Clássicos são clássicos e muitas vezes dói só de ver alguém querendo mexer neles, não é mesmo? Esse provavelmente foi o sentimento de muitos quando ouviram falar que “O Rei Leão” receberia sua versão live-action, mas deixe dizer: é um live-action que conseguiu ser fiel ao clássico à realidade.
Como?
Seguinte, eles seguiram o roteiro quase idêntico à animação de 1994 (aquele do VHS verde), mas o elemento live-action veio com um trabalho incrível de computação gráfica, fazendo com que todos se sentissem na floresta africana que “Tudo onde a luz toca” é de Mufasa e arredores.
Faz tempo que assistiu “O Rei Leão” (como eu)? Vamos relembrar a história.
Mufasa é o rei, tendo subindo ao trono ao derrotar seu irmão, Scar, em uma batalha anos antes. O rei agora tem um príncipe, Simba, um jovem leão curioso e ansioso, que tem uma admiração gigante pelo pai, mas ainda é muito inocente, sempre caindo nas armadilhas do tio Scar.
Por causa de Scar, Simba acaba invadindo o território das hienas, rivais de seu povo, e depois acaba fazendo do plano do tio para matar Mufasa. O tio mala coloca na cabeça do jovem príncipe que ele deveria fugir, porque havia causado a morte do rei, mas na verdade ele deseja tomar o trono para si.
Simba também é dado por morto, porque desaparece quando as hienas o seguem. Ele na verdade sai vagando sem destino, cheio de culpa por achar que tinha matado o pai. No caminho encontra a melhor dupla da vida, Timão e Pumba, que o ensinam a não se preocupar com o passado.
Na verdade, aquela inevitável dupla, um javali e um suricato excluídos da sociedade, dão a Simba um novo lar e uma nova perspectiva de vida. Foi muito bom para que ele lidasse com aquele momento difícil, mas não deveria durar por muito tempo, ele tinha um povo a proteger.
Nala, amiga de Simba de uma vida inteira, prometida a ser sua futura esposa, decide buscar por ajuda fora dos limites do reino. Ela, como todos, pensavam que Simba havia morrido, mas tinha esperanças que alguém ajudasse os leões. Depois de assustar Timão, Pumba e mais meio mundo de animais, ela reencontra com Simba.
Simba foi relutante, mas encontrou seu destino e lembrou que Mufasa sempre estaria com ele, por isso ele toma coragem e vai enfrentar Scar. Finalmente ele sobe ao trono que sempre foi destinado a ele.
Essa história não envelhece, família e amigos de verdade (que são como família) sempre darão os melhores conselhos. Por isso que poucos são os spoilers desse filme, quem tinha o bendito VHS verde (não duvido nada que ainda esteve guardado aqui em casa) sabe exatamente o que esperar do live-action, mas tem alguns detalhes que fizeram a diferença.
A computação gráfica e as novas vozes trazem a emoção que se espera, desde o batizado de Simba (aquela emblemática cena de Rafiki o levantado na pedra) até o retorno dele, passando pela morte de Mufasa e as divertidas cenas de Timão e Pumba. Mas teve um lado ruim dessa tecnologia toda, os animais basicamente não tinham expressão!
No intuito de deixar tudo tão real, os animais se tornaram de verdade verdadeira, com pleonasmo e tudo, até quem não assistiu em 3D sentiu que os leões estavam dentro da sala de cinema. Mas animal pouco tem reação, é diferente de humanos, logo, tem cenas que não dava para identificar nem quem estava falado, porque não dava para ver os lábios se mexendo.
Para não dizer que todos são assim, Pumba (o javali), Nala, Rafiki e Shenzi têm expressões mais claras. Scar também tem uma expressão boa, mas o que impressiona nele é a voz (no áudio original, ainda não ouvi a versão em português).
Mas detalhe, isso eu avaliei depois do filme, quando ouvi uma amiga comentando isso, entendi porquê não identificava quem estava falando em algumas cenas. Durante o filme mesmo eu me envolvi com a história e com a fotografia, que nem percebi essa falta de expressão.
Outra coisa que se pode sentir falta, mas eu só me dei conta depois, também por causa de comentários de amigos, foi a ausência da cena de Rafiki batendo em Simba com o cajado, depois diz aquela frase que se tornou até motivacional pela internet: “Ah sim, o passado pode doer. Mas do jeito que eu vejo, você pode fugir dele, ou… aprender com ele”. Esse é um dos dois spoilers que podem ser dados nesse filme.
Honestamente, na hora do filme lembrei dessa cena, mas nem sabia mais se ele dizia isso para Simba ou para Mufasa, só de ele ter pego o cajado quando sente que Simba está vivo bastou para mim. Eu teria sentido muita falta se não tivessem colocado Mufasa para dizer a Simba: “Tudo em que a luz toca é o nosso reino”… Embora tenham trocado o “sol” por “luz”, mas teve!
