Demorei muito, mas finalmente assisti “A Bailarina” (“Leap!” – 2016), obrigada Netflix por isso (e por outros títulos maravilhosos que entraram em julho), e sim, representa muito bem essa colunista bem aqui!
Essa linda animação tem origem franco-canadense. É uma parceria entre o L’Atelier Animation, do Canadá, e Paris Filmes, da França. Toda a trama é vivida na França mesmo, começando no interior, um local chamado Bretanha, depois passa a ser tudo em Paris.
Felicie e Victor são dois órfãos com grandes sonhos: ela de ser bailarina na Ópera de Paris e ele deseja se tornar um grande inventor, por isso eles sempre tentavam fugir do orfanato em que viviam, na Bretanha, e se aventurarem na Paris de 1869. Finalmente eles conseguem, por causa de uma invenção de Victor.
Chegando em Paris, Victor se perde de Felicie. Ela começa a andar meio que sem rumo pelas ruas até conseguir encontrar a tão sonhada Ópera de Paris. Em um impulso ingênuo, a menina deslumbrada entra naquele prédio tão iluminado, tão encantador, e se depara com uma cena ímpar, a primeira bailarina daquele teatro ensaiando para “O Lago dos Cisnes”.
Ela acaba sendo confundida com uma ladra e expulsa do prédio, a polícia só não é chamada porque a faxineira, Odette, intervém e não deixa o zelador a entregar. Como Odette foi a primeira a ser gentil com Felicie, tem acesso à Ópera e a menina não tem a quem recorrer, ela a segue até em casa.
Odette é faxineira do teatro da mansão Régine Le Haute, uma senhora da alta sociedade parisiense. Felicie vê que Odette tem dificuldade para andar e se oferece para ajudar nas tarefas em troca de abrigo.
Logo Felicie conhece a filha de Régine Le Haute, Camille, ela treina desde sempre para entrar para a Ópera de Paris, tem uma técnica perfeita e muita influência social (a mãe é dona do restaurante preferido do diretor da Ópera). Camille trata Felicie com a maior arrogância possível, quebrando a única lembrança da sua mãe, uma caixinha de música com uma bailarina, possivelmente o motivo do sonho dela.
Quando a carta de admissão de Camille chega, é Felicie que a pega, e, misturando todo o desejo dela de ser uma bailarina e a raiva que sentiu de Camille, Felicie decide se passar por ela na Ópera. Ela consegue fazer a primeira aula e logo vê que não tem técnica nenhuma, mas tem talento, e é isso que o professor consegue ver nela.
Em casa, Odette ajuda Felicie a correr atrás na técnica, ficando claro que um dia ela mesma tinha sido uma bailarina. Por causa disso (e de toda a magia da animação gráfica) a menina tem um progresso rápido e consegue se manter nas aulas e na disputa do Corifeu de “O Quebra Nozes”. A farsa é desfeita, mas o professor não expulsa Felicie, fazendo apenas que Camille entre para a disputa.
Enquanto tudo isso acontece, Victor vive suas próprias aventuras,. Ele conhece o assistente de Gustave Eiffel, engenheiro responsável pela construção da Torre Eiffel (que ainda só tinha a base em 1869), e vira um “bombril” da construção. Ele disputa a atenção de Felicie com um bailarino da Ópera.
Qualquer um que já sonhou com algo que praticamente todo mundo disse que era loucura vai se inspirar com Felicie. Ela é destemida, entra numa sala com bailarinas extremamente treinadas e consegue se destacar, mesmo tendo pouco treinamento. Ela não se abala com as duras críticas e olhares enviesados para ela, aquilo só a fortalecia para um novo dia.
Ah, como eu queria ter o progresso e a fibra de Felicie, fiquei até com vontade de ficar ruiva, para ver se adianta de alguma coisa (kkkk)!!!!
O filme tem algumas licenças poéticas para que realmente tivesse toda a magia que o filme prometia, tem também muitas referências bailarinísticas. Vou dar alguns exemplos:
- Felicie nunca fez uma aula de balé, ela achava que sabia dançar porque ela não conhecia a técnica, mas mesmo assim ela consegue acompanhar uma classe de alunas avançadas e que já usam sapatilha de ponta. Para usar uma sapatilha de ponta a pessoa tem que ter feito muita aula, tem ter fortalecer muito os pés e as pernas, geralmente demoram anos para poder chegar nesse ponto;
- A bailarina principal está sempre com figurino de apresentação, com direito a adereço de cabelo e tudo mais. Nos ensaios, salvo aqueles de prova de figurino, as bailarinas usam roupas de aula mesmo, o bom e velho collant e, no máximo, tutu (aquela saia de tule armada) de ensaio, que num tem enfeite nenhum;
- Felicie, quando está na escola de balé, está sempre com as sapatilhas de ponta, inclusive quando ela dá uma fugidinha para o teto com o bailarino russo. Amores, acreditem, a primeira coisa que uma bailarina, especialmente iniciante, quer fazer depois de uma aula é tirar as sapatilhas e ver qual unha quebrou ou qual o novo calo para a coleção;
- O balé de repertório encenado no final do filme é “O Quebra Nozes”, porém Felicie dança com uma sapatilha vermelha. A regra é que a sapatilha seja da mesma cor da meia calça, dando a impressão de ser uma coisa só. As sapatilhas vermelhas são usadas em espetáculos adaptados de contos, como “O Mágico de Oz” e “Sapatinhos Vermelhos” (não tenho certeza, mas pelo o que sei essas peças não são balés de repertório).
Tem duas referências que me chamaram atenção, lembrando que eu assisti em inglês, algumas referências podem mudar dependendo da tradução para o português:
- “O Lago dos Cisnes” é referenciado duas vezes, primeiro quando a primeira bailarina está ensaiando e depois com o nome que viria a adotar (informalmente) Felicie, Odette, que no balé de repertório é o nome da rainha cisne;
- “Chamas de Paris”, outro balé de repertório, também teve duas referências (segundo minha nerdice bailarinística, o que não é muita garantia kkk). Na primeira vez quando dizem que Odette parou de dançar porque houve chamas no palco (o que pode ter sido um incêndio ou ela dançando o balé de repertório) e outra vez quando Felicie e a primeira bailarina da Ópera vão começar o espetáculo e ela diz pra a menina “Vamos incendiar Paris”.
Felicie foi dublada em inglês por Elle Fanning (a Aurora do filme “Malévola”) e em português por Mel Maia; Odette recebeu a voz de Carly Rae Jepsen (a cantora de “I Really Like You”). Aqui no Brasil o filme recebeu uma embaixadora, a primeira bailarina do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, Cláudia Motta.
Um filme para sonhar em ser bailarina(o), inventor(a) ou qualquer coisa que você quiser, lembrando que qualquer coisa exige dedicação e trabalho, essa é a nossa magia!
Beijinhos e até mais.