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FILMES CRÍTICAS

Corpo Fechado (Unbreakable) – Deuses e Demônios entre nós.

Corpo Fechado (Unbreakable) – Deuses e Demônios entre nós.
  • Publicado em: janeiro 17, 2019

Nos áureos tempos dos mutantes da Marvel, a famosa Era de Ouro, um dos maiores trunfos da equipe estava no fato de acreditarmos mais nela por causa de seus problemas e origens. Não havia heróis perfeitos ou indestrutíveis. Todos os X-Men tinham problemas comuns, eram frágeis emocionalmente e queriam, sobretudo, levar uma vida normal. Mas eles sabiam de suas responsabilidades e, ao custo da própria paz, lutavam contra forças com igual ou maior poder que o deles, pois essa era a coisa certa a fazer.

Voltamos ao já longínquo ano 2000, um ano que marcou pelo “Bug do Milênio” (que jamais aconteceu) e também, entre outras coisas, pelo lançamento de um filme chamado Unbreakable (Corpo Fechado), dirigido pelo mesmo homem que deu vida ao clássico O Sexto Sentido (1999).

A narrativa mostra inicialmente as origens do Senhor Vidro e do próprio Unbreakable, respectivamente Samuel L. Jackson e Bruce Willis. Os dois são antagônicos por natureza. Vidro nasceu com um problema genético que torna seu corpo tão frágil quanto cristal. Já David Dunn, o Unbreakable,  foi o único sobrevivente de um trágico acidente de trem, sem um único arranhão sequer. David tem um filho e passa por uma separação. David está sendo observado…

A história transcorre com o desenvolvimento dos personagens principais. Enquanto David descobre que nunca teve realmente qualquer tipo de doença, Elijah, ao contrário, é frágil e sempre sofre algum tipo de fratura. Sem ter algo que o conforte por sua doença, Elijah se torna um fã incondicional dos quadrinhos, um refúgio onde ele pode se manter ileso da dura realidade à qual está confinado.

Peças do quebra-cabeça vão se juntando e dão forma a algo tão complexo quanto os mutantes dos X-Men, mas com um tom de veracidade maior. Elijah e David têm funções muito claras nessa trama de super-heróis. Elijah é quase um professor X, ele conhece a fundo o tema dos que possuem poderes e vê em David um potencial incrível. David, por sua vez, não acredita em Elijah e quer ter apenas uma vida normal, mesmo que todos os indícios apontem para algo sobrenatural nele.

 

A fixação por descobrir se David é realmente o Unbreakable, o Inquebrável, leva Elijah até um homem que ele e David viram na fila de um jogo. O resultado por essa busca é catastrófico para Elijah, fato mostrado em uma cena de escadaria cheia de drama e tensão, com certas similaridades com outra cena de escadas existente no filme Os Intocáveis, de 1987. A um alto custo, ele descobre que David tem mais do que o poder de ser indestrutível.

Aos poucos vemos um perfil tão próximo ao do professor X que até mesmo uma cadeira de rodas passa a ser o modo de locomoção de Elijah. Fora isso, ainda há a parte de mentor que leva David a “testar” seus poderes. É aí que a coisa começa a ficar realmente séria.

Shyamalan acerta (e muito) ao mostrar o início da carreira de Dunn como vigilante, um super-herói. O clima em que ele é posto, a trilha sonora e, acima de tudo, os crimes que ele pressente são interessantíssimos. É preciso escolher entre os “criminosos” e achar o mais grave para, então, punir. Mais do que descobrirmos o quanto é poderoso, descobrimos o quanto ele pode ser frágil diante de sua única fraqueza.

A escolha do nome Elijah para a personagem de Samuel L. Jackson serve para associá-lo ao profeta bíblico Elias, pois há uma percepção profética nele. Elijah é o nome em inglês para Elias. Contudo, nem sempre as coisas são o que aparentam. Vidro chegou a extremos inimagináveis para encontrar alguém como David. Ainda que David seja agora uma pessoa completa, isso só aconteceu por causa da intervenção do Sr. Vidro. Um preço alto demais a pagar…

O destaque fica para o apoio e a admiração do garoto Joseph Dunn (Spencer Treat Clark), filho de David e que crê em um propósito quase divino para a condição do pai. A interpretação do jovem Spencer é muito convincente e lembra – guardadas as devidas proporções – a atuação de Haley Joel Osment em O Sexto Sentido. Joseph é o suporte mental de Dunn, enquanto a mãe de Elijah (Charlayne Woodard) faz um papel similar junto ao filho desde o dia do nascimento.

Com uma condução à altura de algumas das maiores obras dos quadrinhos, Shyamalan criou uma verdadeira história de super-herói. Mas não existe herói sem seu nêmese. Não há bem sem o mal e o equilíbrio da balança pode ser muito difícil de ser obtido. David é um homem comum que aprendeu a ser incomum, assim como Elijah finalmente obteve o que sempre quis: um propósito para sua vida.

Filme feito com muito respeito aos fãs das HQ e que ganha ainda mais sentido quando passamos para suas continuações: Fragmentado (2017) e Vidro (2019).

Obs: Shyamalan não se limita à direção. Ele faz uma participação (Cameo) com um traficante de drogas que se depara com Dunn.

Elenco:

  • Bruce Willis….David Dunn
  • Samuel L. Jackson…. Elijah Price / Sr. Vidro
  • Robin Wright …. Audrey Dunn
  • Spencer Treat Clark…. Joseph Dunn
  • Charlayne Woodard…. Sra. Price
  • Eamonn Walker…. Dr. Mathison
  • M. Night Shyamalan…. Traficante
  • Richard E. Conselho…. Noel

Written By
Franz Lima

Escritor de contos de terror e thrillers psicológicos, desenhista e leitor ávido por livros e quadrinhos. Escrever é um constante ato de aprendizado. Escrevo também no www.apogeudoabismo.blogspot.com

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