Crítica: Convenção das Bruxas (2020)

Convenção das Bruxas, do diretor Robert Zemeckis, vencedor do Oscar e responsável por filmes como “Forrest Gump: O Contador de Histórias”, o clássico de Natal “O Expresso Polar” e a trilogia “De Volta Para o Futuro”. O longa traz às telonas a amada história do escritor Roald Dahl, com um novo senso de humor para as audiências modernas.

Reimaginando a adorada história de Dahl para uma audiência moderna, o filme visualmente inovador de Zemeckis conta a história sombria, divertida e comovente de um jovem órfão (Bruno) que, no final de 1967, vai morar com sua adorável avó (Spencer) na cidade rural de Demopolis, no Alabama. Quando a dupla encontra algumas bruxas ilusoriamente glamorosas, mas completamente diabólicas, a avó sabiamente leva nosso jovem herói para um exuberante resort à beira-mar. Lamentavelmente, eles chegam ao local exatamente ao mesmo tempo em que a Grande Rainha Bruxa (Hathaway) reúne suas colegas de todo o planeta – disfarçadas – para realizar seus planos nefastos.

Baseado no livro de Roald Dahl, o roteiro foi coescrito por Robert Zemeckis & Kenya Barris (série de TV “Black-ish”, “Shaft”) e o vencedor do Oscar Guillermo del Toro (“A Forma da Água”). Zemeckis também produziu o filme ao lado de Jack Rapke, del Toro, Alfonso Cuarón e Luke Kelly. Os produtores executivos são Jacqueline Levine, Marianne Jenkins, Michael Siegel, Gideon Simeloff e Cate Adams.

Houve um tempo no início dos anos 1990, no longínquo século XX, que crianças do mundo inteiro se arrepiavam de medo só de ouvir falar numa suprema rainha das bruxas que atraía crianças com doces e tinham o poder de transformá-las em repugnantes ratos. Aqui no Brasil, teve uma geração que se assustava só com a chamada da Sessão da Tarde anunciando Convenção das Bruxas na televisão, e que só de pensar ou lembrar da fisionomia que transformava a elegante Anjelica Huston em uma abominável bruxa, fez muitos moleques literalmente perderem o sono ou desconfiarem que qualquer pessoa podia ser uma delas. 30 anos depois, com a direção de Robert Zemeckis, uma nova adaptação para o livro de Roald Dahl chega aos cinemas em novembro, falo de Convenção das Bruxas (The Witches, 2020).

O filme conta a triste história de um garoto que perde sua família em um acidente de carro no ano de 1968 e é obrigado a ir para o sul dos Estados Unidos morar com sua durona, mas carinhosa avó. O garoto, se recuperando do trauma, acaba encontrando uma estranha mulher numa loja que tem todo o jeito de ser uma bruxa, fato que faz sua avó explicar para ele suas próprias histórias com bruxas que atormentaram sua infância. Com um mal pressentimento ela decide fugir da cidade e se esconder com o neto em um luxuoso hotel. Mal sabiam eles que ali acontecia um encontro de estranhas mulheres, que o garoto acaba descobrindo serem bruxas comandadas pela Grande Bruxa que tem um plano de transformar todas as crianças do mundo em ratos.

Guillermo del Toro em 2008 chegou a pensar um projeto de adaptar o livro de Roald Dahl para fazer uma animação para o cinema, mas logo o engavetou. Coube a Robert Zemeckis em 2018, tirar o projeto do limbo e dirigir, roteirizar (juntamente com Del Toro e Kenya Barris), além de produzir em conjunto com o próprio Del Toro e Alfonso Cuaron esse remake de um inusitado clássico dos anos 1990. Convenção das Bruxas, o original se tornou um cult com o passar dos anos, se transformando naquele filme que mexe com as emoções de quem viu e morreu de medo quando era criança.

