Crítica: A Família Monstro 2

Volta e meia aparecem nos cinemas algumas animações que tentam transportar para o universo da molecada as referências de monstros clássicos do cinema. Um caso de extremo sucesso e qualidade é a franquia Hotel Transilvânia, que utilizando personagens clássicos como o Conde Drácula, lobisomens, monstros do Frankenstein, inseriram divertidamente essas apavorantes criaturas como inofensivos brinquedos ganhos de brinde em franquias de lanchonete. Claro que muitos entraram na onda dos jurássicos monstrengos. Um exemplo foi Uma Família Feliz (Monster Family ou Happy Family, 2017), animação alemã e inglesa que usou uma família típica, cheia de conflitos internos que se transformavam em monstros clássicos do cinema. Claro que, se o filme fez sucesso, ele gera continuação e o mesmo diretor, Holger Tappe, comanda a sequência do filme original que estreia nos cinemas essa semana: A Família Monstro 2 (Monster Family 2, 2021) .

A família Wishbone está eufórica, Baba Yaga, a bruxa que criou o feitiço neles no primeiro filme, mas se provou uma grande amiga, vai casar-se com Reinfeld, o ex-mordomo do Conde Drácula. Mas no dia da celebração, uma esperta menina caçadora de monstros, munida de aparelhos tecnológicos de ponta, invade a festa e sequestra a bruxa e o seu futuro marido. Para a família não resta nada a não ser usar novamente a magia, se transformarem na Família Monstro e partirem em busca do resgate dos amigos, mesmo que tenham que enfrentar um casal símbolo da ciência e do sucesso e sua genial filha.

O primeiro filme, se não chegava a ser divertido, era muito simpático e passava uma ideia de união familiar e o quanto os conflitos internos e a falta de paciência fazem os seus integrantes virarem monstros de verdade (mesmo sem feitiço) e a sequência comandada pelo mesmo diretor abre o leque do universo de monstros e faz uma homenagem altamente high tech aos caçadores de criaturas. A grande diferença do primeiro filme é que esse transfere o protagonismo ao menino Max, que sofrendo humilhações de todo o tipo, prefere ser um monstro a ser exposto numa era de cyber bullying, que em minutos reputações vão pelo ralo conforme as compartilhadas. E com grande importância na história também temos Milla Star, a menina gênia, filha de um casal de cientistas exemplo, que vivem de invenções para dar supostas melhorias para a humanidade, mas cobram um bocado da menina, não conseguindo dar afeto e estímulo à esforçada menina. Os outros são mais coadjuvantes dessa vez, os pais e a filha adolescente servem como escada para os problemas pessoais dos quase adolescentes, mas tudo tratado de uma maneira um tanto superficial. De resto, o filme tem boas tiradas, uma animação agradável e multicolorida, faltando talvez expressões faciais mais vivas na caracterização dos personagens (o mesmo problema a meu ver do primeiro filme), mas nada que atrapalhe o belo entretenimento visual. Um ponto positivo do roteiro é a inserção de novos monstros como King Kong, Monstro do Lago Ness e o Pé Grande do Himalaia, aumentam ainda mais o leque de referências da fauna de criaturas clássicas às novas gerações. Se o primeiro filme tinha um ar mais ingênuo e infantil, apesar de ter como plano de fundo uma família que não se acerta, esse pode agradar uma faixa etária um pouco maior com problemas universais de pré-adolescentes.A Família Monstro 2 não perde em qualidade para o primeiro filme, acho que até tem mais méritos que o original, mas ainda fica longe de ser uma animação que pode entrar para um altar de filmes inesquecíveis das crianças. Tem algumas falhas gráficas, um roteiro simplório e como não tem um ritmo frenético pode entediar o seu público-alvo, porém tem como bela sacada o mérito de unir personagens clássicos do cinema fantástico com engenhocas altamente tecnológicas e de ponta, fazendo um divertido crossover de ficção cientifica com terror, misturando problemas de autoestima, cobranças severas por pais insensíveis, a busca por uma perfeição utópica e, é claro, a certeza que apenas uma família unida pode conseguir resolver seus problemas superando os mais espinhosos desafios, mesmo que esses sejam um Conde Drácula ou um casal de cientistas malucos. Boa pedida para as férias da molecada.

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