente vítima da maldição da implacável entidade. Nesse ínterim, Ainbo também vê sua melhor amiga, Zumi assumir as tarefas de liderança da tribo com apenas 13 anos, já que seu pai está muito doente. Com uma reviravolta surpreendente, a amizade das duas é abalada já que Ainbo é acusada de carregar a maldição herdada de sua mãe que faria mal a aldeia. Resta a menina aprendiz de lutadora das selvas buscar a verdade, com ajuda dos seus guias espirituais e provar para a aldeia o que realmente está ameaçando sua tribo, já que nem sua melhor amiga, acredita mais muito nela.

Ainbo é uma lindíssima animação tendo as profundezas da floresta amazônica, seus nativos e suas lendas como protagonistas desse filme. Aliás, que não deve nada às grandes produções do gênero. Tendo como plano de fundo uma história de superação, recheada de aventuras e o principal: usando a riquíssima mitologia da floresta amazônica como mote do filme. O roteiro, obviamente, não foge muito dos padrões clássicos de animações infanto-juvenis. Ainbo é aquela menina pré-adolescente, que busca superar seus medos, enfrentar o passado e provar para o mundo, no caso a tribo de Kandamo, seu lugar por lá. Para isso conta com seus guias espirituais, uma gigantesca anta de nome Vaca e um esperto e ágil tatu bola de nome Dillo. Nada de novidade em animações do gênero, mas a diferença mesmo é o habitat da produção, as profundezas da selva amazônica, suas entidades místicas e ameaças. Personagens como a tartaruga gigante Motelo Mama, poderosa e sábia divindade que pode abrir os caminhos para a nossa heroína, é de um didatismo excepcional para nos aprofundarmos no cerne da mitologia amazônica. Yakuruna, a personificação da maldade que representa o homem branco, suas máquinas, ganância e exploração desenfreada das riquezas naturais, que com seu poder consegue dividir a aldeia e perturbar os nativos, também é muito bem ilustrado pela imagem do explorador colonialista.

Ainbo tem uma linda animação, explorando o multicolorido cenário da Amazônia, com sua fauna, flora e principalmente seus habitantes. A incrível jornada da menina aprendiz de guerreira em busca de inocentar a si mesma e o legado de sua mãe verdadeira conta com muita aventura, provações, tensão, traições, amizade e  revelações e o interessante é que mesmo a menina contando com a importantíssima ajuda dos seus guias espirituais, a anta Vaca e o tatu Dillo, eles em nenhum momento fazem tudo de mão beijada para ela, eles apenas ensinam e mostram os caminhos que ela deva seguir, e só Ainbo, sua força e coragem podem partir na sua jornada. É claro que um filme com três bandeiras de nacionalidade falando de selva amazônica vai ter suas críticas. Talvez o papel da miscigenação na origem da menina e que o homem branco só está causando o caos na tribo por causa de entidades maléficas, pode dar um ar de superioridade colonial e esquecer o quanto sofrem constantemente as tribos do local e essa passada de pano pode ser considerada nociva. Mas sinceramente, não assisti ao filme com esse ar de julgamento, apenas me deliciei com a mágica epopeia da guerreira Ainbo em busca de reconhecimento e de autoconhecimento.

Enfim, fico muito feliz que tenham mais animações de todos os tipos que explorem diferentes culturas e com qualidade de produção como essa, que consigam encantar a garotada e mostrarem um novo cenário, para nós aqui da América do Sul tão perto, mas ao mesmo tempo tão distante, e que nossas raízes verdadeiramente americanas, pontuadas por essa encantadora película, inspire a molecada a buscar também nossas raízes e, principalmente, divirta e fascine, independentemente da idade, qualquer espectador.

Ainbo – A Guerreira da Amazônia” (Ainbo – Spirit of the Amazon) é uma aventura infantil sobre uma menina de 13 anos que vive em uma comunidade no meio da floresta. Na história a pequena conta com seus amigos animais para lutar contra homens maus que ameaçam a natureza com desmatamento e exploração mineral.

Cada vez mais a Floresta Amazônica aparece em debates globais sobre o futuro do planeta, que acaba prejudicado com o crescimento acelerado das queimadas, a exploração ilegal, e o desrespeito humano com uma das maiores biodiversidades de fauna e flora do mundo. Apesar do filme ser lúdico e ter um mundo de fantasia com animais falantes e magia, “Ainbo – A Guerreira da Amazônia” abre espaço para uma conversa mais profunda entre adultos e crianças sobre preservação, conservação e proteção à natureza e ao planeta que tem no território amazônico cerca de um terço de toda a área de floresta tropical existente na Terra.

Sinopse: Ainbo é a história de uma jovem garota que nasceu e cresceu nas profundezas selva da Amazônia na aldeia de Candamo. Um dia ela descobre que sua terra natal está sendo ameaçada e percebe que há outros humanos além de seu povo no mundo. Usando a ajuda de seus guias espirituais, o tatu magricelo “Dillo” e a anta corpulenta “Vaca”, ela embarca em uma jornada para buscar a ajuda do mais poderoso Espírito Materno da Amazônia, a tartaruga “Motelo Mama”. Enquanto ela luta para salvar seu paraíso contra a ganância e exploração ilegal da mineração de ouro, ela também briga para reverter a destruição e o mal iminente do “Yacaruna”, o demônio mais sombrio que vive na Amazônia. Guiada pelo espírito de sua mãe, Ainbo está determinada a salvar sua terra e seu povo antes que seja tarde demais.

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