Crítica: A Fera

O cinema sempre gostou da premissa do terror animal. Humanos frequentemente são iscas fáceis em produções de tubarões, crocodilos, serpentes, cães bravios, javalis, aranhas, lobos, sapos e até gatos. Sim, até os pequenos felinos já amedrontaram no cinema e o que não dizer então de seus “irmãos” bem maiores, os leões de savanas africanas. Baltasar Kormákur mostra mais uma luta da vida selvagem com os homens, dessa vez colocando Idris Elba para passar maus bocados com um leão gigante e super feroz nas savanas da África do Sul, A Fera (The Beast, 2022) estreia nessa semana nos cinemas.

Nate Samuels é um médico de Nova York que ao perder a ex esposa, resolve levar suas filhas à terra natal da mãe, no interior da África do Sul. Elas, Meredith e Norah, típicas meninas da cidade grande, se deparam com muito calor, falta de estrutura e principalmente de sinal de internet. Lá, o Doutor Nate se encontra com um amigo das antigas e conhecido da mãe das meninas, Martin, um defensor da fauna local, e que sempre tem problemas com caçadores ilegais. Martin pretende mostrar as maravilhas da natureza selvagem, mas devido a uma matança de leões, um deles, gigantesco e uma fera sem freios, começa a atacar a todos, e a família acaba presa num jipe com o rei das selvas à solta, louco pra devorar quem ver pela frente.

Com roteiro de Ryan Engle, baseado em uma história de Jaime Primak Sullivan, A Fera é o mesmo filme de sempre, feito diversas vezes, mas que confesso, tem seu charme. Só que ao invés de as possíveis vítimas ficarem em um barco com tubarões ou crocodilos na espreita, dessa vez os Samuels, se veem presos num carro num penhasco com um leão à solta no seu habitat. E o leão não é qualquer um, é praticamente um leão meio Michael Myers do Halloween ou Jason do Sexta-feira 13, o bichano é uma máquina de matar, enfrenta tiros de caçadores, tranquilizantes não fazem cócegas pra ele, quedas de penhascos, fogo, nada detém a besta selvagem. Com grandes efeitos de CGI, os ataques do leão, os confrontos com suas presas são bem realizados, apesar de alguns serem meio surreais (enfim é um filme, né?), e também as cenas gravadas no habitat local, na África do Sul, são bem fotografadas, além da câmera com planos sequencias e mexidas propositais, alguns jump scares que conseguem criar um clima de terror e suspense provocando alguns sustos, por mais previsíveis que sejam, como já disse antes, o mais do mesmo de sempre.

Idris Elba desempenha bem o papel como o pai urbano que tenta se reconectar com suas raízes e ganhar a confiança das filhas, e por mais que já esteja ficando veterano, nos proporciona boas cenas de ação. As meninas também não comprometem, Iyana Halley, como Meredith e Leah Sava, como Norah, bem retratadas como exemplos da geração Z no ambiente selvagem, ajudam a fechar o arco familiar e criar as situações de suspense da trama. Shartlo Copley é o Tio Martin, perito na região, mas que sofre poucas e boas com a fera indomável.

A Fera diz a que veio, nos dá um passatempo curto de uma hora e meia, num thriller de suspense animal, diversão certeira e com cenas diretas e bem realizadas, colocando no rol dos grandes monstros animais, um leão quase invencível, com muito mais de sete vidas e extrema selvageria contra suas vítimas, mostra também a união e conexão familiar como um mote para sobrevivência, faz uma crítica de leve aos caçadores inescrupulosos, que por ganância desequilibram a natureza, e nos mostra belas paisagens africanas muito bem fotografadas. É um filme quase sem roteiro, com atuações protocolares, com mais sugestão de violência que cenas do tipo, mas é uma diversão simples onde a luta pela sobrevivência em um habitat pouco convidativo (claro que ser médico tem suas vantagens nessas horas…) e com uma fera insaciável por perto é o mote central da trama, que pode agradar o público buscando um filme direto e sem grandes pretensões.

 

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