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FILMES CRÍTICAS

Ciência e Emoção – “Os Aeronautas”

Ciência e Emoção – “Os Aeronautas”
  • Publishedjulho 14, 2020

Checar a temperatura e as demais condições climáticas virou algo automático em nossas vidas, até essencial, dependendo da sua profissão ou ocupação. Mas a meteorologia era vista como um tabu em 1862, quando o astrônomo James Glaisher falava nas assembleias de cientistas.

Nesse ano ele fez ume experimento pioneiro, considerada uma aventura que deixou muitas histórias para a imaginação. Ano passado, 2019, a história, com muitas licenças poéticas, se tornou filme, “Os Aeronautas”, assinado por Tom Harper (direção e roteiro) e Jack Thorne. O filme é original Amazon Prime e está disponível no catálogo brasileiro do stream.

James tem certeza que poderia prever as condições climáticas de forma científica, mas para poder comprovar ele precisa fazer um experimente in loco, ou seja, precisaria voar até o ponto mais alto possível e analisar os dados que a viagem daria. O problema é que ele não tinha um balão (única forma de voar na época) nem tinha dinheiro para financiar a viagem.

Ninguém acreditava nas teorias dele, então também não tinha como arranjar um patrocinador. Nessa empreitada ele só tinha seu amigo, John Trew, como parceiro, mas que também não tinha coragem de viajar (nem tinha dinheiro ou um balão).

Enquanto isso, Amelia Wren vivia o luto de seu marido, Pierre Rennes. Eles eram chamados de aeronautas, viajavam de balão em feiras, eram estrelas do entretenimento. Mas Pierre morreu em um acidente, onde Amelia estava explorando seus conhecimentos como pilota. Desde então ela nunca mais havia subido em seu balão.

James conhece a história de Amelia, ele consegue se aproximar dele, mostrar suas teorias e a convencer de subir com ele até uma altura que ninguém jamais havia conseguido.

Com muita relutância ela aceita a empreitada. Eles começam sua viagem já de forma turbulenta, ele é pragmático como todo cientista, ela é um espírito livre e performática, que presta mais atenção aos seus instintos do que aos números. Por muitas vezes ela o “acorda”, tirando-o dos papeis para ver a vista e aproveitar a viagem.

Eles conseguem atingir o ponto mais alto, mas isso não é o mais difícil. Primeiro eles enfrentam uma tempestade de dentro de uma nuvem, depois a ambição dele os leva para alto demais, onde a temperatura diminui demais e o oxigênio é mais raro (o que pode afetar o cérebro), e para descer eles aceleram demais, precisando pensar rápido para sobreviverem.

A forma como o longa foi feito é bem poético, porque eles começam já no momento do voo, com Amélia se atrasando e fazendo sua cena de entrada, com direito a participação de sua cadelinha, para testar o paraquedas para cachorro. Na medida em que o balão vai subindo o público vai conhecendo o caminho que os levou até esse momento.

É mostrado o acidente que matou o marido de Amelia, a razão de ela se sentir tão culpada e como ela aceitou voltar a voar. Por outro lado, mostra a dedicação de James aos estudos, o porquê de ele amar os estudos do céu e o orgulho que seu pai, mesmo já um tanto quanto senil, sente dele.

No começo você espera ser um filme de romance, com dois opostos postos juntos e logo se apaixonariam um por outro. Há um quê disso, sem dúvida, mas o foco hora nenhuma é esse, nem a confirmação de uma teoria científica, é a trajetória dessas duas pessoas desacreditadas a encontrarem seus caminhos.

A poesia também está nas imagens, mesmo a tempestade e os momentos de total desespero na descida são presentes para os olhos, é possível se sentir lá em cima com eles, mesmo você estando em seu sofá/cama/rede.

As motivações de Amelia são bem claras, ela não é a mulher padrão de seu tempo, a graça do personagem é a ver desafiando esses limites. A cena mais evidente disso é ela entrando na universidade, procurando por James, e um intelectual a reconhece, perguntando se ela precisa de ajuda, mas já pedindo para ela sair do prédio, eles não encorajam o “sexo frágil” a frequentar aquele ambiente. Óbvio que ela ignora e se dirigi ao caminho do escritório de James (com cara de deboche)!

Já James tem mais a ser revelado, sua dedicação aos números não é suficiente para explicar sua vontade irrevogável de subir até o ponto mais alto, chegar mais perto das estrelas. No momento em que eles estão mais alto do que deveriam, com dificuldades com a temperatura (está nevando lá cima), ele fala algo como “isso [a ciência] traz certa ordem ao caos que nos rodeia”.

Essa frase, mesmo fora do contexto que ela é colocada, tem muito significado. Faz com que nós, meros mortais (ruins de números), entender o quão importante é a ciência e esta não é tão pragmática, existem mais sentimentos e emoções por trás de fórmulas e experiências. Essa é a motivação.

Esse casal, que num é casal de fato, é vivido por Felicity Jones e Eddie Redmayne, que já viveram um casal nas telonas, com direito até a indicação ao Oscar (ele ganhou a estatueta de “Melhor Ator”). Eles viveram Jane e Stephen Hawking no filme “A Teoria de Tudo” (2014).

A química entre eles dois voltou a funcionar, talvez por isso tem essa dúvida se James e Amelia são um casal ou não, a diferença é que em “Os Aeronautas” é a personagem dela que está em destaque, são seus atos que comprovam a teoria dele. De toda forma, é lindo de ver.

Para além de “A Teoria de Tudo”, Eddie Redmayne é muito conhecido por trabalhos como “Os Miseráveis”, “A Garota Dinamarquesa”, “Elizabeth – A Era de Ouro” e a saga “Animais Fantásticos”. Felicity Jones também é conhecida por “O Espetacular Homem Aranha 2”, “Busca Sem Limites”, “Inferno” e “Rogue One”.

O amigo de James, John Trew, é vivido por Himesh Patel, ficou famoso recentemente como “Yesterday” (ele teve um 2019 movimentado) e está no elenco de “The Luminaries”.

As poucas cenas com o pai de James foram marcantes, fizeram parte daquele fator poético. O ator que o interpretou é Tom Courtenay, famoso pelo clássico “Doutor Zivago” e por filmes mais recentes, como “A Bússola de Ouro”, “Um Golpe Perfeito” e “A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata”.

Só para finalizar, devo dar destaque a uma cena, porque ela, ao mesmo tempo, dá aflição e prende a atenção do público. Quando eles atingem um ponto em que há falta de oxigênio, Amelia insiste em começar a descida, mas percebe que a saída de gás está congelada para ser aberta de baixo, ela tem que abrir a portinha lá em cima.

Isso quer dizer que ela teve que subir o balão por cima, escalando sem equipamento algum, sem roupa de proteção de frio, sem luva, em uma altitude que ninguém conhecia ainda, nevando, causando ferimentos sérios em suas mãos. Ela fica inconsciente duas vezes e volta a si, lutando com todas as forças para cumprir a missão e voltar para a cesta.

Sem nem perceber eu prendi a respiração a cena quase toda, aflita por ela.

“Você não muda o mundo simplesmente olhando para ele, você o muda pela forma como vive nele”.

Até mais!

Written By
Nivia Xaxa

Advogada, focada no Direito da Moda (Fashion Law), bailarina amadora (clássico e jazz) e apaixonada por cultura pop. Amo escrever, ainda mais quando se trata de livros, filmes e séries.