Chicago conhece Paris – “Emily em Paris”
A cidade de Paris exerce uma magia ao nível da Disney, embora sejam públicos diferentes. Muitos sonham em viver nessa vibrante cidade, especialmente quando seu trabalho te coloca ao lado de seus ídolos.
Emily Cooper realizou esse sonho, ganhou a oportunidade de ser a visão estadunidense em uma empresa de marketing de marcas de luxo francesa, mas aí ela percebe que chegar lá é só o primeiro passo e o início da série “Emily em Paris”.
A produção acaba de chegar ao catálogo nacional da Netflix, criada por Darren Star, que também assinou grandes produções como “Sex and The City” e “Younger”. Ele também assina o roteiro dos 10 episódios, ao lado de Sarah Choi, Deborah Copaken e Emily Goldwyn. Na direção estão Adrew Fleming, Zoe R. Cassavetes e Peter Lauer.
Também vindo da equipe de “Sex and The City” está a figurinista, Patrica Field, o que causou ansiedade sobre os looks que seriam vistos na série. Antes de falar sobre isso, vamos conhecer essa história divertida e inspiradora.
Emily, criada em Chicago, nos EUA, chega em Paris com aquele olhar brilhante de qualquer um que admira moda, cultura e glamour, entusiasmada com a nova oportunidade e surpresa com todas as diferenças culturais entre os dois países. O primeiro obstáculo foi a língua, Emily não aprendeu francês, o que pode ser visto quase como um pecado para um povo que tem amor por seu idioma.
A empresa de marketing, a Savoir, apresentou um ambiente hostil para ela, tanto por causa da barreira do idioma quanto pela sensação de estar sendo invadido por uma estadunidense. Eles lidam com marcas de luxo, que são extremamente tradicionais e resistentes a mudanças, e era isso que Emily representava, afinal ela lidaria com as redes sociais dessas marcas.
Embora suas ideias não sejam bem recebidas, ela consegue dar um jeitinho para que sua chefe, Sylvie, e os clientes da empresa vejam que as redes sociais é um espaço para o luxo. Nem sempre deu certo, ela errou feio em várias situações, mas ela levou a modernidade para a Savoir.
Bom, na vida pessoal Emily também teve algumas reviravoltas. Ela só tinha contato com os colegas de trabalho, o ambiente hostil a fez se sentir excluída e dificultou a fazer amizades, mas ela foi curtir a cidade e, assim, encontrou Mindy, Camille e o namorado dela (que era vizinho de Emily), Gabriel.
A vida amorosa, algo bem valorizado em Paris, foi uma bagunça gostosa de ver. Ela começa a série namorando, mas o relacionamento não aguentou a distância, então Emily se viu solteira em uma das cidades mais românticas do mundo. Interesses românticos? Sim, Gabriel (antes de saber que ele namorava Camille), Thommas, Antoine, Mathieu … Os franceses caíram aos pés dela.
Aliás, Paris caiu aos pés de Emily, mesmo quando ela achava que a cidade a odiava. Assim que chegou lá ela criou um perfil no Instagram, @emilyinparis, registrou detalhes da sua trajetória e, sem forçar a barra, tornou-se uma nano influencer, digna de inúmeros seguidores e curtidas.
Embora os episódios sejam curtinhos, 30min em média, há muito conteúdo e muitos detalhes que podem ser explorados em muitos aspectos da vida, começando pelo respeito por outras culturas, repensando no comportamento dos estadunidenses, até o poder da influência das redes sociais.
O choque de culturas foi o que sobressaiu nos primeiros episódios, quando, aos poucos, a protagonista conhecia os detalhes da rotina francesa. Coisas “bestas” mesmo, como o prédio em que foi morar não tinha elevador, isso porque era antigo (centenário), ou provocar um curto-circuito porque não sabia que a voltagem da tomada era diferente … E nem vou dizer o que ela colocou na tomada, essa cena não merece spoiler.