O genial Zemeckis nessa versão 2020 praticamente não mexe com a estrutura básica do filme de 1990. Ele tem como acerto transferir a história da Inglaterra para um sul norte-americano em ebulição dos anos 1960, apesar desse rico contexto ele pouco toca na questão racial, mas como de praxe nos filmes de Bob Zemeckis temos uma reconstituição primorosa da época. Fora isso, o filme segue praticamente o script do original, talvez um pouco mais fiel ao livro. Ou seja, pouco inova pecando em certas passagens de ação e suspense, mostrando um Zemeckis (que deu para o cinema tanta genialidade) um pouco preguiçoso e quase no piloto automático. Como pontos positivos do elenco do filme temos a avó interpretada por Octavia Spencer que está excelente como uma típica guerreira sulista, calejada pela vida, mas sempre disposta a enfrentar com muita fé e coragem o que vier mesmo que isso seja uma horda de bruxas. O mesmo não posso falar do garoto, Jahzir Kadeem Bruno que até faz de tudo para passar certo carisma, mas infelizmente não consegue nem ter uma sintonia com a avó e pouco convencendo nas partes de aventura, tendo sorte que mais da metade do filme é um rato nos poupando de sua fraca atuação.

Quanto à grande bruxa, se no primeiro filme tínhamos uma “classuda” e maléfica Anjelica Huston como a bruxa suprema da Terra, esbanjando elegância e maldade, coube à também excelente Anne Hathaway interpretar o papel nesse remake. 2020 e sua tecnologia ajudaram e muito nos efeitos visuais e transformações, mas por mais que Anne consiga ser transformada numa arrepiante criatura e tem os recursos ao seu lado, ainda assim (não sei se é o saudosismo pessoal que interfere e me remete a 1991), nem a facilidade de CGI, conseguiram dar aquela atmosfera  da bruxa assustadora que tinha na primeira versão.

Mesmo com dedos e pés que lembram aves (o que gerou uma tola polêmica, que o filme poderia incitar que pessoas sem dedos eram anormais, criando certo preconceito, sendo que no filme fica claro que ela é uma criatura com patas mais parecidas com aves), uma boca lembrando o gato de Alice no país das maravilhas ou o Venom do Homem Aranha, realmente a rainha suprema das bruxas talvez não tenha o poder de amedrontar a molecada esperta dos anos 2020.

Quanto à atuação de Anne, despida dos efeitos, ela também é bastante caricata, mas proposital, com um sotaque forte, um mau humor típico de bruxas da literatura e um olhar profundamente sinistro. Anne tem como mérito criar uma bruxa com seu toque pessoal, dando um ar mais cartunesco à criatura. Se Anjelica primava pelo ar blasé, Anne abusa da sua onipresença. Enfim, dá para dizer que a Convenção de 1968, está bem de chefe.

Os efeitos do filme são muito bem elaborados, CGI sem moderação, com raios, braços que se esticam, explosões, serpentes e ratos, sim, os ratos tem um papel muito importante e graças à tecnologia se tornam seres simpáticos e espirituosos, correndo pelos corredores do suntuoso hotel sempre tendo tiradas boas e se envolvendo em muitas aventuras e confusões, com cartão de entrada perfeito se esse filme fosse para as Sessões da Tarde na televisão, mas com certeza jamais entrará, pois será considerado ofensivo demais… mas enfim, deixa pra lá…

No pesar da balança, Zemeckis mesmo com um bom elenco, tecnologia de ponta, uma boa história e um time de quilate ao lado, parece que ficou devendo. Convenção das Bruxas 2020 é um filme divertido, tem uma música que prende com seu fiel escudeiro Alan Silvestri na batuta e pitadas de aventura e humor boas, mas não acrescenta muito no universo do original. A impressão é que é apenas mais um filme, não diria desnecessário, mas que vai passar batido até pela época em que foi lançado, em meio a pandemia ou pelo desinteresse das novas gerações que não se cativarão com a história e pela geração mais antiga que sentimentalmente não vai abandonar o clássico de 1990. Mesmo assim, se puderem assistam descompromissados atrás de diversão e tirem suas próprias conclusões.

Zemeckis conta com uma equipe de cineastas renomados nessa aventura de fantasia, incluindo Alfonso Cuarón, Guillermo del Toro e Kenya Barris, cuja história é sobre um menino que se depara com um clã secreto de bruxas e, com a ajuda de sua avó amorosa, tenta parar seus planos malignos de transformar as crianças do mundo em ratos. O elenco, que conta com grandes performances, inclui Anne Hathaway, Octavia Spencer, Stanley Tucci, Kristin Chenoweth e Chris Rock, além do estreante Jahzir Kadeem Bruno como o jovem e corajoso herói.

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