Crítica: Abracadabra 2

Se existe alguma coisa pior que mexer numa colmeia de abelha com a mão cheia de açúcar é, algumas décadas depois, algum produtor ou diretor fazer um remake de um clássico ou tentar uma continuação, ainda mais se mexe com filmes que estão na memória afetiva de uma geração. Robert Zemeckis bem que tentou, teve azar de lançar na pandemia, mas fracassou em sua refilmagem de Convenção das Bruxas, e isso que Zemeckis teve todo o potencial de efeitos que o filme original não teve. Mesmo assim, um pouco por causa da pandemia que abria e fechava os cinemas, algumas polêmicas fúteis, mas sim também uma história fraca e mal contada, um filme para se esquecer. Outro clássico desse filão de bruxas era o Abracadabra, de 1993, que na época virou um pequeno cult, com o trio de irmãs bruxas malvadas, as Sandersons, em uma mistura de terror, comédia, história e bruxaria e um trio de artistas afiadas, Bette Midler, Sarah Jessica Parker e Kathy Najimy. 29 anos depois a Disney resolve fazer uma continuação, dessa vez com a direção de Anne Fletcher e com lançamento apenas no canal Disney Plus, falo de Abracadabra 2 (Hocus Pocus, 2022), que estreia nessa sexta-feira.

O filme mostra uma espécie de origem das bruxas. Winnie Sanderson nega um casamento arranjado na Salem do século XVI, e junto com as duas irmãs, Sarah e Mary, são execradas pela comunidade. Fugindo pela floresta acabam encontrando uma bruxa que cede às meninas um livro de feitiços que pode dar a elas o poder da magia, feitiços e a fórmula para se tornarem sempre jovens. Pulando para 2022, 29 anos depois dos eventos do primeiro filme, Salem está em festa e um trio de amigas apaixonadas por magias e feitiços, acabam por descuido, através da vela, libertando as três irmãs, que juram vingança aos herdeiros do reverendo da época que as condenou, no caso o prefeito da cidade e pai de uma das meninas que também tem o sangue que quer ser vingado pelas irmãs, então Becca, Cassie e Izzy tem que correr contra o tempo e se livrar das bruxas que voltaram.

Confesso que qualquer filme que tenha a Bette Middler já vale um ingresso e seu papel como Winnie realmente marcou uma geração e mexe com a memória infantil de muita gente. Bette é uma brilhante comediante, canta muito, tem um carisma incrível e realmente uma continuação do filme de 1993, com as três originais mais uma vez nos tempos modernos não teria muito erro. Anne Fletcher dirige com esmero o filme, fazendo inúmeras referências ao original e atualizando a trama para 2022, e o roteirista Jen D’Angelo, usando elementos fundamentais do filme de 1993, não decepciona, com um roteiro recheado de belas tiradas, principalmente quando as irmãs são libertadas. São impagáveis as cenas delas nas lojas de cosméticos, no concurso de melhores irmãs Sanderson na festa de Halloween, onde drag queens fazem o papel delas, ou a utilização de aspiradores e enceradeiras modernas no lugar de vassouras para voarem, além é claro, da chegada triunfal delas cantando The Witch is Back, em uma versão do clássico do Elton John, The Bitch is Back. O trio de jovens bruxas também está bem, fazendo aquele gênero esquisitas do cinema estadunidense, tem tudo para serem as Sandersons dos tempos modernos, mas politicamente corretas como a época exige. Inclusive, não deixa de surpreender as bruxonas querendo comer crianças e falando abertamente isso em filme de 2022, uma expressão banal tratando de filmes de terrir nos anos 1990, mas hoje realmente é no mínimo curioso.

Já falei da genial Bette Middler, mas a Sarah Jessica Parker e a Kathy Najimy, revivendo os papeis clássicos de quase 30 anos atrás é uma diversão geral, continuam com a mesma essência, a química entre as três irmãs funciona demais com elas roubando o filme quase sempre. Do trio de novas bruxas destaque para Whitney Peak, como Becca, que por descuido liberta as irmãs bruxas, ela tem um papel importante na trama e mantém muito bem o personagem.

Abracadabra 2 diverte bastante, revigora a nostalgia de um tão distante anos 1990, tem uma trama redondinha e efeitos nada exagerados, mas no ponto para o tamanho do filme. Talvez a conclusão final e o embate entre as velhas e novas bruxas na floresta seja um pouco cansativo, com o filme perdendo um pouco o vigor na parte final, abandonando o humor, também não convencendo nas tais cenas sérias, é apenas uma opinião, eu deixaria o tom de galhofa geral, mas filmes da Disney são isso, ainda mais nos anos 2020. Detalhe, uma pena que esse filme vai direto para o canal do Mickey Mouse, impedindo as novas gerações de assistirem com seus pais as bruxas de Sanderson aloprando Salem do século XXI nas telonas de cinema, mas são os tais tempos modernos e nem com mágica boa podemos evitar essas novas táticas dos tubarões do cinema, enfim, quem tiver o canal do rato, assista e divirta-se, porque afinal as bruxas voltaram!

 

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