Outro elemento que ela estranhou foi o comportamento, os franceses são muito mais emocionados nos gestos do que os estadunidenses, eles abraçam, eles gesticulam, falam sem puderes sobre quase tudo, cumprimentam-se com beijinhos na bochecha (algo bem comum para nós, brasileiros), mas também podem ser extremamente rudes. Isso a fez até se sentir um pouco invadida e confusa em alguns momentos, é difícil seguir as mesmas regras pessoais dentro de outro ambiente.
Dentro do trabalho foi explorado muito esse choque, ao fazer marcas tradicionais aceitarem a internet como meio de divulgação e crescimento. Quem estuda ou trabalha com moda e marcas de luxo sabe o quão é delicada essa transição para as redes sociais, é um dilema entre manter a identidade e atingir novos públicos. As soluções apresentadas por Emily são exatamente o que o mercado tem investido, como a criação de linhas secundárias e as colaborações.
As mensagens passadas por essa visão tradicionais também foram abordadas, ao discutir a linha tênue entre o sexy e o sexista. Algo que parecia um dos únicos tabus para os franceses.
As amizades construídas, tanto no trabalho quanto na vida pessoal, fizeram toda a diferença nessa experiência, como sempre o fazem. Mindy pode ser uma bagunça para si mesma, mas é a amizade sincera que Emily precisava, alguém para mostrar o caminho das pedras para sobreviver aos dias ruins de Paris.
Ela também foi responsável por um dos momentos mais emocionantes da série, no meu episódio preferido, o sexto, o “Ringarde”. Digo já o porquê de ele ser o meu preferido e que cena é essa de Mindy.
A outra amizade de Emily é com Camille e, embora elas realmente se gostem e se importem uma com a outra, há uma complicação, Gabriel. Camille é uma daquelas francesas de capa de revista, sempre sorridente, gentil e lindíssima, além disso, não faz o clichê de comédia romântica de “namorada rabugenta”.
Vocês sabem, quando o interesse romântico da mocinha tem namorada ela é, geralmente, linda e chatíssima. Não é o caso de Camille, o que dificulta o triângulo amoroso, a amizade delas é linda de verdade.
As cenas com eles três juntos me fez lembrar “Amor Extremo”, a amizade entre Vera e Caitlin embalada pelo amor indeciso de Dylan, só que não é tão problemático, mas já tem até um potencial William Killik para Emily.
Voltando ao episódio 06, “Ringarde” … Posso resumir como “poesia”. A Savoir precisa impressionar um grande designer de moda, Pierre Cadault, mas ele ver Emily como uma “ringarde”, ou seja, “v*** básica”. Isso o faz quase demitir a empresa para seu marketing. Cadault estava assinando o figurino o Balé de Paris em sua temporada de “Lago dos Cisnes” e Emily consegue atenção dele ao ir para a estreia, além de explicar a razão de usar um chaveiro “cafona” (razão por ele a ter chamado de básica), fazendo referência à “Gossip Girl”.
O figurino é parte essencial para a série, mas nesse episódio ele foi crucial, tanto encheu os olhos na cena em que ela visita o ateliê quanto a própria Emily. Ela não só vai para uma estreia de um dos meios balés do mundo, ela vai usando um vestido inspirado em nada mais, nada menos, que Audrey Hapburn.
Em um episódio de apenas 30min eles misturaram balé, moda, “Gossip Girl”, girl power e Mindy cantando “La Vie em Rose” no meio de um parque … Meu coração de gelo quase derrete com essa combinação, uma poesia em forma de episódio.
E, falando em figurino, é arriscado você não conseguir mais se arrumar sem pensar: será que isso vai bem com aquela boina vermelha?!
Seguindo a linha Carrie Bradshaw de ser, Emily desfila pelas ruas de Paris com modelitos de marcas que são o sonho de todos, lembrando outras personagens que permeiam esse mundo tão aparentemente glamouroso da moda, como Blair Wardolf (embora ela tenha se referido à Serena) e Andy Sachs (“O Diabo Veste Prada”). Mas também levantou algumas discussões.