Vamos para as coisas boas do filme? Além do elenco de vozes impecável (leiam na voz de Ronnie Von, por favor), o segundo spoiler é um dos pontos altos e, por isso, uma das melhores coisas do filme: referência à “Bella e Fera”!!!
Depois de Nala encontrar com Simba e dizer que o reino está sob a autoridade de Scar e, por isso, em desgraça, o príncipe demora a entender que seu destino é voltar e salvar seu povo, mas ele acaba indo. Para a surpresa do casal, Timão e Pumba os seguem. Ao chegarem perto da pedra, onde Simba foi batizado e tido como o centro do poder, eles têm que pensar numa estratégia para enganar as hienas, que serviam como guardas, e têm a ideia de colocar uma isca viva.
Quem poderia ser uma isca viva e suculenta? Pumba, lógico! Timão acompanha Pumba e chega para as hienas com uma fala bem conhecida, início de uma música bem Disney: Ma chere Mademoiselle, it is with deepest pride/ and greatest pleasure that we welcome you tonight./ And now we invite you to relax, let us pull up a/ chair as the dining room proudly presents – your dinner!/ Be our guest!
Sim minha gente, ele cita “Be Our Guest”, música que Lumieré canta para Bella no banquete que é servido a ela. Só que no final Timão já está correndo feito um louco porque as hienas já estavam atacando! Na minha opinião, foi a melhor sacada para quebrar o clima de clássico e clichê do filme, trazer um pouco de modernidade e mostrar que o universo Disney se conversa entre si.
Falando em música, o Spotify não me patrocina, mas devo dizer: toda a trilha de “O Rei Leão” já está disponível. “Hakuna Matata” é bem fiel ao original, assim como as músicas mais tradicionais do clássico, mas assim, na voz de BEYONCÉ. Toda a trilha renovada é assinada por Elton John e Hans Zimmer.
É exatamente por isso que há grandes chances de Elton John competir com ele mesmo para o Oscar, será trilha de “Rocketman” vs trilha de “O Rei Leão”.
Vamos falar das vozes impecáveis! Não tenho muito o que acrescentar quando já se sabe que Nala ganhou a voz de Beyoncé (Queen B maravilhosa), mas olhem só o time de vozes: Donald Glover como Simba (crescido), Jamel Earl Jones como Mufasa, Chiwetel Ejiofor como Scar, Seth Rogen como Pumba, Billy Eichner como Timão, Florence Kasumba como Shenzi, Keegan-michael Key como Kamari, Eric André como Azizi, John Oliver como Zazu, dentre muitos outros.
Para começo de conversa: a voz de Mufasa é a mesma voz do Darth Vader!!!!! Só que, lógico, ele deu outra intenção, que ficou tão maravilhosa quanto a do vilão das galáxias.
Falando em vilão, eu estou impactada ainda com a voz de Chiwetel Ejiofor. Não havia entendido que ele iria dublar Scar, só sabia que ele estava no elenco, mas fez com maestria. A figura de Scar é diferente da animação, a juba não é preta, os olhos não são verdes, mas tem aquele semblante de leão sofrido, cheio de cicatrizes de batalha, a poderosa voz de Ejiofor é que traz todas as lembranças da animação, dando até aquele frio na espinha.
Para quem não lembra quem é Chiwetel Ejiofor, ele fez “12 Anos de Escravidão”, sendo até indicado ao Oscar de 2013. Nunca imaginava que a voz dele poderia chegar à potência de Scar.
As hienas foram muito bem representadas, a dupla dinâmica Kamari e Azizi davam aquele tom cômico, como de fato Keegan-Michael Key e Eric André sabem fazer muito bem, afinal, são conhecidos pelas comédias, embora de diferentes aspectos. A líder deles, Shenzi, é que mais me impressionou, imagem que lembra a animação mais uma voz feminina poderosa, um dos únicos animais com expressão, a dona da voz é Florence Kasumba, que vocês devem conhecer como a guarda costas do rei de Wakanda, tanto em “Guerra Civil” quanto em “Pantera Negra”.
Aí vem o ponto mais delicado, momento em que eu mais senti medo quando anunciaram o elenco, a voz de Pumba! Não que a voz de Timão não importasse, importa muito, mas eu pouco sabia quem era Billy Eichener, por outro lado eu sei bem quem é Seth Rogen e não sou nada fã dele, fiquei com medo de ele acabar com meu Pumba.
Perdoe quem gosta de Seth Rogen, mas acho as comédias dele muito forçadas, não consigo gostar. Aí daí ele cantar “Hakuna Matata”, havia um risco grande de acabar com minha infância. Mas não aconteceu, a dupla Timão e Pumba fez toda sua graça, usando os elementos certos, sendo pateta na medida certa, usando o humor para o bem.
Era para eu ter levado o hakuna matata (não se preocupe) a sério nesse caso, porque deu tudo certo.
E para vocês, hakuna matata!
Até a próxima.