Carcereiro – Drauzio Varella
Carcereiros: A segunda obra literária do médico e escritor Drauzio Varella sobre o sistema prisional, um livro que traz a visão da cadeia na ótica dos homens que tem o dever de manter o sistema prisional funcionando como um relógio, mas nunca esquecendo que a principal engrenagem ainda são os homens que estão atrás das grades.
Drauzio Varella tem como podemos dizer uma trilogia sobre o sistema prisional em São Paulo, trabalhando como médico voluntário por mais de 23 anos, tendo uma passagem de 13 anos no antigo Carandiru que originou seu primeiro livro com este enredo “Estação Carandiru, de 1999”, Carcereiros é o seu segundo e Prisioneira o terceiro.
O livro tem como enredo e histórias dos próprios carcereiros, contadas por Drauzio Varella ao longo de suas 200 páginas, traz aos conhecimentos dos que não tem menor entendimento sobre a dinâmica e regras desta profissão, perigosa e cheia de decisões que podem levar um detendo a morrer ou viver, da mesma forma a suas próprias vidas.
Esta obra retrata a realidade de homens simples, que desenvolve sua profissão com toda dedicação para manter o ser humano a busca de regeneração e ao mesmo tempo, respeitar as regras do crime para manter a ordem e a paz dentro sistema prisional.
As histórias que vamos encontrar nesta leitura, são de homens que cuidam da ordem do sistema prisional, com todo respeito e dedicação, que merece essa profissão. Seres humanos normais, que poderiam dizer que a profissão que escolheram ou foram escolhidos seriam igual a qualquer uma, mas não!
Ser carcereiro é acima de tudo ter muita coragem e medo ao mesmo tempo para se manter vivo ou ajudar alguém a ficar, vamos nos deparar com um sistema que a palavra é mais importante que qualquer dinheiro e que o respeito ainda é a melhor moeda de troca, sem deixar de esquecer das traições, a corrupção do sistema na vida de alguns parceiros, das mortes no cumprimento do dever, na vida difícil e fora dos portões, das esposas que sofrem com a rotinha da profissão de ser carcereiro.
Trechos do Livro:
Em “Estação Carandiru”, descrevi a vida na cadeia com o olhar do médico que atende homens obrigados a cumprir penas em gaiolas apinhadas, como se participassem de um experimento macabro. Neste livro, escrito treze anos mais tarde, tentarei fazê-lo da perspectiva dos homens que passam a vida a vigiar prisioneiros.
As histórias de heroísmo, os atos de generosidade, a corrupção, a covardia, a prática da tortura, o desapego à própria vida em benefício de outros, as maldades e os exemplos de dedicação ao serviço público que se seguem foram observados por mim ou contados pelos próprios carcereiros com quem tenho convivido.(p. 23)
As cadeias são ambientes cinzentos, mesmo que não estejam pintadas dessa cor. A presença ostensiva das grades, das trancas e som de ferros das portas quando se fecham oprimem o espírito de forma tão contundente, que em mais de vinte anos jamais encontrei alguém que dissesse sentir prazer quando entra num presídio. Ao contrário, a sensação de alívio ao cruzar o portão que dá acesso à rua é universal. (p.115)
No Brasil, morosa e discricionária como é, a Justiça encontra enorme dificuldade para condenar os clientes de advogados com influência nos meios jurídicos, enquanto o aparato policial é incapaz de solucionar a maioria dos crimes que ocorrem pelo país afora. Ilustram a impunidade brasileira o fato de permanecerem em liberdade os que assaltam os cofres públicos e a constatação oficial de que nossas polícias esclarecem menos de 10% dos homicídios cometidos e uma parcela insignificante dos roubos e assaltos à mão armada. (p. 137)
Nestas historias será difícil em se ver em alguma situação, há não ser que você já tenha visto o sistema prisional tão de perto. Se você não passo tão perto deste sistema, então verá que nós fazemos parte do problema e também da solução.
O Livro deu origem ao seriado do mesmo nome, desenvolvido pela Globo disponibilizado no Globoplay. A série começa, não muito interessante na minha opinião, mas a partir do terceiro episódio convence e traz uma dinâmica frenética e diálogos mais elaborados, não posso deixar de dizer que o seriado tem uma temática de documentários, devido aos pequenos relatos dos próprios Carcereiros que falam de suas experiências e da vida dentro das penitenciárias.
O elenco da série é muito bom, tendo no papel principal Rodrigo Lombardi como “Adriano Ferreira de Araujo” que ao passar dos episódios cresce no papel, que na minha opinião chega ao amadurecimento no sexto episódio “Mandarim”, Tony Tornando é outro que está muito bem no papel de agente “Valdir”, juntamente com Jean Amorim “Vinicíus”, Lourinelson Vladmir “Isaías”, Aílton Graças “Jucelino”, Mariana Nunes “Janaína Macedo de Araujo, Giovanna Rispoli “Lívia Ferreira de Araujo”, Othon Bastos “Tibério Ferreira de Araujo”, Diogo Sales “Binho”, Maria Clara Spinelli “Kelly” e Nani de Oliveira “Dra.Vilma Alencar”