A principal delas é entender como Emily teria condições de bancar esse guarda-roupas. Fala-se pouco da condição financeira dela, mas é possível supor que não seria o mesmo nível de Carrie ou de Blair e nem teria acesso às peças como Andy, considerando que não vem de família rica (pelo pouco que fala da família) e pela posição que tem na empresa.
Esse pode ser um detalhe pequeno para toda uma produção bem pensada, mas depois que a pessoa cresce e tenta ganhar o próprio dinheiro acaba notando esses detalhes. Vida de adulto, sorry!
Antes de falar do elenco, preciso fazer outra pequena crítica. Eles estão todos em Paris, a única que não fala francês é Emily e é criticada por isso, mas, mesmo assim, os personagens franceses (interpretados por atores franceses) falam em inglês entre si em muitos momentos. Para mim a crítica à Emily cai por terra quando eles mesmos falam inglês assim, deliberadamente.
O lado bom é que podemos ir aprendendo o francês junto com Emily.
Emily é vivida pela inglesa Lily Colins. Confesso que tive minhas dúvidas ao ouvir do projeto da série com ela, eu gosto da atriz, falei muito bem dela na resenha de “Simplesmente Acontece”, mas ainda não estava convencida. Mas ela é a perfeita Emily, em todos os sentidos, ela representou todas as meninas loucas por moda e por Paris.
Detalhe importante, ela tem certa semelhança com Audrey Hepburn, já fez até sessão de foto mostrando isso, o que fez a sequência com o vestido preto no teatro, no episódio 06, ficar ainda mais emocionante.
Mindy é vivida por Ashley Park, mais famosa por sua carreira de cantora, tendo já até sido indicada ao Grammy e ao Tony, como atriz ficou conhecido pela série “Crônicas de San Francisco”. Algo que deixei de falar antes, mas é bom mencionar: Mindy é chinesa, adicionando mais uma camada cultural (moderna) na trama.
Para completar o time estadunidense, ou falante do inglês, tem duas participações especiais. Madeline, ex-chefe de Emily, vivida por Kate Walsh, que permeia por inúmeras produções da Netflix, desde “Grey’s Anatomy” até “13 Reason Why” e “Umbrella Academy”. Randy Zimmer, CEO de rede de hotéis e possível cliente da Savoir, captado por Emily, é vivido por Eion Bailey, o Pinóquio crescido de “Once Upon a Time”.
O time francês é liderado por Philippine Leroy-Beaulieu, que dá vida a poderosa e exigente Sylvie. Ela tem uma larga carreira em filmes franceses, mas para o público em geral ela começou a ficou conhecida pela série “Dix Pour Cent” (também disponível na Netflix).
A dupla que anima o escritório Julien e Luc é vivida por dois atores que ainda não são bem conhecidos na TV, respectivamente Samuel Arnold e Bruno Gouery. Eles são os amigos que você acha que não se importa com você, usam do sarcasmo para demonstrar a afeição pela nova colega (afeição conquistada aos poucos).
Gabriel é vivido por Lucas Bravo, sendo esse o primeiro projeto de alcance internacional dele e parece que é o primeiro de muitos, já confirmando presença em outros projetos importantes. Camille é interpretada por ela mesma, quer dizer, a atriz se chama Camille Razart, também ainda desconhecida do público fora da França. Os dois já haviam trabalhado juntos, no curta “Caprice” (2019).
Antoine Lambert, um dos principais clientes da Savoir, dono da perfumaria que cria o produto que faz a empresa de Madeline (Chicago) se unir a de Sylvie (Paris), é vivido por William Abadie. A presença dele é interessante para a trama e para a “vibe” da produção, ele não só o perfeito empresário bem sucedido, charmoso e mulherengo, como ele já esteve em, pelo menos, duas das produções que inspiram “Emily em Paris”: “Sex na The City” e “Gossip Girl” (ele é Roman, o companheiro do pai de Blair).
O último episódio terminou com algumas resoluções, mas com algumas novas perguntas, o que deixar a série completamente aberta a uma nova temporada, que será muito bem vinda, mas ainda não foi confirmada.
Por enquanto eu fico com as citações, a pasta no Pinterest com os looks e possíveis vídeos no tiktok.
Até mais!