Christopher Cross – Araújo Vianna – Porto Alegre
Não é sempre que podemos assistir um artista que ganhou um Oscar. E não estou falando de alguém que atuou em algum filme e foi premiado, e sim, de um dos grandes compositores e uma das vozes mais suaves do estilo, que no Brasil, se denomina soft rock. Falo do guitarrista texano Christopher Cross, que ganhou uma estatueta com uma canção que fez junto com Burt Bacharach e Carole Bayer Sager, Arthur’s Theme (Best That You Can Do), para o filme Arthur, o Milionário Sedutor, no ano de 1981. Sua voz é ouvida diariamente nas melhores rádios que tocam músicas de um passado em que canções, para serem ouvidas e admiradas, tinham que ter qualidade. E isso o CC tem de sobra. Em tour pelo Brasil, Porto Alegre o recebeu numa bela noite de quinta-feira, no Araújo Vianna.
Com um público razoável, até pelo valor dos ingressos que estavam bem salgados, uma plateia comportada esperava o artista para contemplar aqueles sucessos que muita gente já ouviu, mas às vezes não associa ao cantor. No fundo palco, aquela imagem do flamingo do disco 1979, que o fez ser o cantor mais popular do ano. E pontualmente às 21h (artistas locais poderiam se espelhar nessa pontualidade dos gringos) sua banda já estava a postos, com três backing vocals, um músico responsável pelos sopros, o pianista Jerry Leonide, o baterista Francis Arnaud e Kevin Raveyrand no contrabaixo, todos numa elegância. Christopher chega ao palco de chapéu, com um terno azul marinho escuro e se fecha no seu círculo mágico, com quatro guitarras e três violões cercando o cantor. Abre o show com All Right, de 1983, e desde a primeira música a gente já sentia que ele estava cantando maravilhosamente bem.



Do disco do flamingo, toca Never Be The Same, com aquela voz macia e aquele refrão que emociona. E mostra toda sua técnica com guitarras, executando o solo da música, um dos mais bonitos da música pop. I Really Don’t Anymore, mais uma do flamingo, segue o show, com aquela sofisticação característica das suas canções e aquele refrão atingindo os agudos de forma impecável. Não tem como não deixar de elogiar a qualidade do som, som limpo com uma qualidade incrível, de qualquer local do Araújo se ouvia muito bem, equalização perfeita e sons cristalinos, combinando com o artista. Segue com Álibi, de 1988, mas é com Sailing que a galera começa a se soltar de vez. Sailing é aquela música que qualquer pessoa com mais de 30 anos já ouviu uma vez na vida e foi um fenômeno dos anos 1980, primeiro lugar por semanas nas paradas. E ouvi-lo cantando é um prazer demais, nessa que é a música que é a personificação do soft rock. Do disco de 1998, toca a belíssima Walking In Avalon e segue com You. Um dos momentos mais esperados é quando anuncia sobre a música que lhe deu um Oscar, lembrando Burt Bacharach e segue com o Tema do Arthur, Best That You Can Do, num dos momentos mais belos e emocionantes do show, com a galera aplaudindo de pé.


As belas músicas seguem com Talking In My Sleep, com ele sozinho ao violão, Open Up My Window, de 1994, e Simple, do álbum dos mais recentes de 2014, estas acompanhadas de uma das backing vocals em um lindo dueto. Um verdadeiro mapeamento de sua carreira de mais de 40 anos. O cantor compensa sua timidez com poucas palavras com muita simpatia, uma voz única, além de se mostrar um gigante guitarrista e um grande violonista . A banda dele, então, chega a ser covardia, o trio de backings canta demais, o pianista Jerry é o maestro da banda, mas o baterista Francis Arnaud simplesmente toca fácil demais, com elegância e precisão fantástica e o baixista Kevin Reveyrand, com influências jazzísticas, fecha com ele muito bem a sofisticada cozinha. Destaque pra o responsável pelos sopros, que toca sax e flauta, abrilhantado os arranjos do CC. The Light Is On é mais uma do platinado disco de 1970, mas é com No Time For Talk que tudo aquilo que falei da banda se comprova, com um arranjo com sons mais latinos e um show do baterista Arnaud. Para encerrar o show, logicamente que faltava seu sucesso mais rock, Ride Like The Wind, disco do flamingo, nesse momento o tímido público permaneceu de pé e vibrou com o sucesso mais roqueiro do autor de baladas românticas. Sem muitas delongas, ele larga a guitarra e sentado, acompanhado pelo seu pianista Jerry Leonide, fecha o show com uma sensível interpretação da balada Think of Laura, encerrando um curto, mas delicioso show.




Como é bom ter o prazer de ver um artista com quase cinco décadas de carreira fazendo uma apresentação impecável, com elegância e sofisticação. Um amontoado de hits inesquecíveis executados por uma super banda. Uma das vozes mais bonitas do pop rock que ainda se mantém quase intacta, um verdadeiro bálsamo para os ouvidos, um show pra apreciar, cantar junto e se emocionar, digno de um vencedor de Oscar.
