“Cartas Libanesas – Ayuni”: Um Novo Olhar sobre a Imigração e a Espera

Após o sucesso de “Cartas Libanesas”, espetáculo que emocionou plateias e recebeu indicações aos prêmios Shell e APCA de Melhor Texto, o ator e idealizador Eduardo Mossri retorna aos palcos com uma nova versão da história. Intitulada “Cartas Libanesas – Ayuni”, a peça inédita dá voz a uma personagem antes apenas mencionada: Adibe, a esposa que permaneceu no Líbano enquanto seu marido partia em busca de um futuro melhor no Brasil.
Estrelado por Ana Cecília Costa e Eduardo Mossri, o espetáculo estreia como uma celebração dos dez anos da peça original, trazendo agora um novo ponto de vista: o da mulher que ficou para trás, enfrentando a espera, a gravidez e os desafios impostos pela distância e pelo tempo.
O Significado de “Ayuni” e a Força Feminina na Trama
O título do espetáculo traz a palavra árabe “Ayuni”, que significa “luz dos meus olhos”, refletindo a importância dessa nova perspectiva. Se antes a peça girava em torno do mascate libanês Miguel e sua jornada rumo ao Brasil, agora a história se amplia, mostrando as cartas trocadas entre ele e Adibe. Nessa correspondência, a esposa revela seus sentimentos de saudade, as dificuldades enfrentadas em sua aldeia assolada pela guerra e a incerteza sobre o futuro do casal.
A dramaturgia assinada por Duca Rachid propõe um diálogo inédito, trazendo para o palco a força das mulheres imigrantes que, muitas vezes, ficaram invisibilizadas na história. “Mulheres corajosas, que criaram filhos sozinhas, tocaram suas vidas sem garantia de reencontro e, em muitos casos, deixaram para trás sua terra, língua e cultura para reconstruir uma nova realidade ao lado dos maridos”, reflete a autora.
Uma Peça que Resgata Memórias e Reavalia o Passado
Mais do que um drama pessoal, “Cartas Libanesas – Ayuni” é um tributo à experiência migratória, celebrando aqueles que ajudaram a moldar a identidade cultural brasileira. A montagem destaca não apenas a trajetória dos libaneses, mas de todos os imigrantes que enfrentaram desafios semelhantes ao buscar um recomeço em terras estrangeiras.
A diretora Georgette Fadel, descendente de libaneses, descreve a peça como um mergulho profundo nas memórias e emoções de quem carrega um passado de deslocamento:
“São muitos cheiros, sons e lembranças. A cultura libanesa, tão rica e ao mesmo tempo marcada pela dor do afastamento, está presente em cada detalhe. Cresci cercada por histórias que meus avós não queriam contar, porque esquecer o passado parecia necessário para começar de novo. Mas ele vive em nós. E agora, Miguel e Adibe falam comigo. São meus parentes, meus patrícios.”
A montagem tem ainda a direção de Luaa Gabanini, que ressalta a conexão entre amor e guerra como fio condutor da narrativa:
“Sempre é tempo de falar de amor. Mas, infelizmente, ainda não conseguimos estancar as guerras do mundo. O amor, em meio a esse cenário de dor, se torna como uma flor que desabrocha no deserto. E é nesse espaço árido que dois corpos em cena recriam memórias e possibilidades de existência.”
Um Espetáculo que Ecoa nos Dias Atuais
A atriz Ana Cecília Costa, que dá vida a Adibe, destaca a importância de retratar essas mulheres fortes que, em diferentes culturas, enfrentaram desafios semelhantes:
“A mulher árabe tem uma força imensa, assim como as mulheres do sertão de onde venho, na Bahia. Esse projeto me tocou profundamente porque, além da beleza e relevância dessa história, ele é movido por afeto. E em tempos difíceis, cultivar o amor é essencial para nossa sobrevivência.”
Com um elenco talentoso, um texto poderoso e uma encenação que resgata a identidade e as memórias de tantos imigrantes, “Cartas Libanesas – Ayuni” se apresenta como uma peça emocionante, que nos faz refletir sobre pertencimento, sacrifício e os laços que resistem ao tempo e à distância.
A temporada da peça oferece ainda uma oficina e uma mesa de conversa.
Curso: O Ator e Não Ator Contador de suas Memórias
Com Eduardo Mossri – data: 15 a 17 de abril, no Teatro do Sesc Ipiranga – terça a quinta, às 18h.
Atividade gratuita com inscrições antecipadas
Workshop de atuação, ministrado pelo ator e idealizador do espetáculo, “Cartas Libanesas”, com técnicas de interpretação pré-expressivas, escrita dramática, resgate de histórias pessoais, com enfoque na ancestralidade como estimulo do imaginário pessoal e criativo. Destinado a atores e também não atores de diferentes idades. Público de modo geral.
Mesa: Raízes e Ancestralidade na Escrita Criativa
Com Duca Rachid e convidado – data: 13 de abril, na Área de Convivência do Sesc Ipiranga – domingo, às 16h.
Atividade gratuita e aberta ao público