Columbus (2017). Uma estreia poética e dramática do diretor Kogonada.
Columbus é o primeiro filme do diretor Kogonada (www.kogonada.com) . Seu talento já estava sob observação pelo The New Yorker e a Filmaker Magazine. O talento dele para contar histórias é impressionante e cheio de poesia, isso sem se distanciar da brutalidade que só a realidade pode trazer.
Por que Columbus?
O filme é rodado na cidade estadunidense de Columbus, famosa por sua estrutura arquitetônica única e marcante. A cidade é de uma tranquilidade incomum e nela encontramos a jovem Casey (Haley Lu Richardson) que leva sua vida de forma apática. Casey é uma admiradora da arquitetura local, mas há muito escondido por trás dessa admiração.
Jin (John Cho) é um sul-coreano que volta a Columbus por motivos de saúde do pai, um famoso arquiteto. Jin tem uma grande amiga que acompanha seu pai, uma espécie de anjo da guarda e também antiga amiga dele. Apesar da preocupação com o estado de saúde do velho pai, Jin se mantém distante emocionalmente dele. Quais seriam os motivos por trás desse afastamento entre pai e filho?
Entre a introspecção de Casey e o jeito desapegado de Jin surge um elemento em comum: a paixão pelas belas construções que marcam a cidade de Columbus.
Além do reflexo.
Casey trabalha em uma biblioteca para ajudar sua mãe em casa. Ela tem um grande amigo (interpretado por Rory Culkin) que sempre se envolve em boas discussões com ela. Juntos eles nos fornecem um dos mais profundos diálogos de todo o filme sobre os temas atenção e interesse. A jovem Casey esconde um passado que a magoou, talvez o mesmo passado que a tenha transformado em uma mulher tão introvertida. Ela tem poucos amigos e dedica uma boa parte de seu tempo a contemplar a construções de Columbus, algo que pode ser visto como uma rota de fuga aos problemas que insistem em gravitar ao redor dela.
Jin é um bem-sucedido tradutor, um homem que está distante do pai não só fisicamente. mesmo assim, contrariando todas as expectativas, inclusive as próprias, ele vem aos Estados Unidos para acompanhar o pai doente. Há uma inevitabilidade na morte de seu pai, porém ele cumpre com aquilo que é esperado de um filho.
No meio desse turbilhão de conflitos e emoções, Jin e Casey se encontram. Tudo poderia findar por aí, mas há uma insistência por parte dela para que se reencontrem. A cada nova conversa eles encontram pequenas semelhanças e afinidades. Algumas dessas afinidades são boas; outras, por sua vez, são frutos de alguma situação ruim pela qual passaram. De uma forma ou de outra, essa improvável dupla reforça os laços e acabam se tornando um o suporte do outro.
Há muito mais neles do que as aparências podem mostrar. Na verdade, juntos, um serve de espelho para que o outro enxergue a verdade em si mesmo.
A visão do diretor.
Um dos pontos altos de Columbus fica por conta da direção. As cenas são sempre em plano aberto, longo. A filmagem exige mais do elenco, uma vez que os closes são poucos e é possível acompanhar com mais facilidade as ações dos atores e atrizes. Esse tipo de plano é muito interessante para os espectadores (via de regra acostumados às filmagens mais rápidas e planos cheios de close ups e foco nas face), mas um verdadeiro desafio para quem atua, já que o distanciamento da câmera e a fixação do ponto de filmagem exigem mais do ponto de vista interpretativo, assim como pode abrir espaço para falhas na filmagem em função da estática e de uma localidade fixa. Resumindo, para filmar dessa forma é preciso muito talento… algo que sobra em Kogonada.
Antagonismos.
Principais personagens do longa, Casey e Jin têm muito em comum e, em contrapartida, muitas divergências. Em comum eles têm o amor pela arquitetura, além de haver algo que os colocou em sintonia. Entretanto há muitas disparidades entre eles: Jin está em Columbus para cumprir com suas obrigações como filho; ele quer retornar urgentemente para sua rotina em Seul; Casey mora em Columbus e vive para cumprir suas obrigações como filha; ela permanece ao lado da mãe e isso pode selar o fim do sonho de crescer como pessoa. Jin tem o vínculo de filho com seu pai, porém isso não implica em dizer que eles tenham algo em comum além da genética; Casey é a filha que dedica seu tempo para acompanhar uma mãe que quase perdeu para o vício. Jin aparenta não se preocupar com a distância que sempre houve entre ele e seu pai, o que na verdade é apenas uma forma de não se martirizar com uma infância privado do amor paterno; Casey e sua mãe se amam muito, algo que não lhe dá isenção de sofrerem. Jin e Casey deverão fazer grandes sacrifícios para que mesmo diante de realidades tão diferentes, eles possam se ajudar mutuamente.
Atuações.
Todos, sem exceção, se esforçaram para nos brindar com um filme onde o realismo sobrepusesse a ficção. As personagens principais têm profundidade e convencem, fruto de um elenco competente e consciente da importância de suas atuações para que o público se convença de seus dramas, fragilidades, vontades e dilemas. Acreditamos nas alegrias e sofrimentos e, por consequência, nos resultados das ações e decisões. Enfim, Kogonada conseguiu conduzir seu elenco de forma suave, correta e convincente.
Preciso ressaltar que manter o público interessado em uma trama com poucos atores é complicado, principalmente quando as principais produções trazem elencos estelares e uma narrativa sempre mais rápida ou frenética. Columbus é, em todos os aspectos, um exercício para a mente e uma ferramenta de reflexão para a alma.
Notas finais.
Não espere por cenas frenéticas ou ação em uma obra do porte de Columbus. Vocês verão um filme cheio de poesia, dirigido com extrema competência e corajoso ao abordar temas como a morte e a retomada da própria vida. O ritmo é lento e reflete com maestria nossas próprias dificuldades para tomarmos decisões diante das complexidades que a vida traz.
Um filme recomendado por seu lirismo e lições embutidas. Para ver e refletir…