Batman: Noites de Gotham. Os bastidores de uma fria metrópole.
Texto: Franz Lima.
Definitivamente, esta não é uma história do Batman, mas uma sobre as vidas dos cidadãos que estão protegidos (ou não) pelo manto do Morcego.
Publicada originalmente entre março e junho de 1992, a obra só apareceu no Brasil em 1994 pela editora Abril. Apesar do atraso, vale lembrar que algumas edições demoravam até quatro anos para termos acesso. Logo, essa até que não atrasou tanto…
E valeu a espera.
Batman: Noites de Gotham é uma revista muito diferente das que estamos acostumados. A história é excelente e corajosa, principalmente para os padrões da época. Excelente por abordar peculiaridades das vidas íntimas de alguns dos moradores de Gotham. Corajosa por ter o Batman como um coadjuvante de luxo.
Mas, afinal, do que trata a revista?
Ela é a compilação de quatro histórias de pessoas comuns, cidadãos de Gotham City, que vivem a realidade de uma cidade grande e violenta e, mesmo assim, continuam em suas rotinas, buscando sempre alcançar seus objetivos. O que elas têm em comum além de morarem na mesma metrópole? Seus destinos irão se cruzar de forma dramática no clímax da revista.
Cada um dos personagens principais tem um drama a ser descoberto.
Rosemary é uma vendedora de Donuts, cujo amor secreto por um homem jamais é declarado. Esse amor irá deturpar a mente dela aos poucos. Rosemary é uma personagem interessante por mostrar, corajosamente, o drama da obesidade e da solidão. Reparem que há passagens onde ela se vê magra e todas as mulheres são gordas.
Jennifer é uma mulher moderna que busca também alguém para amar, mas se esconde por trás de suas ações que denotam independência. Ela tem um amigo de viagem chamado Jimmy, porém ela não acredita em amizade entre homem e mulher, algo que gera um clima tenso entre eles, apesar das afinidades.
Dio é um ex-capanga do Pinguim, ex-presidiário e em condicional. Sua vida pode ser reconstruída se ele não se deixar afetar por intrigas e medos. Dio é o típico cara que oscila entre o bem e o mal. Infelizmente, isso pode atingir sua esposa e filho se as dúvidas não forem esclarecidas a tempo.
Por fim temos o casal Joel e Emma Mayfield. Idosos, eles recebem a péssima notícia da morte próxima de Joel por uma doença incurável. Nesse instante, dispara no idoso a busca por uma solução para o desamparo que sua esposa deverá encarar brevemente.
Todas essas vidas se cruzam em momentos distintos na narrativa, algo feito com maestria pelo escritor John Ostrander (O Espectro, Esquadrão Suicida, Star Wars Legacy, Grim Jack) que tem talento de sobra para roteirizar um grande filme.
Outro ponto positivo da revista está nos desenhos de Mary Mitchell (Batman Noites de Gotham II, Elric, Manhunter) cujos traços reforçam as expressões faciais e mostram domínio da arte.
O único ponto fraco nessa edição ficou por conta da colorização. Compreender que certas cenas se passam à noite não foi uma tarefa fácil e, acreditem, isso era algo comum em muitos quadrinhos das décadas de 80 e 90. Aliás, seria magnífico se a +Panini Brasil Oficial tentasse relançar essa edição em formato americano e colorizada com as técnicas atuais. Um grande presente para os fãs do Morcego e admiradores das boas narrativas.
Seja como for, Noites de Gotham é um achado. Ter em mãos uma revista com conteúdo adulto (não confundir com leviano) e abordagens de temas sérios como a vida dos ex-presidiários, doenças terminais, a disseminação da AIDS e a loucura provocada pela solidão é, no mínimo, magnífico.
Ao final da narrativa, o leitor irá se deparar com a solução dos dramas de um jeito inesperado, porém convincente, a qual irá unir as vidas dessas pessoas à do Batman… e de Bruce Wayne.
Recomendação total!
Agora, fiquem com as capas originais (publicadas em quatro edições).