Close
MÚSICA

Capital Inicial – Acústico 25 anos Araújo Vianna

Capital Inicial – Acústico 25 anos Araújo Vianna
  • Publishedabril 15, 2025

Saído recentemente da turnê de 40 anos de carreira, o Capital Inicial, uma das bandas mais importantes do Brock dos anos 1980, resolveu homenagear o disco que foi a virada na carreira da banda, o Acústico MTV, de 2000. Não que o Capital não tivesse feito sucesso na década de ouro do rock nacional, mas nos anos 1980 foi uma banda, digamos assim, do segundo escalão, com grandes sucessos, mas nunca chegando no panteão do estilo. Com separações e voltas, a banda ressurgiu como uma Fênix em 1999, com um grande disco, mas foi com o disco e show acústico da MTV, em 2000, que Capital Inicial angariou uma nova legião de fãs e subiu degraus na música brasileira. Para comemorar os 25 anos desse lendário disco, a banda está em turnê desplugada pelo Brasil – e Porto Alegre teve a honra de receber por duas noites a banda. O NoSet conferiu na sexta-feira  e conta aqui como foi esse revival tão importante na carreira dos rapazes de Brasília.

Capital Inicial é sempre sinônimo de casa cheia. Com, mais uma vez, tendo Araújo Vianna com lotação esgotada, a banda subiu ao palco por volta das 21h30min. Com aquele formato com os músicos sentados e violões, uma luz roxa dava um clima oitentista para a banda começar o show com O Passageiro. Com Dinho Ouro Preto, Flávio Lemos no baixo, Yves Passarel, e logicamente, Fê Lemos na bateria, completava o time o quinto Capital, Fabiano Carelli no violão, o percussionista Denny Conceição, o tecladista Nei Medeiros e a presença ilustre de Kiko Zambianchi. Mas Dinho, hiperativo como é, não aguentou uma música sentado e em O Mundo já está de pé, mostrando toda sua vitalidade e energia, que nem a chegada dos 60 anos abalou. Todas as Noites segue o baile, e com perdão do trocadilho, com o Capital as noites nunca são iguais. 

Kiko Zambianchi puxa um belo dedilhado no violão e a banda toca a lindíssima Tudo que Vai, que fez muito sucesso na época do acústico, emocionando o público do Auditório, que desde a primeira música já estava de pé. Não deixa de ser pitoresco um show desplugado a galera estar em sintonia desde o início com a banda, mérito para o Dinho, que esbanja simpatia, como um perfeito frontman. Do Acústico sempre achei a versão de Independência umas das mais fracas, descaracterizando a original tão empolgante, e no show, ela realmente não funciona tanto, o mesmo com Leve Desespero, que perde o brilho desplugada. Mas nada como os arranjos e interpretações da ótima Eu Vou Estar, a deprê mas tocante Cai a Noite e os sucessos Fogo e Olhos Vermelhos.

Dinho faz reverência ao Senhor Kiko Zambianchi, autor da próxima canção, que o cantor pede que o Araújo cante junto. Falo de Primeiro Erros, regravação do sucesso do Kiko que fez muito sucesso com o Capital no início da primeira década do século. E para entrar naqueles grandes momentos dos shows do Araújo Vianna, a plateia obedece e canta emocionada, com um início à capela e depois entrando a banda nos versos “Se um dia eu pudesse ver meu passado inteiro e fizesse parar chover nos primeiros erros”. Catarse coletiva de arrepiar. Depois de tanta emoção, Dinho pede reverência a Fê Lemos, que tocou junto com o compositor dessa canção no Aborto Elétrico. Lógico que falo de Fátima, composição de Renato Russo, mais uma cantada com vontade pelo Araújo. Teve Veraneio Vascaína, que também se perde um pouco acústica e o super hit dos anos 1980, Música Urbana, que funciona bem no formato. Diga-se de passagem, os irmãos Lemos sempre fizeram um feijão e arroz básico na cozinha da banda, mantém a pegada firme das versões, já Yves parece que sente um pouco largar a guitarra pelo violão, mas sim, é  Kiko Zambianchi e Fabiano Carelli que carregam com maestria nos violões os arranjos desplugados. 

Como as músicas do disco Acústico foram quase todas tocadas, a banda ainda preenche o set com Mais e Como Devia Estar, do disco Rosas e Vinho Tinto, de 2002, tocando também Depois da Meia-Noite, do ano de 2010, e Não Olhe pra Trás, de 2004. Grandes acréscimos em afiadas versões, apesar de como são canções menos populares, deram uma esfriada na galera. Mas que esquentou novamente com o super sucesso Natasha, a que faltava do disco, fazendo o Auditório Araújo Vianna literalmente se acabar dançando e cantando ao som da guria que aos 17 anos fugiu de casa e trocou o nome de Ana Paula por Natasha, fechando com muito brilho o show.

Dinho sempre quer mais e pede uns minutos pra tomar uma água. Então a banda volta e o cantor lembra que hoje seria aniversário do Pit Passarell, baixista do Viper, banda fundamental do metal nacional e irmão do Yves. Pitt virou saudades ano passado, mas deixou pro Capital músicas como O Mundo. A banda então toca mais uma composição dele, a bela Algum Dia. Seguindo no bis, Quatro Vezes Você e antes de fechar o show, Dinho Ouro Preto lembra que foi na rádio Ipanema, aqui em Porto Alegre que tocaram a banda pela primeira vez e uma das suas primeiras apresentações para uma “multidão” foi aqui também, dividindo o palco com o De Falla. Para acabar tocam À sua Maneira, cover do Soda Stereo, do Gustavo Cerati, que pós acústico, em 2002, foi uma das mais tocadas no Brasil e transformou o Capital na banda gigante que é hoje. Como um típico inimigo do fim, Dinho ainda tem tempo, só no gogó, de cantar Por Enquanto, do Renato Russo, com a plateia toda, mesmo com as luzes ligadas, cantando junto, em mais um momento para ficar na memória.

Como sabemos, Capital Inicial é gol certo, Flávio e Fê Lemos, Yves Passarell e Dinho Outro Preto comandam a massa com maestria, desfilando agradáveis canções e sucessos nacionais há mais de 40 anos. Esse Acústico, que foi um elo de duas gerações de fãs, está tendo a homenagem que merece, num competente show que tem a direção musical de Marcelo Sussekind, que dessa vez não fez participações no palco. Show que prova que a banda ainda segue firme e forte, vivendo e revivendo muito o passado de glórias. Às vezes acho que acabam deixando um pouco de criar coisas novas, mas enfim, quem se importa? O povo quer Natasha, Música Urbana e À sua Maneira, e com a simpatia e o talento do Dinho, comandando com seu sorriso contagiante a massa, essas comemorações e revivals ainda vão lotar muitos shows pelo Brasil afora, uma comprovação da força popular do Capital Inicial.

Written By
Lauro Roth