Por: Franz Lima.
Bio é uma grata surpresa neste Festival do Rio. Estive ontem na première para ver o filme e ouvir diretor e elenco sobre a obra. O evento foi coroado com a presença do diretor Carlos Gerbase e vários astros do elenco, incluindo Marco Ricca, Branca Messina, Werner Schunemann, Rosanne Mulholland, Luciano Mallmann, Fernanda Carvalho Leite., Thainá Gallo e Sheron Menezzes… e a presença especial de Matheus Nachtergaele que prestigiou essa première.
O longa tem a competente direção de Carlos Gerbase que também assinou o roteiro. A narrativa flui em forma de um documentário feito através de depoimentos de parentes de um homem com uma característica incomum: ele não consegue mentir. Diante de um mundo que não compreende tal característica, sua vida é contada desde o nascimento em 1959 até sua morte em 2070.
O roteiro privilegia a imaginação do espectador. Há poucas cenas onde os atores interpretam através do gestual. Em geral, o que assistimos são atores e atrizes que depõem sobre a vida de nosso personagem central. Eles são parentes e amigos do homem e a história flui através de mais de um século. O interessante nisso é que a ausência de cenas ditadas dá margem para que nós teçamos a trama através de nossa criatividade, tal como ocorre durante a leitura de um livro. Isso foi de uma genialidade absurda e deu muito certo no filme.
O começo de tudo.
O nascimento do bebê já dá indícios de que sua vida será diferente. Ele tem pais que não queriam mais uma criança e usam dos meios contraceptivos da época, mas preferem contar com a eficácia da tabelinha. Essa audácia (em tempos de camisinha e D.I.U.) tem como fruto o menino. Seus irmãos já são adolescentes e irresponsáveis ao extremo, porém sortudos, já que sua ação impensada coloca o bebê diante de uma vizinha carinhosa.
Essa parte é caracterizada por algumas das raras cenas que não envolvem os depoimentos, inclusive as do carnaval de época de 1960.
Passamos para 1967 e já somos apresentados a uma das características mais marcantes do garoto: a impossibilidade de mentir. Essa característica será marcante para o resto de sua vida e decretará momentos de alegria e tristeza. Fiquem atentos!
Bio marca por usar de uma linguagem incomum. Os atores não representam os papéis que lhe foram conferidos, não há interação visível. Na verdade eles descrevem os fatos e isto ganha corpo com o uso da imaginação do espectador. Por mais estranho que possa parecer, essa narrativa marca a mente de quem vê o filme, além de ser um excelente exercício para a criatividade.
E essa linguagem diferenciada ganhará peso ao final do longa, já que Carlos Gerbase criou uma narrativa gráfica inesquecível sobre a vida humana e suas relações.
É por ser incomum e extremamente inteligente que Bio já é um dos melhores filmes nacionais do ano.
Previsões.
O futuro é a base para esse documentário. Bio parte do princípio de que já fizemos contato com vidas alienígenas e também há a possibilidade de viajar no tempo. É por intermédio da viagem no tempo que o entrevistador (tão oculto quanto o personagem principal) consegue coletar os depoimentos das pessoas relacionadas ao protagonista pouco após os fatos terem ocorrido.
Há partes que remetem ao maravilhoso O Homem Bicentenário, onde somos submetidos a uma enxurrada de emoções, porém sem os recursos visuais da obra baseada no conto de Isaac Asimov, o que destaca a qualidade das interpretações e da roteirização e direção.
Vagando entre 1959 e 2070, Gerbase conseguiu conduzir os atores por uma viagem que oscila entre a poesia e a ficção-científica, com breves passagens entre o drama e a abordagem de nuances da personalidade e do comportamento humanos. Conforme o filme avança e descobrimos o passado do protagonista, somos submetidos a uma análise de nós mesmos e da vida que vivemos até o momento derradeiro. Reflexivo, inspirador e marcante, Bio é uma obra imperdível.
Destaque para a cena final, responsável por arrancar aplausos da plateia.
A sessão de gala.
O NoSet recebeu o convite para cobrir a sessão de gala do filme no Cine Odeon. A ocasião foi brindada com a presença de atores e pessoas responsáveis por Bio, além de outros veículos da imprensa.
Fomos recebidos com muita atenção por todos os envolvidos no filme e tivemos o privilégio de ouvir algumas palavras do próprio diretor e do elenco.
Ao final da apresentação, o filme foi aplaudido por todo o público e imprensa. Foi impressionante ver a alegria e o orgulho dos integrantes do elenco e do diretor nessa ocasião.
“Bio” chega ao Rio depois de uma aclamada passagem pelo Festival de Gramado, em que recebeu os prêmios de Melhor Filme pelo Júri Popular, Prêmio Especial do Júri pela Direção de Atores e de Melhor Desenho de Som. No longa, a história de um homem que viveu por 110 anos é narrada por meio de entrevistas com as pessoas com quem ele conviveu ao longo de sua trajetória.
Produção de Prana Filmes, o filme tem previsão de chegar aos cinemas no primeiro semestre de 2018. Nós, do Noset, recomendamos com ênfase para que assistam a essa grata surpresa do cinema nacional.
Sinopse
O que aconteceria se um documentarista pudesse viajar no tempo e captar depoimentos sobre a vida de alguém ainda no calor dos acontecimentos, e não com aquele teor nostálgico de quem se recorda de fatos enterrados há muitos anos no passado? “BIO” responde a essa pergunta, propondo ao espectador uma narrativa fragmentada, mas muito emocional, sobre a longa e atribulada existência de um biólogo, que atravessa a segunda metade do século 20 e mergulha no século 21 com uma sede imensa de conhecimento sobre a vida em nosso planeta. Ou até fora dele.