Esse ano já contamos com uma bela de uma continuação desnecessária: T2 – Trainspotting era um filme que ninguém esperava que fosse feito. Mas mesmo assim o diretor Danny Boyle entregou uma ótima continuação que homenageou o tempo todo seu antecessor.
Aqui em Blade Runner 2049, vemos a mesma situação. Uma continuação para uma obra que não precisava ser realizado, Hollywood mostrando seu medo de apostar em ideias novas e colocando um dos diretores mais promissores dessa geração pra requentar um clássico da cultura pop.
O longa começa 30 anos depois do clássico dirigido por Ridley Scott, e acompanhamos K (Ryan Gosling) no papel de um caçador de replicantes, que começa a repensar a sua função diante a humanidade intrínseca nestes “androides” e “ginoides”.
E dentro dessa jornada muito parecida com a questão do primeiro filme, temos um novo jeito de apresentar os conflitos vividos por um protagonista que está entre estes dois mundos.
O maior empecilho que um novo diretor enfrentaria ao realizar uma sequência de Blade Runner, certamente, seria respeitar a estética cyber punk tão cultuada e copiada do filme original e trazer algo novo ao mesmo tempo. E foi o que Villeneuve fez com maestria, trazendo referências do Oriente Médio para trama(algo que ele já trabalhou nos filmes Incêndios e Sicário: Terra de Ninguém), além de usar de elementos muito marcantes do filme original como os guarda-chuvas com cabo neon, tão significativos da obra de 1982. Toda a arte do filme é primorosa, desde os detalhes da alimentação em 2049 até as cenas compostas junto com a fotografia, que sempre dão essa sensação de vastidão e de isolamento.
Além do sucesso em repaginar o desenho de produção do filme, Villeneuve se mostra consolidado como um diretor completo: sem nenhuma falha técnica na obra, com a fotografia e a trilha sonora ajudando a compôr mais uma vez a assinatura de seu trabalho, o diretor traz um ritmo muito cadenciado, assemelhando a atmosfera mais ao seu próprio cinema do que ao universo de Blade Runner.
As atuações são primorosas, Ryan Gosling faz a cara de mórbido de sempre e leva os 165 minutos de filme com uma facilidade incrível. A pouco conhecida atriz Ana de Armas, entrega a Joi, a melhor personagem do filme, uma atuação maravilhosa que sustenta a ótima surpresa que foi a parceria entre ela e o protagonista. Dave Bautista, Robin Wright e Mackenzie Davies também passam longe de decepcionar em seus papéis, e faz com que toda a dinâmica entre os atores nos prenda de forma memorável ao filme.
O grande problema dessas relações, são os vilões Luv e Niander Wallace (Sylvia Hoeks e Jared Leto). Ela é a cópia de uma máquina de matar clichê de centenas de filmes de ação que vemos por aí, destoando em algumas cenas de toda a proposta do filme. Já o personagem de Jared Leto, sempre que aparece, sai da penumbra, com frases épicas e vilanescas, lembrando um pouquinho o Dr. Evil dos filmes do Austin Powers, devido a tamanha pieguice em que ele aparece em algumas ocasiões.
Mas o fato é, que este novo filme, por mais distante de um Blockbuster que possa parecer por conta de seu ritmo, veio para abrir as possibilidades de inúmeras histórias dentro do universo imaginado primeiramente por Philip K. Dick em seu livro Andróides Sonham com Ovelhas elétricas?. Se antes, parecia desnecessário uma continuação para a história protagonizada por Harrison Ford, agora, sequências parecem inevitáveis. Independente do sucesso que este filme venha a ter, está claro que a história dos Replicantes e dos Blade Runners não acaba aqui.
Blade Runner 2049 traz uma história surpreendente e decisões muito acertadas por toda a equipe de produção, com destaque para os detalhes de figurino e cenário. A relação entre os personagens acontece de forma muito fluida, e acontece alguns deslizes ao deixar os vilões tão evidenciados e planos durante toda a trama, mas nada que afaste a experiência magnífica que é assistir a essa obra numa boa tela de cinema. Além de respeitar muito mais a obra literária onde foi inspirada o primeiro filme.
Nota: 8,5 de 10
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