Westworld: Onde Ninguém tem Alma é um filme escrito e dirigido por Michael Crichton onde um um novo tipo de lazer é criado para os que podem pagar. Trata-se de uma colônia de férias onde é possível viver no mundo da Roma antiga, ser um habitante da Idade Média ou sobreviver às agruras do Velho Oeste. E a palavra “viver” é levada ao pé da letra, pois os hóspedes realmente são transportados para as épocas escolhidas e lá são submetidos a uma imersão na realidade do passado.
O ritmo inicial da narrativa é arrastado, lento, principalmente se você estiver acompanhando a série da HBO, Westworld. Aliás, um ponto diferente é que esse parque de diversões tem três tipos de áreas, enquanto na série, na primeira temporada, há apenas o Velho Oeste.
Os diálogos do filme também são, inicialmente, maçantes. Mesmo com os tiroteios, o figurino e a ambientação, não há muito que obrigue ou convença o espectador a acreditar que está vendo realmente o Oeste bravio do fim do século XIX.
As interações entre homens e máquinas são sutis. O diretor se valeu de um recurso para evidenciar que uma máquina está em cena: os olhos brilham.
Um ponto em comum com a série de 2016 está nas equipes de emoção, responsáveis por recolher os corpos dos robôs após algo que os tire de ação. Os reparos são bastante simples, algo esperado, já que se trata de um filme de 1973. São 43 anos de diferença entre uma produção e outra. 43 anos de avanços tecnológicos que permitem ao espectador de hoje uma sensação de veracidade infinitamente maior.
Os problemas não previstos pelos humanos.
Assim como estamos vendo na série da HBO, Westworld começa a dar indícios de problemas com as máquinas. Teoricamente tudo está dentro do previsto, mas…
“Em alguns casos, os robôs foram projetados por outros computadores. Não sabemos exatamente como eles funcionam.”
Há uma coerência ainda não observada na série. Os atos dos convidados são postos sob questionamento. Logo, se há uma morte provocada por um convidado, o mesmo será preso, exceto em casos onde a lei o ampare. Existe um xerife para impor a ordem e isso é feito. Na série, em função das fortunas dos convidados, estes saem ilesos da maioria de seus atos vis.
O uso de humor em algumas cenas não me agradou. A narrativa era para ser tensa e isso não tem efeito quando estamos diante de um pastelão. As lutas foram prejudicadas por esse tom humorístico.
Então, de forma inesperada, as máquinas passam a ter controle sobre si mesmas. Mais do que isso, elas aparentam ter raiva de quem lhes fez mal anteriormente. Há um massacre e nada pode ser feito pelos técnicos e engenheiros que controlam o parque. Essa é uma premissa que ronda a Sétima Arte há décadas, aquela na qual as máquinas se voltam contra seus criadores, assim como (segundo o cristianismo) o homem se voltou contra seu Criador incontáveis vezes nos livros religiosos.
As interpretações são limitadas pelos conhecimentos e noções do que seriam robôs ou ciborgues à época. Algo que não apreciei foi a desativação de todas as máquinas, exceto o cowboy interpretado por Yul Brynner e uma outra que serve apenas como figuração. No final, a aparência que temos é a de um teatro, não um filme. Algumas coisas poderiam ser aprimoradas, mas o que permanece é o legado de um filme de ficção onde o Velho Oeste é o ambiente principal.
Westworld é uma amostra do talento de Michael Crichton e do potencial da trama que, recentemente, foi explorado em toda a sua magnitude na série da HBO que já teve sua segunda temporada concluída. Apesar de simplório, Westworld verdadeiramente mostra que uma boa ideia pode ser ampliada e ganhar ares de obra-prima, fato comprovado com sua versão mais moderna.
Apesar da já citada simplicidade, o longa é um marco por antecipar uma trama que se tornaria bem comum no cinema a partir de Terminator, Matrix e outros filmes que destacam nosso temor de criarmos algo que não nos obedecerá.
P.S.: o subtítulo em português (onde ninguém tem alma) é uma clara referência ao comportamento desregrado e amoral dos visitantes.