Destinos.
Violência e sexualidade.
Também podem surgir críticas quanto ao apelo de uma criança com armas e vivendo sob a tutela de um matador. Ora, isso teria até algum fundamento diante de um contexto diferente, entretanto Mathilda passou por um trauma fortíssimo que lhe desperta o desejo de vingança e morte, ao passo que ela entrou na vida de Léon como algo que ele nunca teve: uma pessoa para amar).
Há algo de sexual entre a menina e o assassino? Sim, mas isso é fruto da mente infantil da garota. Ela adquiri amor por seu protetor, algo muito similar à Síndrome de Estocolmo que, gradualmente, torna-se um amor quase de pai para filha. Eles são párias em um mundo complexo. Eles são o complemento um do outro e isso gera amor.
Inversão de papéis.
Outro ponto marcante deste filme é a inversão de papéis. Costumeiramente temos o policial perseguindo e neutralizando o assassino, algo que é mostrado de forma bem diferente, pois Léon – ainda que matador – tem muito mais consciência moral e respeito pela vida que os próprios policiais (representados por Stansfield e sua equipe).
A aparência impecável do personagem de Gary Oldman não é suficiente para esconder a podridão de suas atitudes. Já Léon tem o visual de um homem sem raízes e amores, algo que beira o desleixo e o descaso consigo mesmo, mas ele é um homem de princípios inquebrantáveis.
Overactor.
O termo ‘overactor’ refere-se aquele intérprete cuja atuação ganhe destaque em função do exagero. Não que isso seja ruim na maioria dos caso, deixo claro.
Em ‘O Profissional’, o destaque ficou por conta de Gary Oldman na pele de Stansfield. Seu personagem é um amante da hierarquia (não permite que o contrariem, principalmente subordinados), violento, homicida e viciado em um medicamento que o deixa dopado quase que instantaneamente. Sua performance ganhou destaque e tem um de seus pontos altos na cena em que convoca todos os policiais com o singular grito: – Everrryonnnne!
Gary também valeu-se de maneirismos para mostrar os efeitos da droga ao ser ingerida, contorcendo-se e gerando ruídos. A interpretação desse personagem levou-o a ser considerado um dos maiores vilões da história do cinema.
A simplicidade de Léon.
Jean Reno também aplicou brilhantemente sua interpretação para criar Léon. Seu matador é um homem calmo, de aparência simples, por vezes desleixada, capaz de matar com a frieza de quem abate um porco para alimentar-se. Jean e Luc Besson conseguiram mostrar a simplicidade do personagem através da serenidade, da disciplina e do distanciamento de uma vida familiar concreta. Somente Tony (Danny Aiello) era algo próximo a um familiar para o assassino, fato que muda radicalmente com a entrada de Mathilda em sua vida.
A face quase inalterada de Léon, mesmo diante da pior situação, é a marca registrada de seu personagem durante todo o filme, tendo variada apenas em algumas ocasiões extremas.
Mathilda.
Muitas atrizes devem ter passado pelos testes ou sido cogitadas para o papel de Mathilda, mas é muito difícil imaginar este filme sem o talento da jovem Natalie Portman. Hoje é simples falar de seu talento, após tantos sucessos e o Oscar, fatos que não pesavam a seu favor na época das filmagens, além da pouca experiência.
Natalie trouxe a sua personagem um encanto que oscila entre a infantilidade, a insanidade e o fetiche. Sua Mathilda tem múltiplas faces, mesmo mantendo uma certa inocência. Mesmo diante da morte ela se mostra diferente, algo muito próximo à loucura. É fácil vermos várias meninas nessa mesma personagem e, honestamente, é muito mais fácil acreditar em cada uma delas. Mathilda é menina, filha, mulher, apaixonada, brincalhona, louca, assassina e muito mais. Cada aparição sua pode revelar uma outra faceta, algo que a torna cada vez mais cativante.
Ela é a responsável por trazer Léon ao universo familiar novamente. Mas nada é gratuito…
A Planta.
O que aparenta ser apenas um item pertencente a um homem com uma rotina solitária revela-se muito mais importante. A planta é o vínculo entre Léon e sua própria humanidade, algo que o preocupa e o ocupa. É nela que o matador encontra uma fuga para suas próprias perturbações.
Há um simbolismo muito bem empregado no filme que ganha um vulto maior no final.
Avaliação final.
Pouco há para se dizer além do que já foi dito acima. ‘O Profissional’ é um marco do cinema por inúmeras questões e merece ser visto na versão estendida, a aprovada por Luc Besson, por incluir passagens que dão maior consistência à trama, além de reforçarem o impacto das atuações de cada um dos personagens.
Recomendo sem o menor medo para que assistam a essa obra franco-estadunidense do cinema.
Dados Técnicos:
Título original: Léon
Ano de produção: 1994
Direção: Luc Besson
Produção: França/EUA
Roteiro: Luc Besson e Patrice Ledoux
O Profissional no IMDb: Léon, the professional